terça-feira, 28 de junho de 2011

PRECISAMOS MORRER SE QUEREMOS VIVER


Escrito por A. W. Tozer

"Deixa-me morrer - se não eu morro – deixa-me somente ver o Teu rosto". Essa foi a oração de Agostinho.
"Não escondas de mim o Teu rosto", clamou ele numa agonia de desejo. "Oh! que eu pudesse repousar em Ti. Oh! que entrasses em meu coração, e o inebriasses, para que eu esquecesse os meus males, e Te abraçasse, meu único bem."
Este anseio por morrer, afastar do caminho a nossa forma opaca de modo que não ocultasse o amorável rosto de Deus, é um anseio imediatamente compreendido pelo homem de coração faminto. Morrer para não morrer! Não há contradição aqui, pois diante de nós há duas espécies de morte, uma que deve ser procurada e outra que deve ser evitada a todo custo.
Para Agostinho, a visão de Deus desfrutada interiormente era a própria vida, e qualquer coisa menos que isso era morte.
Existir em eclipse total sob a sombra da natureza sem a Presença real era uma condição intolerável. O que quer que escondesse dele o rosto de Deus tinha que ser tirado fora do caminho, mesmo que fosse o seu amor próprio, o seu mais querido ego, os seus mais acariciados tesouros. Daí ele orava: "Deixa-me morrer".
A ousada oração do grande servo de Deus foi ouvida e, como se podia esperar, foi respondida com uma plenitude de generosidade característica de Deus. Ele morreu com a espécie de morte da qual Paulo testificou: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim". Sua vida e seu ministério continuaram e sua presença está sempre aí, em seus livros, na igreja, na história; mas, por extraordinário que seja, ele é estranhamente transparente; mal se vê a sua personalidade, enquanto que a luz de Cristo brilha através dela com uma espécie de benéfico esplendor.
Sempre houve os que pensam que para afastar-se do caminho é necessário retirar-se da sociedade; assim, eles rejeitavam todas as relações humanas e iam para o deserto ou para as montanhas ou para a cela do eremita para jejuar, trabalhar e lutar para mortificar a sua carne. Conquanto seu motivo fosse bom, é impossível recomendar o seu método. Pois não é escriturístico crer que a natureza do velho Adão possa ser vencida dessa maneira. É absolutamente cruel morrer por meio de maltratos ao corpo ou deixando definhar os afetos. Só se morre através da cruz.
No coração de todo homem há uma cruz e um trono, e o homem está no trono, enquanto não se coloca na cruz permanecerá no trono. Essa é a essência do desafio do evangelho e o desprezo pelas coisas espirituais, revelado pela grande maioria dos homens, pode ser explicado pela falta de renúncia do próprio eu. Os homens desejam ser salvos naquele grande dia, mas não querem morrer para si mesmos e viver para Deus. Insistem em ficar no trono e negam a Cristo o direito de governá-los, preferindo viver os padrões mundanos do que os padrões evangélicos. O convite da cruz continua sendo endereçado a todos os homens que vivem uma vida infeliz por não gozarem do amoroso domínio de Cristo em suas vidas. Para aqueles que continuam sendo reis em seus pobres corações, o que lhes resta sempre será uma vida de sombras, tristezas sem consolação e esterilidade espiritual. O mais grave de tudo ocorrerá no dia do juízo quando teremos de fitar a face do Reto Juiz e responder sobre essa questão. Para os obstinados que resistirem aos apelos de Cristo, deixando de reconhecer o seu senhorio, restará apenas a condenação eterna.
Se não morrermos para nós mesmos, Cristo não será nosso Salvador e nessa condição perderemos os tesouros eternos que Ele tem preparado para aqueles que o amam. O nosso eu não crucificado nos privará das gloriosas consolações que a fé em Cristo dispensa aos contritos, da comunhão inestimável com os servos de Deus, da intimidade espiritual com o Criador, do louvor incontido diante das perfeições divinas e da visão correta da existência e da eternidade.

[P. S. do Pablo: Espero que tenham gostado deste texto e que vocês se sintam estimulados a conhecerem um pouco mais deste autor, que sem dúvida foi um dos maiores escritores cristãos existentes].
rugidodaverdade.blogspot.com

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