domingo, 28 de abril de 2013

A MENTALIDADE DA GRAÇA NAS RELAÇÕES DE AMIZADE



Hoje, vivemos numa era na qual nós somos avaliados pelo que temos e pelo que fazemos, ou seja, vivemos submergidos numa mentalidade de desempenho, na qual o mais importante são nossas conquistas e posses, de tal maneira que nos convertemos em “fazeres humanos”, tendo nos afastado da essência do “ser humano”, que é aceitar o semelhante pelo que ele é e estabelecer vínculos de afetividade, inclusive de amizade, que validem nossa existência por médio da satisfação dos sete desejos fundamentais de nosso coração: o desejo de ser escutado e compreendido, afirmado, abençoado, estar seguro, ser tocado, escolhido e aceitado.
O ser humano foi criado por Deus de tal maneira que ele precisa afetivamente de seu semelhante para se desenvolver por completo e, por certo, isto inclui ter família e amigos; entretanto, a tragédia deste tempo é que não aceitamos as pessoas por quem elas são. Nós somos tão impregnados desta mentalidade de desempenho, marcada pela competição e pelo capitalismo, que não sabemos muitas vezes, por exemplo, receber um presente de outra pessoa sem pensar que ela quer algo em troca, que quer obter alguma vantagem. Ninguém pensa que damos um presente porque queremos nos vincular com a outra pessoa em virtude de sua personalidade, qualidades positivas, companhia, amor, carinho, segurança, afirmação que ela expressa. Temos, por consequência, uma mentalidade marcada pela desconfiança que nos afasta de conhecer e ser conhecido pela outra pessoa em profundidade e, por isso, esta é uma ferida cultural global que temos que destruir para ter saúde emocional.
No entanto, a linguagem que traz saúde emocional é a linguagem da aceitação incondicional, ou seja, aceitar as pessoas por quem são, independente de suas conquistas, posses ou pelo que possam fazer em nosso favor. Esta, por exemplo, era a linguagem de Jesus Cristo, que resumiu toda a verdadeira religião em dois mandamentos positivos: “ama ao Senhor teu Deus com todo teu coração, com todo teu ser e com toda tua mente” e “ama a teu próximo como a ti mesmo” (Mateus 22:37-39, Nova Versão Internacional).
Podemos não concordar com tudo o que muitas pessoas fazem e pensam, mesmo nossos amigos, familiares ou pessoas que nunca vimos, mas podemos aceitá-las pelo valor de serem preciosas como “seres humanos”. Devemos semear amor porque certamente colheremos amor e seremos transformados por ele nas relações interpessoais pela satisfação dos sete desejos fundamentais de nosso coração. Esta é a mentalidade da graça, uma aceitação incondicional de nossos semelhantes, um presente imerecido que se concede, independente das condutas ou conquistas e que nos enche e nos valida como seres humanos.
Se tentarmos aceitar as pessoas segundo nossas expectativas e exigências pessoais e muitas vezes irreais e abusivas, facilmente nos ressentiremos com elas e nutriremos uma ira arraigada por nossos desejos insatisfeitos e isto consumirá nossa paz interior. Devemos renunciar as expectativas desproporcionais em relação às pessoas, os amigos e familiares, aceitá-los, entender sua história de vida, tolerar suas deficiências, escutá-los de forma empática; devemos também aprender a ser bons cuidadores de nós mesmos para satisfazer nossas necessidades de forma sã, sem demandar de outras pessoas qualquer restituição por nossos desejos e expectativas insatisfeitos e desenvolver e manter nossa paz interior.
Em resumo, a aceitação condicional traz ira e ressentimento frequente e a aceitação incondicional traz a paz e saúde emocional duradouras; é nossa decisão viver o inferno das expectativas insatisfeitas ou viver o céu de ser um bom cuidador de si mesmo e entender o semelhante como ele é. Nós é que decidimos a maneira como queremos estar vinculados ao outro, se pelo amor, pelo ódio, pela indiferença... A decisão é sua.



Pablo Luiz Rodrigues Ferreira
adaptação de uma redação apresentada ao curso de espanhol – nível intermediário – 22 de fevereiro de 2013
rugidodaverdade.blogspot.com

quarta-feira, 10 de abril de 2013

CRÔNICA DE UMA RELIGIOSIDADE






Como cristão, tive a oportunidade de viver no meio de dois extremos.
Vivi em uma igreja tradicional desde pequeno até uma boa parte da vida adulta. Era uma igreja que não tinha muita coisa se comparada com as grandes “babilônias” que arrebanham tantas pessoas hoje ou mesmo de grandes igrejas que são frutíferas e têm muitos ministérios para ajudar as pessoas.
É uma igreja simples em que todos se conhecem e procuram ser amigos. Tem um louvor muito lindo, pessoas com dons e um enorme zelo pela pureza do Evangelho e do ensino da Palavra com muita substância e profundidade, mas não tem entretenimento.
Por direção de Deus e por questões pessoais, passei para uma igreja “renovada” para tratar questões pessoais. Chegando lá, percebi que o Evangelho que aprendi na igreja tradicional era todo “errado”, era “religiosidade”, era a casa de “satanás” que prendia as pessoas em uma estrutura de formalismo.
Sei lá, tudo isso é muito forte, mas segui adiante tendo a certeza de que uma congregação não pode ser julgada nesse nível.
Cara, fui muito ajudado na igreja “renovada” (nisso agradeço ao meu primeiro discipulador, minha pastora super inteligente e cheia de amor e de unção de Deus – ah, é a senhora mesmo pastora Nazaré, kkkkk e os meus atuais discipuladores), mas também vi uma “multidão” de pessoas que entravam e saiam da igreja como um drive-through buscando uma comida fast food.
Vi muito entretenimento sem a substância da vida de Cristo, porque as mesmas pessoas que pulavam e babavam “cheias do poder de Deus”, logo estavam em um curto espaço de tempo vivendo as iniquidades próprias de seu caráter marcado pela leviandade e pela efemeridade, como plantas que morrem sem ter uma raiz que as sustente.
Também não tenho o poder de julgar e dizer que uma igreja que proporciona entretenimento é “religiosa”, como também já vi muitos dizerem (e até mesmo eu disse muitas vezes).
Já fui até chamado de “religioso” pelo simples fato de não concordar com um jogo de luz dentro da igreja para o culto de jovens (coisa de boate, né?) e de não concordar com uma “micareta gospel” (coisa de carnaval fora de época na Bahia, né?).
“Todos os ritmos foram feitos por Deus”, dizem. Parece até aquela frase: “todos os caminhos levam a Deus”. Será que tudo é válido só porque leva o nome de Deus?
Será que a “religiosidade” não é assumir formas que Deus não nos mandou que assumíssemos como se elas fossem capazes de dar alguma substância ou trazer uma essência? Será que o “fazei tudo para a glória de Deus” em tudo que façamos (I Coríntios 10:31) inclui transplantar para a igreja as formas que comumente temos no mundo, suas festas, seus ritmos, suas celebrações?
A palavra de Deus diz em Romanos 12:2: “E não sede conformados com este mundo, mas sede transformados pela renovação do vosso entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável, e perfeita vontade de Deus” (Almeida Corrigida Fiel).
Não sede conformados com este mundo“, isto é, não devemos tomar as formas desse mundo decaído. Fomos chamados para sermos diferentes do mundo e ganhar as pessoas pelo amor de Deus; somos diferentes, porque somos separados pela verdade, portanto, o “fazei tudo para a glória de Deus” não inclui “ser conformado com esse mundo”, tomar as formas desse mundo e, assim sendo, nem toda a forma de entretenimento que trazemos para a igreja é válida e aceitável por Deus.
Essa é só a minha opinião, porque as coisas de Deus tem de feitas com ordem e com decência (I Coríntios 14:40) e porque entendo que devemos ter zelo pela casa de Deus.
Uma opinião pela qual desde já sei que serei taxado de “religioso”.
Quero externar e ponderar que não é só a questão do entretenimento na igreja, mas uma série de outros assuntos que não concordo, até mesmo porque toda unanimidade é burra. A pior coisa é retirar do ser humano a capacidade que Deus lhe deu de ponderar e avaliar, até mesmo porque “todas as coisas nos são lícitas, mas nem todas me convém; todas as coisas me são lícitas, mas eu não me deixarei dominar por nenhuma delas” (I Coríntios 6:12).
Não vou julgar nenhum líder que traz esses entretenimentos para dentro da igreja, nem vou julgar aqueles que só ensinam a palavra na igreja como se a igreja fosse “morta” como muitos dizem.
Quem sou eu para dizer onde tem vida ou morte?
Não os taxarei de “religiosos” ou “levianos”; não tenho esse direito; só Deus conhece os corações e os desígnios dos homens.
Não vou julgar aqueles que têm uma determinada “visão de multidão” como se isso fosse a resposta para as mazelas desse mundo caído.
Não. Vou conviver e respeitar.
Creio que a maior “religiosidade” são os muitos julgamentos, manipulações, controles e “encantamentos” que fazemos com a tentativa de que os outros sejam do jeito que queremos ou então para que as pessoas ajam de acordo com os nossos projetos pessoais ou os projetos da corporação religiosa.
Como cristãos, somos diferentes: nosso trabalho é expor a verdade bíblica e amar; e que cada um seja livre para se autodeterminar de forma responsável, sabendo que prestará contas de seus atos diante de Deus.
A maior “religiosidade” é a intolerância. É colocar uma “pecha”, um “rótulo” de “religioso” e “rebelde” ou mesmo julgando alguém de “leviano” para aqueles que não concordam com algo, até mesmo porque temos a mesma fé, mas podemos discordar.
O que seria de nós se os profetas de Deus tivessem se calado diante de tanta iniquidade no meio do povo? Não teríamos as melhores porções da Palavra, a exemplo de Isaías, Jeremias, Ezequiel e Oseias que consumiram a vida pela causa de Deus.
Um princípio muito esquecido é o constante em I Coríntios 8:13 no que tange a comida sacrificada a ídolos: “E, por isso, se a comida serve de escândalo a meu irmão, nunca mais comerei carne, para que não venha a escandalizá-lo” (Almeida Revista e Atualizada).  
Nossa maior preocupação tem de ser a de não escandalizar o nosso irmão com as nossas obras “mortas” para que ele não enfraqueça na fé, mas sem estuprar os princípios bíblicos em nome de um sistema.
Sei que a alegria é um fruto do Espírito Santo e, por certo, fomos feitos por Deus para desfrutar das coisas boas da vida e do prazer, mas não compactuo com a opinião de que só porque a pessoa não concorda com um tipo de estrutura ou entretenimento tenha de ser taxada de “religiosa”. Alegria e prazer nunca tiveram o poder de santificar absolutamente nada.
A pessoa pode até não concordar com as nossas opiniões, mas ela pode estar fazendo o que pode para contribuir para o corpo de Cristo e amando as pessoas que o Senhor coloca em seu caminho, plantando o bem e contribuindo para que este mundo seja colorido com as tintas do Criador.
Sinceramente, não creio em um Evangelho em que as pessoas sejam tratadas na superficialidade de suas questões, mas é só a minha opinião, ok?
Da minha parte farei de tudo para amar as pessoas, gostem elas de uma “micareta gospel” (a minha estagiária ama, kkkkk, e eu a amo, kkkkk), de uma “boate gospel”, de um culto ordenado que só tem ensino da palavra ... Todos sem julgamento.
Amor. Será que temos o direito de dizer que alguém não o tem?

Pablo Luiz R.Ferreira
rugidodaverdade.blogspot.com