domingo, 13 de novembro de 2011

ENCORAJAMENTO A UMA VIDA CRISTÃ MADURA: A RESTAURAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO SERVIÇO CRISTÃO


A igreja de Tessalônica foi fundada pelo apóstolo Paulo durante sua segunda viagem missionária (Atos 17), contudo, segundo alguns estudiosos, o tempo em que passou evangelizando a mencionada região foi breve e não teria excedido um mês, pois somente três sábados são mencionados no livro de Atos (At 17:2). Outros entendem que o apóstolo teria passado mais tempo fazendo um trabalho fora das sinagogas, tendo em vista que a maioria da igreja seria formada por gentios (= não-judeus) (1 Ts 1:19 e 2:14-16), sendo esta última a corrente mais aceita.
         Com o objetivo de consolidar o trabalho já realizado entre os tessalonicenses para que as sementes espirituais plantadas não morressem (1 Ts 3:5), os crentes atingissem a maturidade na vida cristã e se tornassem verdadeiros discípulos de Cristo (1 Ts 1:6), Paulo escreve a carta de 1 Tessalonicenses, encorajando os convertidos a viver a vida cristã em santidade (1 Ts 3:2), nos frutos do Espírito Santo e no serviço da obra de Deus.
         A seguir, far-se-á uma síntese de alguns princípios que a epístola contém, os quais, se vividos por nós, transformarão a nossa vida, levando-nos a um patamar superior de fé e consistência na vida cristã.
1- Princípios relativos ao serviço cristão:
1.1- A importância de ganhar pessoas para Jesus não somente em Palavra, mas em Poder do Espírito Santo e em firme convicção de fé que as conduza para o caminho da salvação (1 Ts 1:5, 7): o cristão tem de viver uma vida que ultrapasse a Palavra falada, atingindo um nível de intimidade com Deus que possibilite desenvolver o fruto e os dons do Espírito Santo para o serviço da obra do Senhor, ou seja, trata-se da importância de se construir um bom testemunho e alcançar a essência do cristianismo, que é o amor, para impactar vidas para o Senhor e ser sensível a voz e ao clamor do coração de Deus pelos perdidos para os resgatar.   
1.2- A importância do crescimento espiritual através da instrução contínua na Verdade: Paulo sabia que as sementes plantadas poderiam morrer e, por isso, escreveu a carta para consolidar e maturar o trabalho já realizado, relembrando os crentes das verdades espirituais já ensinadas e esclarecendo aquelas que ainda tinham que aprender para que não caíssem no engano do inimigo (1 Ts 3:5; 5:14). As verdades espirituais precisam ser relembradas e “inculcadas” em nossa mente e guardadas em nosso coração a fim de que possamos praticá-las e sermos transformados pelas mesmas (Dt 6:6-8). O apóstolo sabia que a vida cristã requer contínuo investimento, cuidados e instrução sólida para que o discípulo de Cristo alcançasse a maturidade e a vivência necessárias para caminhar em santidade e abandonar os velhos ídolos e suportar as tribulações e perseguições (1 Ts 1:6, 8). Enviou Timóteo para realizar a obra de fortalecimento da fé (1 Ts 3:2,5). Paulo também fala da importância da honra aos guias espirituais que realizam com desprendimento a obra do discipulado (1 Ts 5:12-13). O discípulo de Jesus é instruído pelo corpo de Cristo, a igreja, um corpo dinâmico, em que os diversos componentes individuais, utilizando-se dos dons que o Espírito Santo concedeu a cada um, edificam o todo.
1.3- O serviço cristão com empenho e dependência do Espírito Santo sempre gera discípulos para o campo da obra do Senhor: o trabalho que Paulo fez, embora árduo e sob tribulação, mesmo sendo de pouca duração, foi suficiente para que o Espírito Santo de Deus formatasse discípulos que reproduziram a vida de Jesus e evangelizaram a região da Acaia e da Macedônia, pelo que há a necessidade de o discípulo de Jesus receber a Palavra no espírito, não como um ensino de homens, mas abrindo o coração para receber a Verdade que liberta e deixar que o Espírito Santo opere eficazmente (1 Ts 2:13). Esse é o discipulado por excelência, qual seja aquele em que o discípulo chega a um nível de maturidade em que ele consegue receber as orientações do próprio Espírito Santo para ser conduzido nas decisões que necessita tomar em sua vida, sendo não mais um dependente de outro para fluir em Deus, mas interdependente com os seus semelhantes para realizar, como servo valoroso, os objetivos do Reino de Deus.
Não desprezo a necessidade do discipulado individual e do aconselhamento, em que a pessoa é acompanhada individualmente a partir de suas necessidades de crescimento específico, muito pelo contrário, incentivo-o, entretanto, animo-me a dizer que o trabalho de discipulado é muito mais do que isso, referindo-se a uma obra de propagação e amadurecimento do Evangelho no coração das pessoas que envolve a participação dinâmica de todo o corpo de Cristo, cada um utilizando seu dom específico para que cada um e todos sejam edificados, isto é, abrange, por exemplo, a formação de pastores e obreiros, a formação de ministérios, a formação de profissionais liberais, de empresas privadas e servidores públicos, etc., com a finalidade de estabelecer os princípios do Reino de Deus nas diferentes áreas da sociedade, ou seja, nas artes e entretenimento, na família, na mídia e na comunicação, no governo e na política, na ciência e na educação, na economia e nos negócios, e não só dentro da igreja (Ef 4:11-16), removendo nestas áreas os sistemas pelos quais o mundo atua, promovendo os padrões do Senhor (cf. GUILLEN, Fernando. Sete Montes. Belo Horizonte: Fernando Guillen, 2009, p. 23-39).
Os ensinamentos do Apóstolo Paulo são claros em apresentar a igreja como o corpo de Cristo, um corpo em que cada membro é dotado de dons para a edificação de todos. Há quatro listas de dons espirituais no Novo Testamento, em 1 Coríntios 12, Romanos 12, Efésios 4:7-12, 1 Pedro 4:10-11, contudo, nosso Senhor é um Deus de multiforme graça, não se restringindo os dons espirituais ao rol contido nestas listas.
Veja o que diz 1 Co 12:4-7:
4 Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. 5 E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. 6 E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. 7 A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum.
A igreja é um corpo dinâmico, no qual há o desempenho de vários ministérios com a finalidade de levar todos os cristãos a uma fé madura e sólida, sendo o Espírito Santo o doador dos dons espirituais segundo sua soberana vontade, havendo, portanto, uma unidade na diversidade, o que nos leva a inferir, diante da clareza do texto acima, que nenhuma congregação pode ficar engessada a partir de uma única metodologia de trabalho e evangelização, devendo, em verdade, possibilitar-se a riqueza da pluralidade e variedade dos serviços tantos quantos são os dons espirituais. E mais, a congregação também não pode ficar engessada com a ideia tradicional de um pastor sozinho e sobrecarregado que concentra e desempenha todos os serviços e ministérios. O mais acertado a se dizer é que o ministério da liderança de uma congregação é trabalhar, investir e estimular o exercício dos dons espirituais de cada um, visando o proveito comum, a maturidade do corpo. Neste sentido, trago a colação as palavras de John Stott:
A ideia tradicional que temos de uma igreja local é a de um pastor sobrecarregado, talvez ajudado por um pequeno núcleo de colaboradores dedicados, enquanto a maioria dos membros dá pouca ou nenhuma contribuição à vida ou ao trabalho da igreja. Isto nos lembra mais a imagem de um ônibus (com um motorista e muitos passageiros sonolentos) do que a de um corpo (em que todos os membros são ativos, cada um contribuindo com uma atividade especial para a saúde e a eficiência do todo). Na verdade, eu não duvido de que uma falsa imagem da igreja é uma das principais razões do crescimento do “movimento carismático”. Este movimento é um protesto contra o clericalismo (onde obreiros de tempo integral ocupam o espaço dos leigos), e uma tentativa de liberar os leigos para os papéis de liderança responsável para os quais Deus os dotou (Batismo e Plenitude do Espírito Santo. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 110).
E, em outra passagem, assim se manifesta:
Os pastores são chamados para serem instrutores, e isto de forma alguma quer dizer que eles devem reservar com ciúmes todos os ministérios que devem ser exercidos para si. Pelo contrário, seu ministério é produzir mais ministério, incentivando outros a exercerem os dons que Deus lhes deu. Somente, então, o outro objetivo será alcançado, que é, novamente, “a edificação do corpo de Cristo”, até que atinja sua unidade e maturidade completas, a “medida da estatura da plenitude de Cristo [Ef 4:12-13] (Op. cit., p. 121).      
A diversidade dos dons e serviços, além de mostrar que a congregação não pode ficar engessada a uma única estrutura rígida de uma metodologia de trabalho, exorta-nos de que não podemos caminhar sozinhos, de que precisamos um do outro e ninguém pode ser tido como descartado, até mesmo porque os dons são fruto da graça de Deus e a graça por natureza é inclusiva (Rm 12:6), além do que a igreja não deve ficar refém de uma hierarquia rígida de liderança em cadeia, mas os líderes e membros devem trabalhar em conjunto para edificar a todos com seus diferentes dons. Ninguém pode achar que tem condições de lidar sozinho com todos os que tiverem sob seus cuidados e tratá-los como uma propriedade particular de seu ministério, mas ser humilde o suficiente para reconhecer que há tipos de serviço que não pode desempenhar e precisará de outras pessoas para ajudá-lo, visando o bem comum. Hoje, a necessidade mais urgente de alguém requer que essa pessoa seja trabalhada por uma pessoa com um determinado tipo de dom, mas, amanhã, a pessoa pode e deve amadurecer e talvez precise ser trabalhada por outra pessoa com outro tipo de dom, tudo segundo o propósito que Deus tem para aquela vida e, assim, o Senhor vai levantando as pessoas para atuar de maneira multiforme, tendo em vista a existência de múltiplas necessidades e o aperfeiçoamento do corpo, de modo que acabamos sendo e, em verdade, devemos ser “ajudantes temporários do Espírito Santo” na vida das pessoas, até mesmo porque é com ciúmes que o Espírito de Deus anseia em ter comunhão conosco (Tg 4:5). Não somos donos de ninguém, apenas instrumentos do Espírito Santo para edificar e amadurecer o corpo e suprir uma necessidade específica, segundo os decretos de Deus, que distribui os dons da maneira que lhe apraz.
No que tange ao desempenho do serviço do Senhor, a Palavra também nos diz que devemos buscar com zelo os melhores dons (1 Co 12:31). E quais são os melhores dons? Qual o critério para dizer quais são os melhores dons? A própria palavra responde: “Assim também vós, já que estais desejosos de dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja” (1 Co 14:12 - ARC). Os melhores dons são aqueles que mais edificam, dentre os quais posso citar o amor acima de todos, a profecia e os dons de ensino (cf. STOTT. Op cit., p. 117).
Paulo dava uma ênfase ao culto inteligível para todos e criticava o uso infantil do dom de línguas na congregação da igreja de Corinto (1 Co 14), bem como vemos uma grande preocupação do apóstolo por todas as suas cartas na questão do ensino da Palavra como algo fundamental para que o corpo de Cristo se desenvolvesse de forma sadia. Moisés também tinha esta preocupação, pelo que disse:
E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos; e as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas (Dt 6:6-9 - ARC).
         E o que dizer de Jesus que ensinava de forma simples e, ao mesmo tempo, profunda com as suas parábolas, atitudes e milagres, os quais eram verdadeiras parábolas dramatizadas que traziam as essências do Reino de Deus para o coração das pessoas.
         O ensino deve ser um dos grandes pilares de uma congregação, sendo que, nos dias de hoje, pela falta ou insuficiência de instrução, o corpo de Cristo fica subnutrido e decadente, proliferando-se todos os tipos de desvio e heresia no meio da igreja, bem como a falta de solidez e maturidade na fé das pessoas, de modo que elas possam discernir as coisas através da Palavra e somente reter o que é bom (1 Ts 5:20-21).
A profecia também é um dos melhores dons, segundo 1 Co 14. Não pode faltar em uma congregação a genuína profecia que edifica o corpo como um todo, a qual Abraão Kuyper assim expõe: “Por profecia, Paulo entendeu pregação inspirada, em que o pregador se sente ungido e impulsionado pelo Espírito Santo” (citado por STOTT. Op cit., p. 106). A palavra nos exorta a não desprezarmos as profecias, mas devemos pô-las à prova, retendo apenas o que é bom (1 Ts 5:20-21).
Animo-me também a dizer que temos de anelar e interceder para que Deus nos capacite com os dons de cura. Em 1 Co 12:9, o apóstolo Paulo fala em “dons de cura” no plural, o que significa que quando se fala de cura, não se refere apenas a cura do físico, mas também a cura do espiritual e do psicológico, das emoções, das memórias penosas, dos traumas, das raízes de amargura e de todas as doenças psicossomáticas que delas advém, tais como os transtornos de ansiedade, a depressão, entre outros. Hoje, muitas pessoas necessitam de um nível de cura profunda em virtude dos relacionamentos partidos, disfuncionais e destrutivos, bem como de todo tipo de abuso, seja ele verbal, físico ou sexual, que provém da destruição e desagregação das famílias, o que causa uma série de deformidades na personalidade e emoções do ser humano. Temos que orar ao Espírito de Deus para que nos capacite com conhecimento e sabedoria para poder ajudar as pessoas de forma adequada, bem como preparar pessoas com esse ofício específico, tais como psicólogos, conselheiros, psiquiatras, obreiros para sarar essas pessoas nesse processo de perdão e cura, que, no fundo, nada mais é do que a renovação da mente por excelência (Rm 12:1-2). Bem como, temos de acreditar no poder da confissão dos pecados e da oração do justo nesse processo de cura: “Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tg 5:16) (neste sentido, pode-se consultar o excelentes trabalhos de David Seamands, tais como A cura das memórias. 2 ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2007; A cura para os traumas emocionais. Venda Nova: Betânia, 1984; O poder curador da graça. São Paulo: Vida, 2006, bem como os trabalhos de Leanne Payne, principalmente o livro Imagens partidas. São Paulo: SEPAL, 2001). Em intimidade com o Espírito Santo em oração, enquanto ministramos a outra pessoa em nome de Jesus e, enquanto o ouvimos, ele nos dá a “palavra da sabedoria”, a “palavra do conhecimento”, o “discernimento de espíritos”, bem como a fé sobrenatural e tudo o que é necessário para ver a pessoa sarada, purificada e liberta (cf. PAYNE. Imagens partidas, p. 179). Somente o Espírito Santo pode nos capacitar para manifestar a glória de Deus nesse nível de cura e, para isso, precisamos não só acreditar que Ele pode operar prodígios e maravilhas, mas também depender dEle.
2- Princípios relativos à intercessão:
2.1- A obra de gerar discípulos para Cristo não pode ser desacompanhada de oração incessante, persistente. É papel da igreja como um corpo dinâmico, não só de um discipulador, líder ou conselheiro de forma isolada, de um ministério de intercessão, mas de todo o corpo de Cristo no sentido de fazer o discípulo de Jesus e todo o corpo de Cristo e suas necessidades lembradas diante do Trono do Senhor para que ganhemos no espiritual a concretização da obra de Deus no caráter do discípulo de Jesus (1 Ts 1:2-3), bem como exercendo os dons e serviços, sob a dependência do Espírito Santo, para atingirmos esse fim.
Que a igreja do Senhor possa anelar e interceder para que o Espírito Santo faça essa obra em nós, capacitando-nos para romper a barreira da incredulidade e mergulhar no que o Senhor quer fazer especificamente em cada congregação, capacitando-a com os dons e serviços que Ele soberanamente quer conceder e sob sua dependência. E aí, atrevo-me a dizer que a igreja nos dias de hoje tem dificuldade em compatibilizar a sua “teologia” e práticas com a grande verdade da soberania de Deus e as estratégias de trabalho e evangelização destas congregações acabam sendo “meros eventos” que tentam tapar a glória de Deus, da mesma forma que alguém tenta tapar o sol com a peneira.
2.2- A obra de Deus sempre enfrenta a oposição de satanás (1 Ts 2:18), daí a necessidade da intercessão a fim de que conquistemos a vitória e continuemos edificando o corpo de Cristo na terra, suprindo as necessidades dos crentes, sobretudo as espirituais (1 Ts 3:10).
3- Princípios relativos à liderança:
3.1- A liderança é uma obra de encorajamento do discípulo para que este chegue a um nível de maturidade do caráter de Cristo. Discipulado não é uma obra de dominação ou manipulação, realizada com a imposição de medo, ameaças ou punições para que os liderados façam o que queremos, mas uma obra em que somos canais da graça do Senhor para que o crente encontre a liberdade e verdadeira alegria de ser filho de Deus e tenha sua fé fortalecida (1 Ts 3:2). Liderança é a “habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum” (HUNTER, James C. O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004, p. 25). Influenciamos discípulos para Cristo, dando um bom testemunho de poder e vida de Deus, assim como o apóstolo Paulo (1 Ts 2:9-10).
3.2- O trabalho da liderança requer as características do amor de Jesus: paciência (1 Ts 5:14), bondade (1 Ts 5:15), humildade, respeito para com as pessoas, abnegação (= olhar os outros a partir das necessidades específicas delas de forma desinteressada e desprendida) (1 Ts 2:7-11), perdão, honestidade (= transparência), compromisso (1 Ts 2:9), coragem (1 Ts 2:2) (obs: para aprofundar o tema do amor e a liderança, consultar HUNTER, James C. Op. cit., p. 72-96).
3.3- A liderança não visa agradar a homens, mas a Deus (1 Ts 2:4-6). Temos que nos libertar do vício de agradar a todos, reforçando a nossa identidade em Deus para que possamos depender integralmente dEle em espírito, alma e corpo (1 Ts 5:23-24). Temos de mudar a nossa autoimagem (= o conceito que temos de nós mesmos em nossa mente e no nosso coração) para que o nosso valor como pessoa não dependa da opinião dos outros, mas da Verdade que Deus fala a nosso respeito. Isso nos liberta do sistema de valor com base no mérito (= se acerto e dou fruto, sou valioso; se erro, falho, peco, sou desvalioso;  essa é uma mentira fabricada no quinto dos infernos, mas que infelizmente condiciona e aprisiona a mente de muitos), do chamado “evangelho do desempenho” e nos deixa livre para experimentar a liberdade da graça de Deus.
3.4- Liderar é servir e não ser servido (1 Ts 2:2, 8-9). A liderança não é um privilégio, mas um encargo, um dever. Liderança não é um privilégio de ostentar um título, de ser tratado como um “marajá espiritual”, mas de desempenhar dons e ministérios para a edificação, em amor e verdade, da igreja, levando-a para a maturidade.
4- Princípios de vida cristã:
4.1- Ter identidade em Cristo, reproduzindo em nossas vidas as virtudes de Deus (1 Ts 1:6), ou seja, crescer no fruto do Espírito.
4.2- As dificuldades (= tribulações) são parte essencial da vida com Deus e Ele as usa para provar e aprovar a nossa fé, para que possamos cumprir a nossa missão de trazer os valores do Reino de Deus, fazendo discípulos para Cristo (1 Ts 2:1, 4 e 3:3).
4.3- A força da tribulação é quebrada pela alegria sobrenatural que o Espírito Santo produz em nós como fruto (1 Ts 1:7).
4.4- A necessidade de um comportamento santo, reto, inclusive livre das imoralidades sexuais (1 Ts 4:1-8).
4.5- O mandamento do amor (1 Ts 4:9-10).
4.6- Deus quer que tenhamos uma mente purificada, livre de culpa (1 Ts 3:13): fala da necessidade de receber o perdão de Deus em nosso coração e não deixar que os erros do nosso passado determinem a nossa caminhada presente e futura. Se Deus nos perdoou, ninguém, nem mesmo nós mesmos, pode nos condenar. Temos de receber o perdão de Deus e nos perdoar e caminhar na liberdade que o Espírito Santo quer nos conceder.
4.7- Deus quer que vigiemos para que não caiamos em pecado e na obra do Tentador (1 Ts 3:5 e 5:6).
4.8- Deus quer façamos uso da armadura espiritual que Ele nos concede para que possamos prosseguir na vida cristã em união com Cristo e herdar a salvação (1 Ts 5:8-11).    
4.9- Diversos deveres: 1 Ts 5:12-28:
12 Ora, rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós, presidem sobre vós no Senhor e vos admoestam; 13 e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obras. Tende paz entre vós. 14 Exortamo-vos também, irmãos, a que admoesteis os insubordinados, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos. 15 Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, uns para com os outros, e para com todos. 16 Regozijai-vos sempre. 17 Orai sem cessar. 18 Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. 19 Não extingais o Espírito; 20 não desprezeis as profecias, 21 mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom; 22 Abstende-vos de toda espécie de mal. 23 E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. 24 Fiel é o que vos chama, e ele também o fará. 25 Irmãos, orai por nós. 26 Saudai a todos os irmãos com ósculo santo. 27 Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os irmãos. 28 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco.   
5- Princípios de escatologia (= doutrina das últimas coisas): “A ressurreição dos mortos em Cristo e o arrebatamento dos vivos” (1 Ts 4:13-18) e “O Dia do Senhor” (1 Ts 5:1-11).
Tanto o ensino do Velho Testamento, quanto o do Novo Testamento, são muito claros quanto à existência do chamado “Dia do Senhor”, um dia em que Deus virá para julgar vivos e mortos, um dia que marcará a separação do trigo e do joio, dos crentes e dos incrédulos, dos salvos em Cristo e dos não salvos, um dia que marcará o fim da velha criação e o início da nova criação redimida em Cristo e também do cumprimento da pena já imposta contra satanás e seus anjos, bem como o castigo eterno dos incrédulos. Este ensino é uma verdade central do Evangelho de Jesus, a respeito de seu retorno, de sua segunda vinda, como uma das etapas da concretização da obra já conquistada e consumada na cruz, o que requer de nós preparação e vigilância para que não sejamos pegos de surpresa (1 Ts 5:6-11).
A ponderação que se pode fazer quanto aos dias de hoje é que o “evangelho” em grande parte propagado é “manco”, uma vez que pouco se fala na segunda vinda de Cristo, uma verdade fundamental esquecida e negligenciada. Vive-se como se este fato nunca fosse se consumar ou então que acontecerá em um tempo muito distante, passando-se em grande parte a se propagar um “evangelho” que visa satisfazer as necessidades imediatas dos homens aqui na Terra, em que tudo é canalizado para trazer prosperidade material ao homem aqui e agora.
Mesmo naquelas congregações em que não há uma ênfase desesperada na prosperidade material, parece que se vive, em grande parte, um evangelho “triunfalista”, preso e engessado com as ideias de crescimento numérico da igreja, como se isso fosse um sinal de avivamento, ignorando-se por completo os sinais que antecedem a vinda de Jesus.
O ensino do retorno de Jesus e da ressurreição dos mortos para julgamento, como já dito, é uma verdade essencial, é algo concreto que deve ser acolhido como objeto de fé e que exige de nós uma resposta madura no sentido de sermos sóbrios, vigilantes, constantes de caráter nas verdades do Evangelho, perseverantes em cuidar com zelo e amor do nosso relacionamento com Deus, trazendo sobre nós a necessidade de nos examinarmos a nós mesmos constantemente, levando-nos ao arrependimento do que for necessário.
Este ensino requer também de nós uma fé madura no sentido de que não devemos canalizar os nossos esforços nas coisas e nos prazeres deste mundo, mas que a nossa mentalidade deve se afinar com os valores e o tempo da eternidade.
Exige-se de nós o discernimento dos tempos nos quais vivemos. As profecias bíblicas a respeito dos últimos tempos estão se cumprindo e não podemos ser alheios a isto. O amor de muitos está se esfriando por causa da multiplicação da iniquidade (Mt 25:12), os falsos mestres estão se multiplicando com as suas falsas doutrinas, as guerras, as catástrofes e a cada dia as marcas do anticristo serão mais evidentes (obs: para aprofundar este tema, leia 2 Tessalonicenses).
Por fim, esta doutrina deve trazer ao nosso coração um grande consolo no sentido de que um dia viveremos uma vida de comunhão plena com Deus em um novo corpo glorificado e livre para sempre das torturas do pecado e da separação que ele provoca.   
Que a cada dia, leitor, você possa ser sóbrio e vigilante, sendo edificado pela verdade que liberta, provando as profecias, apenas retendo o que é bom, sendo capacitado e consolado pelo Espírito Santo de Deus para semear e colher uma fé madura, bem como desempenhando os dons e ministério que o Senhor na sua soberana graça quer lhe conceder.

Pablo Luiz Rodrigues Ferreira
rugidodaverdade.blogspot.com
pablolrferreira@hotmail.com
             

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