sábado, 31 de dezembro de 2011

O CUSTO DO DISCIPULADO DE JESUS: UMA PEQUENA REFLEXÃO NO EPISÓDIO DO JOVEM RICO


Leia o texto base:

Mateus 19 (Versão Almeida Revista e Atualizada)
13 Trouxeram-lhe, então, algumas crianças, para que lhes impusesse as mãos e orasse; mas os discípulos os repreendiam. 14 Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus. 15 E, tendo-lhes imposto as mãos, retirou-se dali. 16 E eis que alguém, aproximando-se, lhe perguntou: Mestre, que farei eu de bom, para alcançar a vida eterna? 17 Respondeu-lhe Jesus: Por que me perguntas acerca do que é bom? Bom só existe um. Se queres, porém, entrar na vida, guarda os mandamentos. 18 E ele lhe perguntou: Quais? Respondeu Jesus: Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não dirás falso testemunho; 19 honra a teu pai e a tua mãe e amarás o teu próximo como a ti mesmo. 20 Replicou-lhe o jovem: Tudo isso tenho observado; que me falta ainda? 21 Disse-lhe Jesus: Se queres ser perfeito, vai, vende os teus bens, dá aos pobres e terás um tesouro no céu; depois, vem e segue-me. 22 Tendo, porém, o jovem ouvido esta palavra, retirou-se triste, por ser dono de muitas propriedades. Então, disse Jesus a seus discípulos: Em verdade vos digo que um rico dificilmente entrará no reino dos céus. 24 E ainda vos digo que é mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha do que entrar um rico no reino de Deus. 25 Ouvindo isto, os discípulos ficaram grandemente maravilhados e disseram: Sendo assim, quem pode ser salvo? 26 Jesus, fitando neles o olhar, disse-lhes: Isto é impossível aos homens, mas para Deus tudo é possível.

I) O episódio do Jovem Rico é exemplar em demonstrar que somente Jesus é a fonte da vida eterna. O jovem queria herdar a vida eterna e, com certeza, reconheceu que Jesus tinha autoridade espiritual para dar a resposta certa acerca desta questão, apontando-lhe o caminho correto a trilhar.
II) O texto mostra que uma pessoa, apesar de todo o seu interesse em herdar a salvação, pode não estar disposta a pagar o preço do discipulado de Jesus. O jovem não estava disposto a renunciar aquilo que era o fundamento de sua vida, o orgulho, as riquezas, a soberba da vida, o que o impediu de herdar a vida eterna. Não estava disposto a se desfazer dos ídolos que mantinha em seu coração a fim de que Jesus o regenerasse por completo. E nós, o que tem fundamentado a nossa vida? Qual tem sido a nossa verdadeira busca no Evangelho? O bondoso Mestre tem estado no centro de nosso coração, fundamentando todo o nosso ser e vida?
III) Jesus conhece as reais motivações do nosso coração e não se contenta com a aparência exterior. O jovem exteriormente cumpria todos os mandamentos da lei. Nenhum fariseu acharia nele motivo de condenação. Entretanto, Jesus o conhecia no íntimo de seu ser e sabia que o jovem não estava disposto a uma entrega verdadeira. E nós, estamos dispostos?
IV) Na equação da eternidade, o quase salvo é igual ao totalmente perdido. O jovem rico é o protótipo de muitas pessoas que evangelizamos hoje: “aceitam” Jesus, mas, infelizmente, depois de decorrido algum tempo, percebemos que, em verdade, a pessoa nunca nasceu do Espírito de Deus. O jovem rico, nos dias de hoje, seria talvez o tipo de pessoa que gostaríamos de “ganhar” como ovelha, todavia, a sua decisão foi clara no sentido da perdição eterna.
V) A marca do discipulado de Jesus é a proclamação do Evangelho em verdade e em amor. Jesus mostrou a verdade acerca da condição espiritual do jovem rico, mesmo correndo o risco de perdê-lo, como, de fato, perdeu-o, o que nos mostra um princípio fundamental: somente a verdade tem o poder de salvar e libertar. Muitas vezes, evitamos dizer certas coisas para algumas pessoas com medo de perdê-las no processo de evangelização, consolidação ou discipulado e fazemos isso em nome do “amor”. Sabe, como o nosso amor é fajuto e degenerado. Amar é dizer a verdade em brandura e compaixão. Em Marcos 10:21, a Bíblia é clara em mostrar que Jesus amou o jovem e o amou tanto que precisava lhe dar o parâmetro verdadeiro para uma decisão consciente e definitiva, a decisão mais importante de sua vida, a decisão pela vida eterna. Leitor, o seu amor pelas pessoas tem sido fajuto e degenerado deste jeito? Você tem “enfeitado” ou deturpado o Evangelho da Verdade para “ganhar” as pessoas para sua congregação ou mantê-las no seu discipulado? Jesus não relativizou as suas condições para a vida no Evangelho, nem nós devemos fazer isso. Quem ama, libera, independente das decisões que a pessoa venha a tomar. Será também que estamos dispostos a nos relacionar de forma adequada com as pessoas de modo que recebamos a verdade a nosso respeito por pior que ela seja? Estamos dispostos a que Deus nos mostre a verdade a nosso respeito a fim de que possamos crescer e ser libertos?     
VI) A atitude do jovem rico foi oposta a atitude que as crianças tiveram diante de Jesus. O jovem rico não quis receber o Reino de Deus como uma criança, com uma fé simples, uma confiança sincera, com pureza e desembaraço. Meu desejo para você leitor é que, diante destas reflexões, você possa buscar a essência da vida cristã em amor e em verdade, sabendo que, apesar das nossas escolhas erradas, Jesus conhece o nosso coração melhor do que nós mesmos e não deixou de nos amar. O Salvador espera você de braços abertos para recebê-lo como uma criança que só quer desfrutar do colo amoroso do Pai. Se você for sincero com Deus, Ele te capacitará para que você possa vencer os embaraços da vida que tentam ocupar o seu coração.

 Pablo Luiz Rodrigues Ferreira
Elaborado em dezembro de 2011
pablolrferreira@hotmail.com
rugidodaverdade.blogspot.com
 

domingo, 13 de novembro de 2011

ENCORAJAMENTO A UMA VIDA CRISTÃ MADURA: A RESTAURAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DO SERVIÇO CRISTÃO


A igreja de Tessalônica foi fundada pelo apóstolo Paulo durante sua segunda viagem missionária (Atos 17), contudo, segundo alguns estudiosos, o tempo em que passou evangelizando a mencionada região foi breve e não teria excedido um mês, pois somente três sábados são mencionados no livro de Atos (At 17:2). Outros entendem que o apóstolo teria passado mais tempo fazendo um trabalho fora das sinagogas, tendo em vista que a maioria da igreja seria formada por gentios (= não-judeus) (1 Ts 1:19 e 2:14-16), sendo esta última a corrente mais aceita.
         Com o objetivo de consolidar o trabalho já realizado entre os tessalonicenses para que as sementes espirituais plantadas não morressem (1 Ts 3:5), os crentes atingissem a maturidade na vida cristã e se tornassem verdadeiros discípulos de Cristo (1 Ts 1:6), Paulo escreve a carta de 1 Tessalonicenses, encorajando os convertidos a viver a vida cristã em santidade (1 Ts 3:2), nos frutos do Espírito Santo e no serviço da obra de Deus.
         A seguir, far-se-á uma síntese de alguns princípios que a epístola contém, os quais, se vividos por nós, transformarão a nossa vida, levando-nos a um patamar superior de fé e consistência na vida cristã.
1- Princípios relativos ao serviço cristão:
1.1- A importância de ganhar pessoas para Jesus não somente em Palavra, mas em Poder do Espírito Santo e em firme convicção de fé que as conduza para o caminho da salvação (1 Ts 1:5, 7): o cristão tem de viver uma vida que ultrapasse a Palavra falada, atingindo um nível de intimidade com Deus que possibilite desenvolver o fruto e os dons do Espírito Santo para o serviço da obra do Senhor, ou seja, trata-se da importância de se construir um bom testemunho e alcançar a essência do cristianismo, que é o amor, para impactar vidas para o Senhor e ser sensível a voz e ao clamor do coração de Deus pelos perdidos para os resgatar.   
1.2- A importância do crescimento espiritual através da instrução contínua na Verdade: Paulo sabia que as sementes plantadas poderiam morrer e, por isso, escreveu a carta para consolidar e maturar o trabalho já realizado, relembrando os crentes das verdades espirituais já ensinadas e esclarecendo aquelas que ainda tinham que aprender para que não caíssem no engano do inimigo (1 Ts 3:5; 5:14). As verdades espirituais precisam ser relembradas e “inculcadas” em nossa mente e guardadas em nosso coração a fim de que possamos praticá-las e sermos transformados pelas mesmas (Dt 6:6-8). O apóstolo sabia que a vida cristã requer contínuo investimento, cuidados e instrução sólida para que o discípulo de Cristo alcançasse a maturidade e a vivência necessárias para caminhar em santidade e abandonar os velhos ídolos e suportar as tribulações e perseguições (1 Ts 1:6, 8). Enviou Timóteo para realizar a obra de fortalecimento da fé (1 Ts 3:2,5). Paulo também fala da importância da honra aos guias espirituais que realizam com desprendimento a obra do discipulado (1 Ts 5:12-13). O discípulo de Jesus é instruído pelo corpo de Cristo, a igreja, um corpo dinâmico, em que os diversos componentes individuais, utilizando-se dos dons que o Espírito Santo concedeu a cada um, edificam o todo.
1.3- O serviço cristão com empenho e dependência do Espírito Santo sempre gera discípulos para o campo da obra do Senhor: o trabalho que Paulo fez, embora árduo e sob tribulação, mesmo sendo de pouca duração, foi suficiente para que o Espírito Santo de Deus formatasse discípulos que reproduziram a vida de Jesus e evangelizaram a região da Acaia e da Macedônia, pelo que há a necessidade de o discípulo de Jesus receber a Palavra no espírito, não como um ensino de homens, mas abrindo o coração para receber a Verdade que liberta e deixar que o Espírito Santo opere eficazmente (1 Ts 2:13). Esse é o discipulado por excelência, qual seja aquele em que o discípulo chega a um nível de maturidade em que ele consegue receber as orientações do próprio Espírito Santo para ser conduzido nas decisões que necessita tomar em sua vida, sendo não mais um dependente de outro para fluir em Deus, mas interdependente com os seus semelhantes para realizar, como servo valoroso, os objetivos do Reino de Deus.
Não desprezo a necessidade do discipulado individual e do aconselhamento, em que a pessoa é acompanhada individualmente a partir de suas necessidades de crescimento específico, muito pelo contrário, incentivo-o, entretanto, animo-me a dizer que o trabalho de discipulado é muito mais do que isso, referindo-se a uma obra de propagação e amadurecimento do Evangelho no coração das pessoas que envolve a participação dinâmica de todo o corpo de Cristo, cada um utilizando seu dom específico para que cada um e todos sejam edificados, isto é, abrange, por exemplo, a formação de pastores e obreiros, a formação de ministérios, a formação de profissionais liberais, de empresas privadas e servidores públicos, etc., com a finalidade de estabelecer os princípios do Reino de Deus nas diferentes áreas da sociedade, ou seja, nas artes e entretenimento, na família, na mídia e na comunicação, no governo e na política, na ciência e na educação, na economia e nos negócios, e não só dentro da igreja (Ef 4:11-16), removendo nestas áreas os sistemas pelos quais o mundo atua, promovendo os padrões do Senhor (cf. GUILLEN, Fernando. Sete Montes. Belo Horizonte: Fernando Guillen, 2009, p. 23-39).
Os ensinamentos do Apóstolo Paulo são claros em apresentar a igreja como o corpo de Cristo, um corpo em que cada membro é dotado de dons para a edificação de todos. Há quatro listas de dons espirituais no Novo Testamento, em 1 Coríntios 12, Romanos 12, Efésios 4:7-12, 1 Pedro 4:10-11, contudo, nosso Senhor é um Deus de multiforme graça, não se restringindo os dons espirituais ao rol contido nestas listas.
Veja o que diz 1 Co 12:4-7:
4 Ora, há diversidade de dons, mas o Espírito é o mesmo. 5 E há diversidade de ministérios, mas o Senhor é o mesmo. 6 E há diversidade de operações, mas é o mesmo Deus que opera tudo em todos. 7 A cada um, porém, é dada a manifestação do Espírito para o proveito comum.
A igreja é um corpo dinâmico, no qual há o desempenho de vários ministérios com a finalidade de levar todos os cristãos a uma fé madura e sólida, sendo o Espírito Santo o doador dos dons espirituais segundo sua soberana vontade, havendo, portanto, uma unidade na diversidade, o que nos leva a inferir, diante da clareza do texto acima, que nenhuma congregação pode ficar engessada a partir de uma única metodologia de trabalho e evangelização, devendo, em verdade, possibilitar-se a riqueza da pluralidade e variedade dos serviços tantos quantos são os dons espirituais. E mais, a congregação também não pode ficar engessada com a ideia tradicional de um pastor sozinho e sobrecarregado que concentra e desempenha todos os serviços e ministérios. O mais acertado a se dizer é que o ministério da liderança de uma congregação é trabalhar, investir e estimular o exercício dos dons espirituais de cada um, visando o proveito comum, a maturidade do corpo. Neste sentido, trago a colação as palavras de John Stott:
A ideia tradicional que temos de uma igreja local é a de um pastor sobrecarregado, talvez ajudado por um pequeno núcleo de colaboradores dedicados, enquanto a maioria dos membros dá pouca ou nenhuma contribuição à vida ou ao trabalho da igreja. Isto nos lembra mais a imagem de um ônibus (com um motorista e muitos passageiros sonolentos) do que a de um corpo (em que todos os membros são ativos, cada um contribuindo com uma atividade especial para a saúde e a eficiência do todo). Na verdade, eu não duvido de que uma falsa imagem da igreja é uma das principais razões do crescimento do “movimento carismático”. Este movimento é um protesto contra o clericalismo (onde obreiros de tempo integral ocupam o espaço dos leigos), e uma tentativa de liberar os leigos para os papéis de liderança responsável para os quais Deus os dotou (Batismo e Plenitude do Espírito Santo. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 110).
E, em outra passagem, assim se manifesta:
Os pastores são chamados para serem instrutores, e isto de forma alguma quer dizer que eles devem reservar com ciúmes todos os ministérios que devem ser exercidos para si. Pelo contrário, seu ministério é produzir mais ministério, incentivando outros a exercerem os dons que Deus lhes deu. Somente, então, o outro objetivo será alcançado, que é, novamente, “a edificação do corpo de Cristo”, até que atinja sua unidade e maturidade completas, a “medida da estatura da plenitude de Cristo [Ef 4:12-13] (Op. cit., p. 121).      
A diversidade dos dons e serviços, além de mostrar que a congregação não pode ficar engessada a uma única estrutura rígida de uma metodologia de trabalho, exorta-nos de que não podemos caminhar sozinhos, de que precisamos um do outro e ninguém pode ser tido como descartado, até mesmo porque os dons são fruto da graça de Deus e a graça por natureza é inclusiva (Rm 12:6), além do que a igreja não deve ficar refém de uma hierarquia rígida de liderança em cadeia, mas os líderes e membros devem trabalhar em conjunto para edificar a todos com seus diferentes dons. Ninguém pode achar que tem condições de lidar sozinho com todos os que tiverem sob seus cuidados e tratá-los como uma propriedade particular de seu ministério, mas ser humilde o suficiente para reconhecer que há tipos de serviço que não pode desempenhar e precisará de outras pessoas para ajudá-lo, visando o bem comum. Hoje, a necessidade mais urgente de alguém requer que essa pessoa seja trabalhada por uma pessoa com um determinado tipo de dom, mas, amanhã, a pessoa pode e deve amadurecer e talvez precise ser trabalhada por outra pessoa com outro tipo de dom, tudo segundo o propósito que Deus tem para aquela vida e, assim, o Senhor vai levantando as pessoas para atuar de maneira multiforme, tendo em vista a existência de múltiplas necessidades e o aperfeiçoamento do corpo, de modo que acabamos sendo e, em verdade, devemos ser “ajudantes temporários do Espírito Santo” na vida das pessoas, até mesmo porque é com ciúmes que o Espírito de Deus anseia em ter comunhão conosco (Tg 4:5). Não somos donos de ninguém, apenas instrumentos do Espírito Santo para edificar e amadurecer o corpo e suprir uma necessidade específica, segundo os decretos de Deus, que distribui os dons da maneira que lhe apraz.
No que tange ao desempenho do serviço do Senhor, a Palavra também nos diz que devemos buscar com zelo os melhores dons (1 Co 12:31). E quais são os melhores dons? Qual o critério para dizer quais são os melhores dons? A própria palavra responde: “Assim também vós, já que estais desejosos de dons espirituais, procurai abundar neles para a edificação da igreja” (1 Co 14:12 - ARC). Os melhores dons são aqueles que mais edificam, dentre os quais posso citar o amor acima de todos, a profecia e os dons de ensino (cf. STOTT. Op cit., p. 117).
Paulo dava uma ênfase ao culto inteligível para todos e criticava o uso infantil do dom de línguas na congregação da igreja de Corinto (1 Co 14), bem como vemos uma grande preocupação do apóstolo por todas as suas cartas na questão do ensino da Palavra como algo fundamental para que o corpo de Cristo se desenvolvesse de forma sadia. Moisés também tinha esta preocupação, pelo que disse:
E estas palavras, que hoje te ordeno, estarão no teu coração; e as ensinarás a teus filhos, e delas falarás sentado em tua casa e andando pelo caminho, ao deitar-te e ao levantar-te. Também as atarás por sinal na tua mão e te serão por frontais entre os teus olhos; e as escreverás nos umbrais de tua casa, e nas tuas portas (Dt 6:6-9 - ARC).
         E o que dizer de Jesus que ensinava de forma simples e, ao mesmo tempo, profunda com as suas parábolas, atitudes e milagres, os quais eram verdadeiras parábolas dramatizadas que traziam as essências do Reino de Deus para o coração das pessoas.
         O ensino deve ser um dos grandes pilares de uma congregação, sendo que, nos dias de hoje, pela falta ou insuficiência de instrução, o corpo de Cristo fica subnutrido e decadente, proliferando-se todos os tipos de desvio e heresia no meio da igreja, bem como a falta de solidez e maturidade na fé das pessoas, de modo que elas possam discernir as coisas através da Palavra e somente reter o que é bom (1 Ts 5:20-21).
A profecia também é um dos melhores dons, segundo 1 Co 14. Não pode faltar em uma congregação a genuína profecia que edifica o corpo como um todo, a qual Abraão Kuyper assim expõe: “Por profecia, Paulo entendeu pregação inspirada, em que o pregador se sente ungido e impulsionado pelo Espírito Santo” (citado por STOTT. Op cit., p. 106). A palavra nos exorta a não desprezarmos as profecias, mas devemos pô-las à prova, retendo apenas o que é bom (1 Ts 5:20-21).
Animo-me também a dizer que temos de anelar e interceder para que Deus nos capacite com os dons de cura. Em 1 Co 12:9, o apóstolo Paulo fala em “dons de cura” no plural, o que significa que quando se fala de cura, não se refere apenas a cura do físico, mas também a cura do espiritual e do psicológico, das emoções, das memórias penosas, dos traumas, das raízes de amargura e de todas as doenças psicossomáticas que delas advém, tais como os transtornos de ansiedade, a depressão, entre outros. Hoje, muitas pessoas necessitam de um nível de cura profunda em virtude dos relacionamentos partidos, disfuncionais e destrutivos, bem como de todo tipo de abuso, seja ele verbal, físico ou sexual, que provém da destruição e desagregação das famílias, o que causa uma série de deformidades na personalidade e emoções do ser humano. Temos que orar ao Espírito de Deus para que nos capacite com conhecimento e sabedoria para poder ajudar as pessoas de forma adequada, bem como preparar pessoas com esse ofício específico, tais como psicólogos, conselheiros, psiquiatras, obreiros para sarar essas pessoas nesse processo de perdão e cura, que, no fundo, nada mais é do que a renovação da mente por excelência (Rm 12:1-2). Bem como, temos de acreditar no poder da confissão dos pecados e da oração do justo nesse processo de cura: “Confessai, portanto, os vossos pecados uns aos outros, e orai uns pelos outros, para serdes curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo” (Tg 5:16) (neste sentido, pode-se consultar o excelentes trabalhos de David Seamands, tais como A cura das memórias. 2 ed. São Paulo: Mundo Cristão, 2007; A cura para os traumas emocionais. Venda Nova: Betânia, 1984; O poder curador da graça. São Paulo: Vida, 2006, bem como os trabalhos de Leanne Payne, principalmente o livro Imagens partidas. São Paulo: SEPAL, 2001). Em intimidade com o Espírito Santo em oração, enquanto ministramos a outra pessoa em nome de Jesus e, enquanto o ouvimos, ele nos dá a “palavra da sabedoria”, a “palavra do conhecimento”, o “discernimento de espíritos”, bem como a fé sobrenatural e tudo o que é necessário para ver a pessoa sarada, purificada e liberta (cf. PAYNE. Imagens partidas, p. 179). Somente o Espírito Santo pode nos capacitar para manifestar a glória de Deus nesse nível de cura e, para isso, precisamos não só acreditar que Ele pode operar prodígios e maravilhas, mas também depender dEle.
2- Princípios relativos à intercessão:
2.1- A obra de gerar discípulos para Cristo não pode ser desacompanhada de oração incessante, persistente. É papel da igreja como um corpo dinâmico, não só de um discipulador, líder ou conselheiro de forma isolada, de um ministério de intercessão, mas de todo o corpo de Cristo no sentido de fazer o discípulo de Jesus e todo o corpo de Cristo e suas necessidades lembradas diante do Trono do Senhor para que ganhemos no espiritual a concretização da obra de Deus no caráter do discípulo de Jesus (1 Ts 1:2-3), bem como exercendo os dons e serviços, sob a dependência do Espírito Santo, para atingirmos esse fim.
Que a igreja do Senhor possa anelar e interceder para que o Espírito Santo faça essa obra em nós, capacitando-nos para romper a barreira da incredulidade e mergulhar no que o Senhor quer fazer especificamente em cada congregação, capacitando-a com os dons e serviços que Ele soberanamente quer conceder e sob sua dependência. E aí, atrevo-me a dizer que a igreja nos dias de hoje tem dificuldade em compatibilizar a sua “teologia” e práticas com a grande verdade da soberania de Deus e as estratégias de trabalho e evangelização destas congregações acabam sendo “meros eventos” que tentam tapar a glória de Deus, da mesma forma que alguém tenta tapar o sol com a peneira.
2.2- A obra de Deus sempre enfrenta a oposição de satanás (1 Ts 2:18), daí a necessidade da intercessão a fim de que conquistemos a vitória e continuemos edificando o corpo de Cristo na terra, suprindo as necessidades dos crentes, sobretudo as espirituais (1 Ts 3:10).
3- Princípios relativos à liderança:
3.1- A liderança é uma obra de encorajamento do discípulo para que este chegue a um nível de maturidade do caráter de Cristo. Discipulado não é uma obra de dominação ou manipulação, realizada com a imposição de medo, ameaças ou punições para que os liderados façam o que queremos, mas uma obra em que somos canais da graça do Senhor para que o crente encontre a liberdade e verdadeira alegria de ser filho de Deus e tenha sua fé fortalecida (1 Ts 3:2). Liderança é a “habilidade de influenciar pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir aos objetivos identificados como sendo para o bem comum” (HUNTER, James C. O Monge e o Executivo. Rio de Janeiro: Sextante, 2004, p. 25). Influenciamos discípulos para Cristo, dando um bom testemunho de poder e vida de Deus, assim como o apóstolo Paulo (1 Ts 2:9-10).
3.2- O trabalho da liderança requer as características do amor de Jesus: paciência (1 Ts 5:14), bondade (1 Ts 5:15), humildade, respeito para com as pessoas, abnegação (= olhar os outros a partir das necessidades específicas delas de forma desinteressada e desprendida) (1 Ts 2:7-11), perdão, honestidade (= transparência), compromisso (1 Ts 2:9), coragem (1 Ts 2:2) (obs: para aprofundar o tema do amor e a liderança, consultar HUNTER, James C. Op. cit., p. 72-96).
3.3- A liderança não visa agradar a homens, mas a Deus (1 Ts 2:4-6). Temos que nos libertar do vício de agradar a todos, reforçando a nossa identidade em Deus para que possamos depender integralmente dEle em espírito, alma e corpo (1 Ts 5:23-24). Temos de mudar a nossa autoimagem (= o conceito que temos de nós mesmos em nossa mente e no nosso coração) para que o nosso valor como pessoa não dependa da opinião dos outros, mas da Verdade que Deus fala a nosso respeito. Isso nos liberta do sistema de valor com base no mérito (= se acerto e dou fruto, sou valioso; se erro, falho, peco, sou desvalioso;  essa é uma mentira fabricada no quinto dos infernos, mas que infelizmente condiciona e aprisiona a mente de muitos), do chamado “evangelho do desempenho” e nos deixa livre para experimentar a liberdade da graça de Deus.
3.4- Liderar é servir e não ser servido (1 Ts 2:2, 8-9). A liderança não é um privilégio, mas um encargo, um dever. Liderança não é um privilégio de ostentar um título, de ser tratado como um “marajá espiritual”, mas de desempenhar dons e ministérios para a edificação, em amor e verdade, da igreja, levando-a para a maturidade.
4- Princípios de vida cristã:
4.1- Ter identidade em Cristo, reproduzindo em nossas vidas as virtudes de Deus (1 Ts 1:6), ou seja, crescer no fruto do Espírito.
4.2- As dificuldades (= tribulações) são parte essencial da vida com Deus e Ele as usa para provar e aprovar a nossa fé, para que possamos cumprir a nossa missão de trazer os valores do Reino de Deus, fazendo discípulos para Cristo (1 Ts 2:1, 4 e 3:3).
4.3- A força da tribulação é quebrada pela alegria sobrenatural que o Espírito Santo produz em nós como fruto (1 Ts 1:7).
4.4- A necessidade de um comportamento santo, reto, inclusive livre das imoralidades sexuais (1 Ts 4:1-8).
4.5- O mandamento do amor (1 Ts 4:9-10).
4.6- Deus quer que tenhamos uma mente purificada, livre de culpa (1 Ts 3:13): fala da necessidade de receber o perdão de Deus em nosso coração e não deixar que os erros do nosso passado determinem a nossa caminhada presente e futura. Se Deus nos perdoou, ninguém, nem mesmo nós mesmos, pode nos condenar. Temos de receber o perdão de Deus e nos perdoar e caminhar na liberdade que o Espírito Santo quer nos conceder.
4.7- Deus quer que vigiemos para que não caiamos em pecado e na obra do Tentador (1 Ts 3:5 e 5:6).
4.8- Deus quer façamos uso da armadura espiritual que Ele nos concede para que possamos prosseguir na vida cristã em união com Cristo e herdar a salvação (1 Ts 5:8-11).    
4.9- Diversos deveres: 1 Ts 5:12-28:
12 Ora, rogamo-vos, irmãos, que reconheçais os que trabalham entre vós, presidem sobre vós no Senhor e vos admoestam; 13 e que os tenhais em grande estima e amor, por causa da sua obras. Tende paz entre vós. 14 Exortamo-vos também, irmãos, a que admoesteis os insubordinados, consoleis os desanimados, ampareis os fracos e sejais longânimos para com todos. 15 Vede que ninguém dê a outrem mal por mal, mas segui sempre o bem, uns para com os outros, e para com todos. 16 Regozijai-vos sempre. 17 Orai sem cessar. 18 Em tudo dai graças; porque esta é a vontade de Deus em Cristo Jesus para convosco. 19 Não extingais o Espírito; 20 não desprezeis as profecias, 21 mas ponde tudo à prova. Retende o que é bom; 22 Abstende-vos de toda espécie de mal. 23 E o próprio Deus de paz vos santifique completamente; e o vosso espírito, e alma e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo. 24 Fiel é o que vos chama, e ele também o fará. 25 Irmãos, orai por nós. 26 Saudai a todos os irmãos com ósculo santo. 27 Pelo Senhor vos conjuro que esta epístola seja lida a todos os irmãos. 28 A graça de nosso Senhor Jesus Cristo seja convosco.   
5- Princípios de escatologia (= doutrina das últimas coisas): “A ressurreição dos mortos em Cristo e o arrebatamento dos vivos” (1 Ts 4:13-18) e “O Dia do Senhor” (1 Ts 5:1-11).
Tanto o ensino do Velho Testamento, quanto o do Novo Testamento, são muito claros quanto à existência do chamado “Dia do Senhor”, um dia em que Deus virá para julgar vivos e mortos, um dia que marcará a separação do trigo e do joio, dos crentes e dos incrédulos, dos salvos em Cristo e dos não salvos, um dia que marcará o fim da velha criação e o início da nova criação redimida em Cristo e também do cumprimento da pena já imposta contra satanás e seus anjos, bem como o castigo eterno dos incrédulos. Este ensino é uma verdade central do Evangelho de Jesus, a respeito de seu retorno, de sua segunda vinda, como uma das etapas da concretização da obra já conquistada e consumada na cruz, o que requer de nós preparação e vigilância para que não sejamos pegos de surpresa (1 Ts 5:6-11).
A ponderação que se pode fazer quanto aos dias de hoje é que o “evangelho” em grande parte propagado é “manco”, uma vez que pouco se fala na segunda vinda de Cristo, uma verdade fundamental esquecida e negligenciada. Vive-se como se este fato nunca fosse se consumar ou então que acontecerá em um tempo muito distante, passando-se em grande parte a se propagar um “evangelho” que visa satisfazer as necessidades imediatas dos homens aqui na Terra, em que tudo é canalizado para trazer prosperidade material ao homem aqui e agora.
Mesmo naquelas congregações em que não há uma ênfase desesperada na prosperidade material, parece que se vive, em grande parte, um evangelho “triunfalista”, preso e engessado com as ideias de crescimento numérico da igreja, como se isso fosse um sinal de avivamento, ignorando-se por completo os sinais que antecedem a vinda de Jesus.
O ensino do retorno de Jesus e da ressurreição dos mortos para julgamento, como já dito, é uma verdade essencial, é algo concreto que deve ser acolhido como objeto de fé e que exige de nós uma resposta madura no sentido de sermos sóbrios, vigilantes, constantes de caráter nas verdades do Evangelho, perseverantes em cuidar com zelo e amor do nosso relacionamento com Deus, trazendo sobre nós a necessidade de nos examinarmos a nós mesmos constantemente, levando-nos ao arrependimento do que for necessário.
Este ensino requer também de nós uma fé madura no sentido de que não devemos canalizar os nossos esforços nas coisas e nos prazeres deste mundo, mas que a nossa mentalidade deve se afinar com os valores e o tempo da eternidade.
Exige-se de nós o discernimento dos tempos nos quais vivemos. As profecias bíblicas a respeito dos últimos tempos estão se cumprindo e não podemos ser alheios a isto. O amor de muitos está se esfriando por causa da multiplicação da iniquidade (Mt 25:12), os falsos mestres estão se multiplicando com as suas falsas doutrinas, as guerras, as catástrofes e a cada dia as marcas do anticristo serão mais evidentes (obs: para aprofundar este tema, leia 2 Tessalonicenses).
Por fim, esta doutrina deve trazer ao nosso coração um grande consolo no sentido de que um dia viveremos uma vida de comunhão plena com Deus em um novo corpo glorificado e livre para sempre das torturas do pecado e da separação que ele provoca.   
Que a cada dia, leitor, você possa ser sóbrio e vigilante, sendo edificado pela verdade que liberta, provando as profecias, apenas retendo o que é bom, sendo capacitado e consolado pelo Espírito Santo de Deus para semear e colher uma fé madura, bem como desempenhando os dons e ministério que o Senhor na sua soberana graça quer lhe conceder.

Pablo Luiz Rodrigues Ferreira
rugidodaverdade.blogspot.com
pablolrferreira@hotmail.com
             

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

A CONSTRUÇÃO DA FIGURA DO LÍDER: UMA REFLEXÃO



Este texto é uma resposta a minha E-pístola A Cura Superficial. Foi escrito por um de meus amigos e companheiros na causa da Verdade do Evangelho, Jonatan Santos. Espero que vocês sejam profundamente edificados.

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Esse texto que aqui escrevo surgiu através da leitura de uma e-pístola de meu amigo Pablo Luiz, chamada “A Cura Superficial”. Especificadamente, acrescentarei minhas considerações apenas ao tópico III. Nele é retratado o discurso da dominação do liderado através da construção da figura do líder como uma autoridade mística e intocável e um retorno indevido aos rudimentos do Velho Testamento.
Pois bem, é inquestionável que a igreja brasileira atual tem aberto os olhos em relação ao discurso subversivo de dominação do fiel através da criação de toda uma simbologia de misticismo da figura do líder, seja ele pastor, líder de ministério, obreiro, conselheiro, discipulador, etc. A pessoa é levada a crer no líder como uma pessoa infalível e inerrante, "a voz de Deus para sua vida", uma pessoa inquestionável e cuja honra não pode ser exposta e tocada, sob pena de uma dura reprimenda por parte de Deus”. Isso nos implica em perceber se realmente estamos nos padrões da cultura do reino ou de uma cultura religiosa, que se sustenta do homem para o homem e não de Deus para o homem.
Essa questão da simbologia do misticismo leva ao fiel crer incondicionalmente que seu líder é infalível, um super herói que sempre estará ali para socorrê-lo de seus pecados ou fragilidades. Essa visão de líder é extremamente equivocada. Ser líder é ser como Jesus que emanava a graça de Deus por onde ele passava. Não só através de suas parábolas, de suas pregações, dos milagres, mas principalmente pelo modo de se viver, de se transmitir a cultura do reino.
         A liderança de Jesus foi perfeita, pois ele não ensinou sobre liderança nas coisas da terra, no padrão das convicções humanas, mas sim nas celestiais. Ao falarmos de líder, logo imaginamos alguém que devemos obedecer; que devemos estar sujeitos cegamente. Jesus veio quebrar esse paradigma. “Já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (João 15.14-15).

Jesus foi um líder amigo. Desde o principio quando ele escolheu os doze discípulos já tinha estabelecido em seu coração uma relação de amizade íntima como forma de ensinar, através da amizade emanar a graça sobre a vida deles. Essa estratégia de não discipular uma multidão, mas apenas doze pessoas mostra uma virtude da cultura do reino. A multidão foi ensinada a respeito do reino de Deus, mas os doze conheceriam na essência tal cultura pela convivência com o mestre. A diferença era que a multidão ouvia muito falar de Deus, enquanto que os discípulos não só ouviam, mas experimentavam na pura vitalidade do viver o Reino, através do modo de Jesus vivia e agia. A cultura do reino emanada através do Rei dos Reis foi estabelecida nos doze.
Gosto sempre de falar, caro leitor, que não o conheço ou até posso ter conhecê-lo através de alguns diálogos. E mesmo já tendo dialogado, de fato, não o conheço. Pois quem realmente conhece você é a sua família: seu pai, sua mãe, seus irmãos. Aqueles que convivem com você todos os dias. Eles conhecem quem você realmente é; seus podres, seus defeitos, seus hábitos; conhecem a sua cultura, seu modo de ser, agir e pensar.
           Jesus poderia discipular toda aquela multidão porque Ele conhecia o coração de todos, uma vez que era Deus Filho. Mas para ensinar aos discípulos, ele decidiu criar um grupo de amigos. Onde Jesus seria o referencial de líder, para que os doze futuros líderes ensinassem na essência o que é liderar no Reino, na cultura do Reino. Liderar formando amizades, onde se estabelecesse laços de companheirismo como de uma família. Onde o irmão ajuda o outro. Dessa forma, o líder não se torna uma figura mística, dono das revelações. Mas sim, um referencial de graça e amor, prevalecendo a unidade no discipulado. Coisas que nas igrejas atuais é difícil encontrar. 
          Na ótica da cultura religiosa: “O líder é exaltado como um "super crente", tendo sobre a sua vida uma "unção" que é transferível ao liderado pela obediência, honra e aliança incondicionais. O líder passa, então, a ser visto como a única opção de cura para a vida da pessoa. O liderado é adestrado a obedecer e trabalhar pelo sistema sem questionar, como um cavalo com cabresto. O líder requer a mesma posição de homens santos como Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, entre outros profetas do Velho Testamento; querem a "honra de profeta". Outros já se autodenominam de "patriarcas", requerendo o mesmo status de Abraão. Outros querem o status de "apóstolo", não no sentido de um dos possíveis ministérios que Jesus quer nos dar para edificar a sua igreja, mas no sentido de ter o mesmo status de homens como Paulo e Pedro, a fim de se fazerem receptores inquestionáveis da "revelação" de Deus para a vida dos fiéis”. 
         Essa questão de serem os donos da revelação é algo que deve ser abolido urgentemente das igrejas. A liderança deve buscar sabedoria e graça em Deus para que tais coisas não aconteçam. Um exemplo, típico disso é quando um discípulo peca e urgentemente já vai ligando para seu líder, contar seus pecados e receber a revelação do líder para uma cura imediata do peso do pecado. Em contrapartida, o líder libera a palavra, a "revelação" e tudo fica bem. Há um grande erro nisso tudo. Você consegue enxergá-lo? Um líder de verdade perguntaria para o discípulo quando ele ligasse: “Você já conversou com Deus, sobre sua queda? Já pediu perdão para ele? O que foi que ele te disse?”.
Esse líder está ensinando seu discípulo a não depender dele, a olhar para Deus, a buscar em Deus a cura de suas fragilidades. Esse é um líder amigo que direciona seu liderado a uma comunhão intensa com Deus. Ensina-o a entrar no lugar que Deus criou para estamos, é neste lugar que a cultura do Reino é entronizada em nossas vidas.
Um líder amigo, diferente do líder religioso, deseja que seu liderado seja tão usado por Deus quanto ele, ou até mais que ele. Um dos episódios mais utilizados para sustentar todo um esquema de dependência dos líderes espirituais esta na pergunta: “mas a unção de Elias não foi transferida para Eliseu? E ele não a recebeu em virtude de ser aquele que andava mais perto de Elias do que todos os outros discípulos de profeta? (2 Reis 2). A pessoa é condicionada a entender que a mesma unção que está sobre o líder estará sobre o liderado e este tem de obedecê-lo sem reservas para prosperar e receber a unção”. 
        Esse esquema de dependência aprisiona o crescimento do discípulo e, muitas vezes, prende os dons que Deus já deu. Devemos prosperar na unção que Deus nos dá, na unção que vem dos céus. Cada um dos discípulos era diferente e Jesus os direcionava segundo os dons que eles tinham. Judas ficou com a parte financeira, a parte administrativa do pensar: nas despesas, nos custos, no calcular, no organizar. Já Pedro foi treinado para ser o cabeça, tomar decisões; tinha espírito de liderança firmado na rocha, nos princípios da cultura do Reino. Jesus, como um líder amigo, direcionava cada um deles para frutificarem naquilo que queimava no coração de cada um.
           Nesse esquema de dependência de líderes: “Cria-se, então, todo um sistema de hierarquia rígida e inquestionável para fazer com que uma determinada estrutura religiosa se sustente. Com certeza, a unção de Elias foi transferida para Eliseu, mas a razão de tal transferência não foi a vontade do homem. Não foi algo que aconteceu por causa da aliança que eles tinham. A transferência não se deu por causa do esforço humano. Foi algo determinado pelo eterno propósito de Deus, o qual de antemão, desde antes da fundação do mundo, estabeleceu que assim o fosse. Deus tinha um propósito na aliança entre Eliseu e Elias, e a transferência da unção ocorreu já que o Senhor tinha em vista a continuidade do mesmo tipo de ministério desempenhado por Elias e escolheu de forma soberana o vaso que seria usado para tal, qual seja Eliseu”.
          Eliseu, sem dúvidas, honrava Elias como líder, da mesma forma que os doze discípulos honravam Jesus como líder. Assim, honrar é demonstrar profundo respeito pelo semelhante. É a forma de tratamento que devotamos às pessoas que respeitamos. Logo, honrar não significa nos submetermos a uma liderança a ponto de nos cegarmos espiritualmente, seguindo um esquema de dependência. Mas, sendo amigos, a ponto de chegar a um objetivo: viver (líder e liderado) a cultura do Reino, não como servos cegos, mas como amigos que ensinam uns aos outros ouvirem a voz de Deus, para que se edifiquem. Um braço ajudando a perna, a perna ajudando o pescoço. Somos um corpo. “já não vos chamo servos, porque o servo não sabe o que faz o seu senhor; mas tenho-vos chamado amigos, porque tudo quanto ouvi de meu Pai vos tenho dado a conhecer” (João 15.14-15).
Portanto, na lei você obedece e recebe o benefício; na graça você recebe o benefício e passa a obedecer. Toda relação de líder e liderado deve ser baseado na Graça.
        
Abraços fraternos,

Jonatan Santos
Outubro de 2011

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

A CURA SUPERFICIAL: REFLEXÕES ACERCA DA PREGAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS NOS DIAS DE HOJE





A CURA SUPERFICIAL: REFLEXÕES ACERCA DA PREGAÇÃO DA PALAVRA DE DEUS NOS DIAS DE HOJE
I) A advertência do profeta Jeremias contra os sacerdotes: um retrato claro da pregação superficial dos dias de hoje
13 Porque desde o menor deles até o maior, cada um se dá à avareza; e desde o profeta até o sacerdote, cada um procede perfidamente. 14 Também se ocupam em curar superficialmente a ferida do meu povo, dizendo: Paz, paz; quando não há paz. 15 Porventura se envergonharam por terem cometido abominação? Não, de maneira alguma; nem tampouco sabem que coisa é envergonhar- se. Portanto cairão entre os que caem; quando eu os visitar serão derribados, diz o Senhor. 16 Assim diz o Senhor: Ponde-vos nos caminhos, e vede, e perguntai pelas veredas antigas, qual é o bom caminho, e andai por ele; e achareis descanso para as vossas almas. Mas eles disseram: Não andaremos nele (Jeremias 6 – grifo nosso).
7 Até a cegonha no céu conhece os seus tempos determinados; e a rola, a andorinha, e o grou observam o tempo da sua arribação; mas o meu povo não conhece a ordenança do Senhor. 8 Como pois dizeis: Nós somos sábios, e a lei do Senhor está conosco? Mas eis que a falsa pena dos escribas a converteu em mentira. 9 Os sábios são envergonhados, espantados e presos; rejeitaram a palavra do Senhor; que sabedoria, pois, têm eles? 10 Portanto darei suas mulheres a outros, e os seus campos aos conquistadores; porque desde o menor até o maior, cada um deles se dá à avareza; desde o profeta até o sacerdote, cada qual usa de falsidade. 11 E curam a ferida da filha de meu povo levianamente, dizendo: Paz, paz; quando não há paz. 12 Porventura se envergonham de terem cometido abominação? Não; de maneira alguma se envergonham, nem sabem que coisa é envergonhar- se. Portanto cairão entre os que caem; e no tempo em que eu os visitar, serão derribados, diz o Senhor (Jeremias 8 – grifo nosso).
         Jeremias foi levantado pelo Senhor para profetizar contra o povo de Judá. Ele teve o pesado encargo de denunciar o pecado do povo, a maldade da nação, a idolatria, a falsidade, a avareza, o abandono dos caminhos de Deus, bem como anunciar o juízo que iria cair sobre a nação. O povo iria passar por um duro cativeiro na Babilônia, o qual duraria 70 anos como fruto da sua desobediência.
         Ele não se utilizava de um discurso genérico de desobediência. A denúncia contra o povo era feita de forma especificada, mencionando a que classe de pessoas estava direcionada, bem como o tipo de pecado cometido. Denunciou não só os do povo, como também os líderes, os reis, os escribas, os sacerdotes, os magistrados e dava o nome das transgressões praticadas, bem como advertiu quais seriam as consequências do mau procedimento.
         Nos capítulos 6 e 8 de Jeremias, o profeta denunciou, entre outros, os sacerdotes, os quais eram incumbidos de prestar o serviço religioso, devendo ensinar e instruir o povo na verdade. Jeremias os acusava de falsidade e de ter um procedimento pérfido. Os sacerdotes não só eram espiritualmente corruptos, corrompendo a si mesmos, como também eram canal de engano para o povo, fazendo-o errar. Eram omissos e não instruíam o povo na verdade. Profetizavam uma falsa paz, quando, em verdade, o que estava por vir era o despejar da ira e da disciplina de Deus por causa do pecado. Os sacerdotes não eram canal de cura para o povo, pois a verdade acerca das consequências do pecado e de um estilo de vida desviado de Deus não era anunciada. Os sacerdotes seriam também alvo do juízo de Deus por terem abandonado a verdade.
         Jeremias chama isso de “cura superficial” e de “cura leviana”, o que, em verdade, de cura não tem nada, já que a pregação da palavra não era canal para o Espírito de Deus convencer o homem do pecado, da justiça e do juízo de Deus, bem como guiá-lo na verdade (João 16).
         Fazendo um paralelo com os dias de hoje, vemos que a situação alcança um nível semelhante, já que a Palavra do Senhor, em grande parte dos meios evangélicos, é pregada com superficialidade, além do grande número de falsos mestres e profetas que se utilizam da Palavra para sustentar seus próprios pontos de vista, pervertendo os significados do texto para obter benefício próprio, tal como vemos na chamada “teologia da prosperidade”, em que tudo é canalizado para fazer com que o homem seja rico nesta terra, nesta vida.
         Diante de tal quadro de inverdades e de superficialidade, temos que perguntar pelas “veredas antigas”, ou seja, para aquilo que o Senhor estabeleceu como o padrão de caminho bom, a fim de que andemos nele e recebamos a cura para as nossas almas e a paz que dela provém (Jr 6:16). Devemos nos voltar para as próprias Escrituras, já que elas contêm tudo aquilo de que necessitamos para ter uma cura profunda do nosso ser na Presença de Deus. Devemos nos voltar para os próprios padrões da Palavra, porque ela mesma diz como deve ser pregada a fim de que possa ser canal de cura pelo atuar do Espírito Santo em nós.
         Veja o que diz a segunda carta de Paulo a Timóteo:
14 Tu, porém, permanece naquilo que aprendeste, e de que foste inteirado, sabendo de quem o tens aprendido, 15 e que desde a infância sabes as sagradas letras, que podem fazer-te sábio para a salvação, pela que há em Cristo Jesus. 16 Toda Escritura é divinamente inspirada e proveitosa para ensinar, para repreender, para corrigir, para instruir em justiça; 17 para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente preparado para toda boa obra (2 Timóteo 3 – grifo nosso).
         Veja, a própria Bíblia, neste pequeno trecho, diz da sua utilidade para a formação do homem de Deus e de sua consequente maturidade na vida cristã. Toda a pregação da Palavra tem de ser apta para veicular a verdade de Deus, ensinando, exortando e corrigindo o povo de seu mau procedimento, bem como o instruindo no caminho em que deve andar. Toda pregação tem de conter tais elementos para ser efetiva e funcionar como canal de cura para as nossas vidas.
         Além da distorção das verdades, constata-se outro grave problema, qual seja o ensino superficial da Palavra nos dias de hoje e é sobre estes aspectos que gostaria de tecer algumas considerações.
II) A “pregação superficial” e o “discurso das multidões”
         Este tipo de pregação superficial, a que chamo também de “pregação prática” (esta expressão é de A. W. Pink em Deus é Soberano. 2 ed, 2ª reimpressão. São Paulo: Fiel, 2008, p. 156), nada mais é do que um tipo de “ministração” que se baseia em um ensino raso e descontextualizado das Escrituras, visando produzir um resultado determinado. Leitor, não se engane, por trás de todo ensino, existe um resultado que se quer produzir, um modelo de homem que se quer formar, um sistema que se quer sustentar, há alguém que lucra com isso.
         Quero destacar que este tipo de “pregação” serve em grande parte aos modelos de “crescimento numérico” da igreja. Faz parte de uma “estratégia” para encher as congregações religiosas de uma “multidão”, as quais saem dessas congregações com a mesma velocidade e proporção na qual entram. As igrejas se tornam extremamente rotativas como um “drive-through de fast food”, a pessoa entra pega o pacote espiritual, come algo que não lhe cura e sai pior do que entrou, vacinada contra o “evangelho”, quando na verdade este nunca lhe foi pregado em sua essência e plenitude. O Evangelho não é anunciado em sua profundidade, porque, quando isto é feito e as pessoas se dão conta de que é necessário passar pelo caminho estreito de uma vida ao pé da cruz de Jesus, as multidões vão embora, restando somente os discípulos que acreditam na “loucura da pregação”.
         Para manter a multidão, o Evangelho da verdade é pervertido para satisfazer as necessidades mais imediatas do homem, criando-se um discurso triunfalista de riqueza de bens e prosperidade para alimentar a soberba da vida, e de cura e milagres para criar a ilusão do alívio do sofrimento, não sendo este “evangelho” mais do que uma “aspirina”, que tira a dor temporariamente, mas não remove a principal causa da calamidade humana, o pecado. As pessoas querem se ver restituídas no financeiro, na saúde, nos sentimentos, em seu bem-estar, mas não querem pagar o preço da caminhada pela porta estreita do arrependimento de pecados e a salvação e o senhorio de Cristo. O verdadeiro perdão de Deus não chega e a cura da alma não acontece e, com o tempo, o “fiel” não passará de um amontoado de cargas, totalmente dependente do sistema e frustrado com a sua miséria pessoal. O rebanho cresce numericamente, mas adoece também em uma velocidade descomunal.
III) A “pregação superficial”, o discurso da dominação do liderado através da construção da figura do líder como uma autoridade mística e intocável e um retorno indevido aos rudimentos do Velho Testamento
         Outra perversão que encontramos nos dias de hoje é a construção de um discurso subversivo de dominação do fiel através da criação de toda uma simbologia de misticismo da figura do líder, seja ele pastor, líder de ministério, obreiro, conselheiro, discipulador, etc. A pessoa é levada a crer no líder como uma pessoa infalível e inerrante, “a voz de Deus para sua vida”, uma pessoa inquestionável e cuja honra não pode ser exposta e tocada, sob pena de uma dura reprimenda por parte de Deus.
O líder é exaltado como um “super crente”, tendo sobre a sua vida uma “unção” que é transferível ao liderado pela obediência, honra e aliança incondicionais. O líder passa, então, a ser visto como a única opção de cura para a vida da pessoa. O liderado é adestrado a obedecer e trabalhar pelo sistema sem questionar, como um cavalo com cabresto. O líder requer a mesma posição de homens santos como Isaías, Jeremias, Ezequiel, Daniel, entre outros profetas do Velho Testamento; querem a “honra de profeta”. Outros já se autodenominam de “patriarcas”, requerendo o mesmo status de Abraão. Outros querem o status de “apóstolo”, não no sentido de um dos possíveis ministérios que Jesus quer nos dar para edificar a sua igreja, mas no sentido de ter o mesmo status de homens como Paulo e Pedro, a fim de se fazerem receptores inquestionáveis da “revelação” de Deus para a vida dos fiéis.
O líder é posto em um pedestal místico, o qual é usado para que o sistema religioso funcione e seus fins sejam atingidos, quer seja o reconhecimento dos líderes em sua visão caolha e megalomaníaca, quer seja a acumulação de riquezas por esta aristocracia religiosa. Constrói-se também todo um sistema de abusos, em que o liderado passa a estar debaixo de mecanismos de medo e intimidação, não podendo quebrar sua aliança e honra com líder, sob pena de receber de Deus uma grave punição. O líder vira um intermediador, um confessor, um oráculo entre o fiel e Deus, papel este que, segundo as Escrituras, somente Jesus pode desempenhar (1 Tm 2:5), criando-se toda uma “cultura de intermediários” (cf. CÉSAR, Marília de Camargo. Feridos em Nome de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2009, p. 32-33, 47. Este livro é uma excelente leitura para quem quiser se aprofundar no tema do abuso religioso). 
         Quanto a esta postura, quero lembrar ao leitor o sistema do Velho Testamento quanto ao Espírito Santo. Este era restrito aos sacerdotes, profetas e reis e somente estes eram alvo da unção para cumprir o seu ministério de liderar o povo. Contudo, a realidade do Novo Testamento é outra, conforme predito pelo próprio profeta Joel (Jl 2:28-32), qual seja a de que o Espírito Santo foi derramado sobre toda a carne e isto se cumpriu em Atos 2 no dia de Pentecostes, perdurando até o dia de hoje.
         O Espírito Santo está disponível a todos e não mais apenas aos sacerdotes, reis e profetas. Todos aqueles que crerem verão a glória de Deus se manifestando em sinais, milagres, prodígios, maravilhas e dons espirituais, sobretudo o maior de todos os milagres, qual seja uma alma se converter de seus maus caminhos e perseverar até a Canaã celestial.
         Alguns podem me contraditar, perguntando: mas a unção de Elias não foi transferida para Eliseu? E ele não a recebeu em virtude de ser aquele que andava mais perto de Elias do que todos os outros discípulos de profeta? (2 Reis 2).
Esse é um dos episódios mais utilizados para sustentar todo um esquema de dependência dos líderes espirituais. A pessoa é condicionada a entender que a mesma unção que está sobre o líder estará sobre o liderado e este tem de obedecê-lo sem reservas para prosperar e receber a unção. Cria-se, então, todo um sistema de hierarquia rígida e inquestionável para fazer com que uma determinada estrutura religiosa se sustente.
Com certeza, a unção de Elias foi transferida para Eliseu, mas a razão de tal transferência não foi a vontade do homem. Não foi algo que aconteceu por causa da aliança que eles tinham. A transferência não se deu por causa do esforço humano. Foi algo determinado pelo eterno propósito de Deus, o qual de antemão, desde antes da fundação do mundo, estabeleceu que assim o fosse. Deus tinha um propósito na aliança entre Eliseu e Elias, e a transferência da unção ocorreu já que o Senhor tinha em vista a continuidade do mesmo tipo de ministério desempenhado por Elias e escolheu de forma soberana o vaso que seria usado para tal, qual seja Eliseu. Tal explicação é dada tomando como base a carta de Paulo aos Efésios, principalmente os capítulos 1 e 2, em que vemos que todas as coisas foram estabelecidas pelos decretos de Deus desde antes da fundação do mundo, tendo o Senhor predestinado inclusive as boas obras que faremos para o louvor da sua glória. A Palavra do Senhor é clara no sentido de que o nosso chamado é estabelecido de forma soberana por Deus, o qual determina “segundo o conselho de sua vontade” o ministério que havemos de exercer mediante a sua graça, tendo determinado de antemão as boas obras que faremos (Ef 1:11; Ef 4:7; Ef 2:10).
Repiso, não estamos mais no sistema do Velho Testamento, a unção do Espírito Santo é derramada sobre todo aquele que crê e busca ao Senhor. A unção não é algo que está na mão do homem e que ele possa decidir para quem quer transferir. Se Deus quiser transferir a unção através da mão de um líder, Ele o fará segundo os seus decretos eternos para um fim útil, distribuindo os dons espirituais como Lhe apraz (1 Co 12:4-11). Se Deus quiser, Ele pode até mesmo levantar um vaso que nós nem conhecemos, diferente de nosso líder, para trabalhar em nós e nos transferir unção, segundo o próprio conselho de sua vontade para edificar a sua igreja.
Este tipo de argumentação acima descrita mostra um princípio fundamental de hermenêutica bíblica, ou seja, de interpretação, qual seja de que todo o texto do Velho Testamento deve ser interpretado à luz das verdades definitivas estabelecidas no Novo Testamento. A interpretação do Velho Testamento só é válida e autêntica, se interpretada à luz da obra redentora de Cristo e do eterno propósito de Deus na redenção do homem, devendo refletir os atributos incomparáveis e a vontade soberana do Senhor e não uma religião de obras e méritos humanos.
IV) A “pregação superficial”, o retorno indevido dos rituais do Velho Testamento e o exemplo histórico da Reforma Protestante     
         Atualmente, há um retorno equivocado para os rituais e até mesmo as festas do Antigo Testamento, o uso de shofar, de danças e músicas típicas do povo de Israel, das bandeiras de Israel e de suas tribos, a construção de arca da aliança, entre outros rituais da lei judaica, os quais servem para criar toda uma atmosfera para cobrir os líderes com um manto místico e intocável.
         Isso tudo não passa de heresia. A Reforma Protestante examinou bem esse assunto e todos naquela época concluíram pela abolição dos cerimoniais da lei, uma vez que Cristo veio e consumou a sua obra na cruz, a sua realidade e obra são aplicadas em nós através do Espírito Santo, afastando todos esses rituais que eram apenas sombras da bela realidade que hoje temos em Jesus. A Confissão Belga de 1561, em seu artigo 25, assim dispõe sob o título “a abolição do cerimonial da Lei”:
Cremos que as cerimônias e figuras da lei terminaram com a vinda de Cristo e que, assim, todas as sombras foram cumpridas, de modo que o uso delas deve ser abolido entre os cristãos; no entanto, a verdade e a substância delas permanecem conosco em Jesus Cristo, em quem elas têm o seu cumprimento. Entretanto, ainda usamos os testemunhos da lei e dos profetas para nos confirmamos na doutrina do evangelho e também para regularmos a nossa vida em toda a honestidade para a glória de Deus, de acordo com a sua vontade (BEEKE, Joel R. & FERGUSON, Sinclair B. (Org.). Harmonia das Confissões Reformadas. São Paulo: Cultura Cristã, 2006, p. 126).
    Os belgas usaram os seguintes versículos bíblicos para chegarem à redação do artigo acima transcrito:
Pois Cristo é o fim da lei para justificar a todo aquele que crê (Rm 10:4).
Eis que eu, Paulo, vos digo que, se vos deixardes circuncidar, Cristo de nada vos aproveitará. E de novo testifico a todo homem que se deixa circuncidar, que está obrigado a guardar toda a lei. Separados estais de Cristo, vós os que vos justificais pela lei; da graça decaístes. Nós, entretanto, pelo Espírito aguardamos a esperança da justiça que provém da fé. Porque em Cristo Jesus nem a circuncisão nem a incircuncisão vale coisa alguma; mas sim a fé que opera pelo amor (Gl 5:2-6).
Ó insensatos gálatas! quem vos fascinou a vós, ante cujos olhos foi representado Jesus Cristo como crucificado? Só isto quero saber de vós: Foi por obras da lei que recebestes o Espírito, ou pelo ouvir com fé? (Gl 3:1-2).
Guardais dias, e meses, e tempos, e anos. Temo a vosso respeito não haja eu trabalhado em vão entre vós (Gl 4:10-11).
Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa de dias de festa, ou de lua nova, ou de sábados, que são sombras das coisas vindouras; mas o corpo é de Cristo (Cl 2:16-17).
V) A “pregação superficial”, o discurso dos “frutos” e sua consequente “salvação pelas obras” e a verdade da salvação pela graça de Deus
Outro texto que gostaria de trazer à colação é o contido em João 15. Com base neste texto, muitos líderes dizem que o cristão que não produz discípulos será cortado fora por Deus, “a árvore que não produz frutos será cortada”. Essa é uma heresia que tem sido disseminada para sustentar o sistema de arrebanho de “multidões”.
O texto de forma alguma se refere aos frutos como discípulos, mas diz da nossa união com Cristo. Se a pessoa não estiver unida a Cristo e não perseverar nEle, não tem como ter uma vida abundante em Deus. É essa união com Cristo que aperfeiçoa o nosso caráter através da “poda” que o Pai Eterno faz em nós.
Se os frutos se referissem aos discípulos, estaríamos implicitamente dizendo que aquele que não produz discípulos perde a sua salvação em Cristo e, estaríamos implicitamente assumindo, por via de consequência, que a nossa salvação está dependendo de obras do esforço humano. Tal interpretação é herética, uma vez que a Bíblia é clara ao dizer que a nossa salvação é pela graça mediante a fé (Ef 2:8) (é o Sola Gratia, da Reforma Protestante). Graça é um favor concedido para aqueles que, em verdade, mereciam o inferno e não podem obter a salvação por meio das obras. A obra de Cristo na cruz foi definitiva e suficiente para anular toda a condenação proveniente do pecado. A obra da cruz está consumada e não pode ser aperfeiçoada por qualquer esforço humano (cf. STOTT, John. Cristianismo Básico. Viçosa: Ultimato, 2007, p. 129-130).
Toda a obra que fazemos como cristãos deve ser motivada por amor ao Senhor em resposta de gratidão a uma graça dEle recebida, como fruto de um novo coração purificado pela fé.
VI) A pregação sistemática e a “pregação de pano de retalhos”
A Palavra fala por si mesma e diz como ela mesma tem de ser proclamada.
À luz do texto de 2 Timóteo 3:14-17, já citado acima, não podemos esquecer que toda a Escritura é inspirada por Deus, portanto, a Bíblia sagrada é inerrante e plenamente suficiente para instruir o homem no caminho em que deve andar. Tudo aquilo de que precisamos para andar no caminho da salvação foi revelado por Deus na Bíblia, portanto, tudo aquilo que vier a título de “revelação” ou “discernimento” deve estar de acordo com as Escrituras e, se não estiver de acordo com o sistema de valores da Bíblia, deve ser rechaçado e tido por heresia.
Outra consequência da suficiência e inerrância da Bíblia, bem como de sua imutabilidade (o Sola Scripura, da Reforma Protestante), é que a experiência não está acima dos ditames das Escrituras. Hoje, há muita gente querendo que a sua experiência individual seja a regra geral para todas as pessoas, bem como que fazem de uma experiência uma “revelação” com peso de “verdade”, colocando-a de forma implícita ou explícita acima da Bíblia.
Outro princípio saudável de hermenêutica bíblica é que toda a interpretação começa com a pessoa de Deus. “No princípio, Deus” é mais do que uma expressão de introdução em Gênesis 1:1; é um princípio fundamental de compreensão da bíblia como um todo (cf. STOTT, John. Cristianismo Básico. Viçosa: Ultimato, 2007, p. 11). No cristianismo, toda a inciativa na salvação partiu de Deus, Ele estabeleceu seus métodos para tal, bem como estabeleceu todas as coisas segundo o conselho de sua vontade, para que tudo redundasse para o louvor de sua glória e não com qualquer esforço humano nesse sentido.
Todo texto bíblico tem início, meio e fim, estando inserido dentro de um texto maior de um livro, bem como foi escrito dentro de um contexto histórico que lhe dá o seu real significado.
Quando preparamos uma pregação, não podemos interpretar o texto de forma isolada, “as tiras e aos pedaços”, mas temos de fazer um estudo do texto e de seu contexto histórico para não cometermos desvios de interpretação e achar no texto o seu real significado. Para isto, muito útil é o recurso de boas Bíblias de Estudo, dentre as quais posso citar a “Bíblia Shedd”, a “Bíblia de Estudo de Genebra”, a “Bíblia Thompson”, “Bíblia Anotada Expandida de Charles Ryrie”, “A Bíblia de Estudo Macarthur”.
Todo texto também tem de ser interpretado de forma sistemática, ou seja, à luz da Bíblia e de seus princípios como um todo e não de forma isolada. A interpretação extraída tem de estar de acordo com todo o sistema de valores bíblicos, tendo o Novo Testamento como verdade definitiva, de modo que a interpretação obtida que se choque com as demais partes da Bíblia deve ser descartada e tida como heresia. Deve haver um trabalho de harmonização interpretativa que preze pelo equilíbrio da verdade, de modo que a interpretação obtida reflita a unidade, a coerência e a completude e inerrância das Escrituras.
Toda a heresia é um ensino distorcido das escrituras. É a extração de um texto ensinado fora de seu contexto para que ele adquira um significado que não lhe é próprio, visando perpetuar um determinado modelo de estrutura religiosa. É também a supervalorização de um princípio bíblico em detrimento de outros, resultando em um sistema de desequilíbrio da verdade.
A chamada “pregação superficial” ou “pregação prática” nada mais é do que a utilização de textos bíblicos sem a riqueza e a profundidade de seus contextos histórico-textual, sendo passado para as pessoas de forma mística, a título de “revelação” ou “Palavra Rhema de Deus” [Deus que me perdoe, mas dá vontade de dar uma “rhemada” na cara desse tipo de pregador para ver se eles tomam jeito!!!].
O pregador dessa linha muitas vezes pega textos isolados para montar uma pregação igual a um pano formado de retalhos. Puxa um texto daqui, outro dacolá e o contexto da Palavra acaba se perdendo. É neste tipo de “pregação” que se cometem as maiores heresias. O pregador manipula os textos de forma descontextualizada para disseminar as suas mentiras e desvios. É assim que os falsos profetas se instalam nas igrejas, pregando um “evangelho” de acordo com a sua própria sensualidade e apetites pessoais, conforme se depreende da carta de Judas.
Podemos até pregar baseados em textos de vários livros da Bíblia, mas temos de ter muito cuidado para não perder a unidade e coerência do todo, bem como precisamos ter um eixo temático muito bem definido para não cometermos desvios.
Por fim, nunca podemos esquecer que a Palavra de Deus não é um trabalho de compreensão científica, uma experiência abstrata do intérprete. O Evangelho é poder de Deus para a transformação de nossas vidas e canal para a salvação. Cada um de nós deve buscar o entendimento do Espírito Santo para entender, aplicar e viver a Palavra de forma que ela nos transforme. A intimidade com o Espírito Santo é fundamental para que a letra da Palavra não nos mate, mas gere vida espiritual genuína. A experiência não pode se resumir ao ensino, mas deve alcançar a correção, a exortação e a aplicação através da instrução na justiça de Deus.
VII) A “pregação superficial” e “a abolição do homem”
Como já mencionado acima, por trás de todo ensino, existe um resultado que se quer produzir, um modelo de homem que se quer formar, um sistema que se quer sustentar, há alguém que lucra com isso.
Hoje, a chamada pregação expositiva tem sido abandonada principalmente nos meios pentecostais e neopentecostais. Há uma crítica ao modelo “tradicional” de pregação da Palavra.
Como C. S. Lewis bem explica acerca da crítica que se faz aos valores tradicionais, em sua obra chamada “A Abolição do Homem”, os inovadores, neste caso os pregadores da “pregação superficial”, criticam a pregação expositiva, porque, em verdade, querem estabelecer o seu próprio sistema de valores (cf. LEWIS, C. S. The Abolition of Man. New York: HarperCollins, 2001, p. 29).
Tais inovadores buscam estabelecer seus próprios valores em substituição ao equilíbrio “tradicional” da verdade bíblica para sustentar um sistema religioso que alcance seus objetivos, quer seja de fazer do Evangelho uma máquina de fazer dinheiro, quer seja para “arrebanhar multidões”, entre outros objetivos, pondo em prática um ativismo religioso de proporções vertiginosas.
Que tipo de homem querem produzir?
Usando uma expressão de C. S. Lewis, os inovadores querem produzir “homens sem tórax”, ou seja, homens puramente cerebrais. Homens sem o assento da nobreza, da grandeza de alma, de emoções organizadas por hábitos treinados dentro de sentimentos estáveis (Op. cit, p. 24-25). Querem formar homens que nutram uma obediência cega e irrestrita ao sistema. Nesta visão caolha, o homem deve obedecer sem questionar, sem se utilizar de sua capacidade de avaliar, deve trabalhar bastante pelo sistema e, em muitos casos, pagar para trabalhar, engordando a conta bancária dos “prósperos da cúpula religiosa”.
Toda a interpretação bíblica deve levar à emancipação do homem através da exposição da verdade. “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará” (João 8:32). Não tiramos as pessoas do mundo para encarcerá-las em um sistema religioso de ativismo e ostentação dos bens, mas para salvá-las com o puro e cristalino Evangelho da verdade através do sacrifício de Jesus, no qual somos salvos pela graça mediante a fé.
  Devemos criar um homem livre em Deus, à luz de todo um sistema equilibrado de princípios e valores que conduz à salvação pela graça e não pelas obras humanas, primando pelo fruto do Espírito através da graça de Deus.
O maior resultado da “pregação” ora combatida é o abandono das doutrinas fundamentais da salvação pela graça mediante a fé, produzindo um “evangelho das obras”, o qual gera um indivíduo que deixa de ser um “ser humano” para se tornar um “fazer humano”, um indivíduo que deixa de desfrutar da aceitação incondicional da graça de Deus, para mergulhar no sistema da aceitação condicional de suas obras para ser aceito pelo sistema.
VIII) Considerações finais
Quero deixar claro que existem pastores, mestres, apóstolos, profetas, evangelistas, discipuladores, conselheiros e líderes sérios, que fazem o seu trabalho de forma correta e com amor a Cristo. Não estou criticando nenhuma forma ou estratégia de evangelização, nem sou contra pessoas que querem ganhar muitas pessoas para Jesus, trazendo-as para as suas congregações. Uso o termo “multidão” entre aspas não no sentido de desqualificar, por exemplo, o trabalho de igrejas que trabalham com células, grupos familiares, núcleos de evangelização ou qualquer estratégia semelhante, mas no sentido da utilização que determinadas pessoas fazem desse discurso sem a devida propagação sadia da Palavra de Deus com a apresentação das doutrinas fundamentais da fé. Não critico o “uso” de ferramentas de evangelização, mas sim os “abusos” e “distorções” que determinadas pessoas fazem para atingir objetivos pessoais à custa do Evangelho de Deus e de sua essência. A essência deste texto é contra a pregação superficial, não o uso de estratégias de evangelização. O texto se posiciona contra um tipo de pregação que estimula o ativismo e o mérito do esforço humano em detrimento da espinha dorsal do Evangelho que é a graça de Deus.
Não estou também criticando o título de nenhum líder, mas pessoas que se utilizam de um “título” para proveito pessoal. O foco aqui não é questionar os “títulos” de pessoas reputadas como “apóstolos”, “profetas”, “bispos” ou outros títulos, mas fiz menção a um uso deturpado de um “título” que determinadas pessoas fazem, certamente não todas, como uma forma de empreender uma visão mística da figura do líder com fins de manipulação e como forma de se fazer inquestionável diante do homem. Quero lembrar que Jesus até calava a boca dos demônios para que eles não dissessem que Ele era o filho de Deus (Mc 1). Jesus não desenvolveu seu ministério com base em um “título”, mas com a manifestação de uma essência viva que transformava as pessoas, levando-as ao arrependimento, fé e salvação eterna. Jesus não quis que as pessoas o vissem como um portador de um título, nem queria satisfazer as necessidades imediatas dos fiéis com seus milagres, mas queria levar as pessoas ao entendimento do Reino de Deus e sua essência transformadora do nosso ser, bem como da salvação que nos leva a comunhão eterna com o Pai.
Creio no discipulado e que todos nós precisamos de orientação de pastores, conselheiros, líderes para o nosso crescimento espiritual. Ninguém pode ser autossuficiente e caminhar sozinho no Evangelho, até porque um dos meios de graça é a comunhão. Precisamos de ajuda e direção, precisamos de pastores e de líderes, mas não de “babás espirituais”. Repiso, creio no discipulado e no aconselhamento, mas no discipulado e no aconselhamento que libertem, não no discipulado e no aconselhamento que nos ensine a olhar para o homem, mas que nos ensine a olhar cada vez mais para Deus e que a cada dia precisemos menos de um líder, pastor, conselheiro, discipulador, um irmão mais maduro na fé para ter relacionamento e conhecimento de Deus. O discipulado, o aconselhamento tem de ser um equilíbrio de interdependência, já que o corpo de Cristo é um organismo dinâmico, cada um usando de seu dom para edificar o seu irmão, não podendo virar uma relação de dependência emocional. Se toda a hora você tiver de se reportar a um “intermediário humano” para viver a sua vida com Deus, isso será uma barreira para a maturidade do discípulo de Jesus e da cura de sua alma e arraigará a alma da pessoa na zona de não aprender com a experiência de se aperfeiçoar tomando as decisões que o tornarão apto para interagir no meio social.
Sabemos que houve excessos dentro determinados modelos de evangelização, mas, graças a Deus, ainda existem pessoas sérias, que estão levando a palavra de Deus dentro do seu contexto, ensinando, curando, salvando, libertando e fortalecendo a muitos por ai, não somente ficando sentados em bancos de igreja, só dando trabalho e recebendo conhecimento. Precisamos trabalhar em prol da causa de Cristo, mas com equilíbrio, de modo que aprendamos a compatibilizar a família, o trabalho, a nossa saúde física, nossos relacionamentos, nossos estudos, lazer, descanso, enfim, todas as nossas necessidades humanas fundamentais, bem como cuidar do nosso relacionamento individual com o Pai eterno. As pessoas não verão em nós um referencial e nem o Evangelho como um estilo de vida a ser seguido se formos pessoas desequilibradas.
Não cito nomes, nem digo que os todos os pastores de um determinado modelo de evangelização são movidos pelo dinheiro e isso o texto de forma alguma enfocou, apenas quero dar subsídios para pessoas que, porventura, estejam passando por esta situação e denunciar não o “uso” de metodologias de evangelização, mas do “abuso”, da “perversão” das verdades fundamentais do Evangelho.
Por fim e não menos importante, o texto também ensina como se deve interpretar a Palavra com solidez. Os princípios de hermenêutica, de interpretação, aqui expostos são claros, éticos e com embasamento bíblico. A hermenêutica pode ser mais bem definida como uma “prudência” e não como uma “ciência” e, justamente por isso, nós necessitamos fazer uma análise epistemológica (quanto aos critérios de validez do que chamamos de verdade), axiológica (quanto aos valores que ela veicula), teórica, mas, sobretudo, fenomenológica da interpretação, ou seja, uma hermenêutica consequencial, que analisa como o modelo teórico produz seus efeitos na prática e é neste campo que vamos avaliar os desvios de implantação do modelo adotado e propor os devidos ajustes. A hermenêutica utilizada no texto é consequencial, analisando os “abusos” de implantação de modelos adotados e suas decorrências práticas, o que necessita de nós uma manifestação no sentido de cortar os excessos encontrados no processo.
Caro leitor, este texto é uma denúncia contra os tempos que estamos vivendo, um tempo de falsos mestres e do espírito do anticristo. Acima de tudo, desejo a você que o Espírito Santo de Deus te conduza no caminho da verdade que liberta, a fim de que você seja um homem cheio da graça e da unção do Senhor para transmitir amor e graça para a vida das pessoas. Que você seja sóbrio e vigilante nestes tempos de grande confusão, buscando sempre um entendimento correto e equilibrado da Palavra de Deus.
A paz seja com todos vocês.

Pablo Luiz Rodrigues Ferreira
09 a 11 de outubro de 2011
rugidodaverdade.blogspot.com