segunda-feira, 1 de agosto de 2011

A COMPAIXÃO DE JESUS: A RESTAURAÇÃO DA IMAGEM DO CORAÇÃO DO PAI


No Evangelho de João, capítulo 11, vemos a conhecida história da ressurreição de Lázaro. No contexto, Marta e Maria mandaram mensageiros a Jesus para dizer que Lázaro, irmão delas, a quem Jesus amava, estava enfermo. Recebendo a notícia, Jesus logo declarou o propósito da doença de Lázaro: “Esta enfermidade não é para a morte, e sim para a glória de Deus, a fim de que o Filho de Deus seja por ela glorificado” (v.4). O texto expressamente declara que Jesus amava Lázaro, Marta e Maria, mas ainda se demorou quatro dias no lugar onde estava, e, findo o tempo, Jesus instou os seus discípulos a irem juntos até Betânia, pelo que estes lhe advertiram de que os judeus já tinham procurado apedrejá-lo naquele lugar e que ele corria risco de vida ao voltar para lá, contudo, Jesus foi sabendo que tinha de cumprir a vontade do Pai na ressurreição de Lázaro; a incredulidade ainda tinha tomado o coração de Tomé que declarou que os discípulos estavam indo para Betânia ser mortos junto com Jesus (vv. 5-16).
Enfim, Jesus chega em Betânia, já havia quatro dias que Lázaro tinha falecido, as irmãs ainda lamentavam pela morte do irmão e os judeus ainda estavam a consolá-las pela perda.
Marta conhecia Jesus e sabia dos milagres que Ele podia operar, sabia que Ele poderia curar seu irmão se estivesse com eles no tempo da enfermidade, contudo, ela declarou a Jesus que, mesmo naquela circunstância, Deus ouviria o que Ele pedisse. Marta passou a desenvolver uma fé em Jesus no sentido que Ele tinha autoridade sobre a morte (vv. 17-22), pelo que Jesus, além de dizer que Lázaro haveria de ser ressuscitado do túmulo, declarou a verdadeira natureza do Espírito de ressurreição: “Eu sou a ressurreição e a vida. Quem crê em mim, ainda que morra, viverá; e todo o que vive e crê em mim não morrerá, eternamente” (vv.25-26). Marta, então, declara que ela crê nessa verdade e que Jesus é o Filho de Deus.
Esta é uma fé que temos de desenvolver em relação a Jesus.
A primeira lição que podemos transpor do texto para nossas vidas é que não há ser humano debaixo do sol que não tenha de conviver com a dor, o sofrimento das circunstâncias difíceis, o luto das perdas, contudo, a diferença é como processamos as perdas em nosso coração e como continuamos a viver.
Diante das perdas e das circunstâncias difíceis, o que temos cultivado em nosso coração para consolar a nossa alma?
A humanidade tem fabricado os seus próprios consolos, para não dizer seus próprios ídolos e escapes, com a finalidade de consolar a sua alma: os vícios, as dependências de coisas e de relacionamentos, o sexo e o prazer contrários aos padrões de Deus, entre muitos outros que deixam a alma ligada, presa e longe de Deus.
E nesta hora temos de relembrar uma realidade básica acerca de nossa natureza humana: a primeira perda da qual precisamos ser consolados é a perda do relacionamento com Deus. Por causa do pecado, o ser humano é naturalmente separado de Deus, possuindo um vazio na alma que só Ele pode preencher. Na medida em que temos a reconciliação com o nosso Criador, através do arrependimento dos nossos pecados e da fé em Jesus Cristo e na sua obra de salvação, temos de desenvolver uma vida de busca de relacionamento de dependência e intimidade com Ele a fim de que sejamos transformados pelo poder do Espírito Santo, o qual nos convence do pecado, da justiça e do juízo de Deus, guiando-nos em toda a verdade (João 16: 8 e 13).
Muitas vezes, as nossas perdas se dão em nossos relacionamentos. Há pessoas que vão nos ofender, contraindo “dívidas impagáveis” conosco. Nessas circunstâncias, tudo que podemos e devemos fazer é perdoar a fim de que esses relacionamentos partidos sejam curados e tenhamos paz com Deus, uma vez que tudo aquilo que nos separa do nosso próximo nos separa de Deus. Não temos como amar a Deus e odiar o próximo, são realidades incompatíveis entre si e não podem ocupar o mesmo espaço no coração do homem.    
As perdas fazem parte do processo normal da vida humana, contudo, nada acontece por acaso. Não existe acaso, porque todas as coisas estão debaixo da soberana vontade de Deus e Ele quer cumprir um propósito específico em nós através de todas as circunstâncias pelas quais passamos.
Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito. Porquanto aos que de antemão conheceu, também os predestinou para serem conforme a imagem de seu Filho, a fim de que ele seja o primogênito entre muitos (Romanos 8:28-29).
O texto acima citado não diz que apenas as coisas boas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, mas “todas as coisas”, inclusive as perdas, as dores, as provações e o propósito destas circunstâncias é formar em nós a imagem de Cristo, já que Deus nos “predestinou para sermos conforme a imagem de seu Filho”. Tais contingências cumprem em nós o propósito de aperfeiçoar o nosso caráter a fim de que Deus seja glorificado através da nossa vida, obras e atitudes, para que sejamos cristãos mais eficazes e operosos para o Reino de Deus.
Deus quer criar em nós um testemunho de superação com o objetivo de manifestar a Sua glória em nossas fraquezas, fazendo-nos superar as circunstâncias mais difíceis de nossa vida. Esse foi o propósito na morte e ressurreição de Lázaro (João 11:4).
Retornando para a narrativa da história, a partir do versículo 28, vemos Maria encontrar-se com Jesus e chorar aos seus pés. A partir daqui, encontra-se um elemento novo, diante da dor e do choro de Maria, Jesus “agitou-se no espírito e comoveu-se” (v.33), ele chorou (v.35) e novamente se agitou em si mesmo (v.38), ordenando que se tirasse a pedra que fechava o túmulo de Lázaro, declarando: “não te disse eu que, se creres, verás a glória de Deus?” (v.40). Jesus orou ao Pai, ordenando em seguida que Lázaro saísse do túmulo, pelo que este saiu, tendo os pés e as mãos ligadas por ataduras e o rosto envolto num lenço (vv. 41-44).
O elemento novo que encontramos aqui é a compaixão de Jesus diante da morte de Lázaro e o sofrimento experimentado por suas irmãs e pelos seus entes queridos. Jesus sofreu junto com eles, compadeceu-se, agitou-se em espírito e chorou.
Jesus é a expressão exata do ser de Deus Pai (Hebreus 1:3). Assim como Jesus se compadece de nossas fraquezas e adversidades, o coração caloroso, gentil, doce e cheio de amor de nosso Deus Pai também se compadece de nós em meio de nossas dificuldades.
O amor de Deus por nós se expressou na criação e também em nossa redenção.
Na criação, formando, com seu imenso amor, cada parte de nosso corpo, atributos, feições, belezas, colocando em nós uma singularidade que nenhum outro ser que tem o fôlego de vida possui, qual seja o privilégio de ser sermos à imagem e semelhança do próprio Deus.
Na redenção, Deus se compadeceu de nossa miséria, dando-nos a oportunidade de salvação e sacrificando em nosso favor o que Ele tem de mais precioso, seu filho Jesus.
Deus não parou por aí. Hoje, Ele nos dá outro tesouro, o Espírito Santo, que nos traz a doce e poderosa presença de Deus, uma presença perpétua e inseparável de nosso ser. Com o Espírito Santo, temos o privilégio de ser a “casa viva de Deus”. Ele se compadece de nós e nos capacita para vivermos uma vida vitoriosa.
Também o Espírito, semelhantemente, nos assiste em nossa fraqueza; porque não sabemos orar como convém, mas o mesmo Espírito intercede por nós sobremaneira, com gemidos inexprimíveis. E aquele que sonda os corações sabe qual é a mente do Espírito, porque segundo a vontade de Deus é que ele intercede pelos santos (Romanos 8:26-27).
Ninguém pode se comparar a este Deus. Você já parou para pensar: como é que criaturas tão decaídas e desobedientes como nós têm o privilégio de ser habitação de um Deus santo e puro?
Você já parou para pensar também: quem você acha que Deus é? Ou melhor, qual é a imagem, o conceito de Deus que você tem em seu coração? Não estou falando a respeito do que você sabe a respeito de Deus por ler a Bíblia, mas do que você realmente sente a respeito dEle em seu coração. Quais são seus sentimentos a respeito de Deus?
Na hora da tribulação, você acha que Deus é um pai insensível, desinteressado, distante, que te abandonou? Ou então, nessas horas, você vê a adversidade como uma oportunidade de crescimento e aperfeiçoamento do seu caráter, sendo uma parte da providência de Deus para a sua vida, percebendo e sentindo Deus como um pai amoroso, presente, educador, interessado em você? Se você percebe e sente Deus da primeira forma, então você tem um coração de órfão e precisa de transformação para viver a vida abundante de Deus. Se você percebe e sente Deus da segunda forma, então você tem um coração de filho.
Em qualquer caso, só tenho um conselho: busque a Deus de todo o seu coração e seja transformado por seu Espírito Santo, entregando-se a Ele, já que somente Ele pode ressuscitar o seu coração, dando-lhe um verdadeiro coração de filho e restaurando a paternidade dEle em sua vida.
A ressurreição de Lázaro nos mostra que algo mais do que um corpo pode ser retirado da morte física. A ressurreição de Lázaro deu à luz a novos convertidos, uma vez que muitos creram nEle (v. 45). O milagre realizado gerou vida espiritual nos corações de muitos, ressuscitando-os da morte espiritual.
E onde está hoje este Espírito de ressurreição? Como já disse, habitando dentro de nós, os remidos em Cristo. Ele opera em nós a energia divina que nos capacita não só para viver uma vida vitoriosa contra o pecado, aperfeiçoando em nós o caráter de Cristo, mas também concede a nós uma energia divina capaz de gerar vida em outras pessoas e sermos o veículo dos milagres de Deus nessa terra. Veja só o que diz o texto de Efésios 1:19-20, na tradução de J. B. Philips: “Quão tremendo é este poder disponível a nós os que crêem em Deus. Este poder é a mesma energia divina que foi demonstrada em Cristo quando Ele ressuscitou-o dos mortos” (traduzido livremente do inglês).
A compaixão de Deus por nós é tão extrema que Ele nos deu o Espírito Santo para habitar em nós com a finalidade de restabelecer o relacionamento anteriormente rompido com Ele, bem como nos propiciar uma transformação de todo o nosso ser. A respeito deste assunto, Leanne Payne, analisando a obra de C. S. Lewis acerca do Espírito Santo e sua união conosco, assim declara:
Deus por seu Espírito pode habitar no homem; cristãos estão ligados com o Absoluto. Com brilhante clareza, Lewis revela que sobre esta realidade todas as filosofias e ideologias do homem tropeçam. Nisto o Cristianismo é diferente de todas as outras religiões. A menos que alguém seja preenchido pela Presença Real do Cristo ressurreto, ele não pode ver o Reino de Deus. O infinito Deus é unido com o dependente e o derivado, com o fraco e mortal, pelo seu Espírito Santo. Este Espírito Santo, habitando o homem, é capaz de reviver a totalidade da personalidade. Cada faculdade do homem está para ser desenvolvida e usada para a glória de Deus, o qual está salvando o homem ao mais extremo e que trará perfeição ao trabalho que Ele começou (PAYNE, Leanne. Real Presence. Grand Rapids: Baker Books, 1995, p. 23, tradução minha).
Continue buscando ao Senhor, cultivando uma amizade íntima com Ele através do seu Espírito Santo e receba a vida ressurreta que Ele quer te dar e seja canal de restauração na vida de outras pessoas, semeando o amor de Deus. Se você tem um coração de órfão e precisa tê-lo transformado em um coração de filho a fim de desfrutar da plenitude da paternidade de Deus em sua vida, saiba que o Espírito Santo, que é o Espírito da ressurreição, pode ressuscitar as áreas mortas de sua vida. Ele é o agente transformador e revelador da convicção da paternidade de Deus em sua vida:
Mas, como está escrito: nem olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais penetrou em coração o que Deus tem preparado para aqueles que o amam. Mas Deus no-lo revelou pelo Espírito; porque o Espírito a todas as coisas perscruta, até mesmo as profundezas de Deus (1 Coríntios 2:9-10)   
Tenha um relacionamento de intimidade com o Espírito Santo e Ele revelará no decorrer das experiências de sua vida a profundidade do caráter paterno e amoroso de Deus, transformando o seu coração com as atitudes corretas que você deve tomar em favor da santidade.
Tenha uma atitude de fé e confiança no Senhor, buscando entender o propósito de cada circunstância em sua vida, inclusive as perdas pessoais, com a finalidade de criar em você o caráter de Cristo, porque, assim como foi com Lázaro, uma Palavra que Deus lance ao seu respeito pode lhe ressuscitar e curar as áreas que necessitam ser renovadas e transformadas em sua vida.
Após a realização do milagre, os judeus endureceram ainda mais o coração, mergulharam ainda mais na incredulidade e decidiram matar Jesus (vv. 46-57).
A escolha final é nossa: você vai crer em Jesus, tomando posse de uma vida ressurreta? Ou vai endurecer seu coração, matando Jesus dentro de você?

Pablo Luiz Rodrigues Ferreira
Elaborado de 20 de junho a 05 de julho de 2011
pablolrferreira@hotmail.com
rugidodaverdade.blogspot.com

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