Apesar da linda realidade da
redenção e transformação disponível a todo cristão pela atuação do Espírito Santo, é só olharmos ao nosso redor para
perceber que a cristandade que nos cerca está muito aquém deste padrão. Nunca
se viu uma geração tão decaída e com o caráter tão distorcido como nos dias de
hoje, a ponto de constatarmos a realidade exposta em Mateus 24:12: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor
se esfriará de quase todos” (ARA).
Por que, apesar de termos herdado a
vida que vem do Espírito Santo, não temos a mente de Cristo?
É porque não renovamos a nossa
mente, não deixamos de tomar a forma do mundo, enfim, porque não nos dispusemos
a destruir o que chamo de “fortalezas
espirituais” ou “fortalezas da mente”,
que nos mantêm cativos aos padrões da iniquidade e do pecado.
Em virtude da queda do homem no Éden, o pecado
entrou no mundo e corrompeu todo o ser do homem e seu coração (Jr 17),
danificando as suas emoções e deformando a sua mente com todo tipo de padrão
distorcido e injusto de comportamento em relação ao padrão que Deus estabeleceu
em sua Palavra ,
tais padrões distorcidos de mente são o que se chama de “fortalezas espirituais” ou “fortalezas
da mente”, isto é, padrões de
desobediência a Palavra de Deus, padrões
de orgulho (altivez), que levam o homem a levar a sua vida independente de
Deus (justiça própria e autossuficiência), bem como os sofismas, os quais são padrões de engano e mentiras espirituais que
estão enraizados na mente do homem e determinam a sua ação moral, conforme se
depreende de 2 Coríntios 10:4-6:
Porque as
armas da nossa milícia não são carnais, e sim poderosas em Deus, para destruir fortalezas,
anulando nós sofismas e toda a altivez que se levante contra o
conhecimento de Deus, e levando cativo todo pensamento à obediência de Cristo,
e estando prontos para punir toda desobediência, uma vez completa a
vossa submissão (ARA) (grifo nosso).
As “fortalezas
espirituais” ou “fortalezas da mente”
são padrões enraizados em nossas mentes e que se opõem ao verdadeiro conhecimento
de Deus; são padrões que adquirimos convivendo com os “três gigantes” mais difíceis
de ser derrotados, quais sejam o diabo,
o mundo e a carne, o que bem se pode depreender da leitura de Tiago 3:13-15:
Quem
dentre vós é sábio e entendido? Mostre pelo seu bom procedimento as suas obras
em mansidão de sabedoria. Mas, se tendes amargo ciúme e sentimento
faccioso em vosso coração, não vos glorieis, nem mintais contra a
verdade. Essa não é a sabedoria que vem do alto, mas é terrena,
animal e diabólica (ARC – grifo nosso).
Leitor, não se engane! Todos os nossos
comportamentos que não condizem com a verdade da Palavra de Deus são frutos do
cultivo de mentiras forjadas contra a Verdade; são aquelas mentiras que
recebemos como “verdade” e que formam uma sabedoria que é terrena, animal e
demoníaca, até mesmo porque, conforme as Escrituras nos esclarecem, o diabo é o
pai da mentira:
Vós tendes
por pai o Diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai; ele é homicida
desde o princípio, e nunca se firmou na verdade, porque nele não há verdade;
quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio; porque é mentiroso, e
pai da mentira (Jo 8:44 - ARC).
Consoante às palavras proferidas
pelo próprio Jesus, nosso inimigo é homicida
desde o início e ele usa a mentira como arma para roubar, matar e destruir tudo
aquilo que temos de melhor, mantendo a nossa mente cativa a todo tipo de engano
do pecado com a finalidade de nos desfigurar e eliminar, embrutecendo o coração
do homem de tal forma que ele perca a sua condição de ser criado à imagem e
semelhança de Deus.
Tendo um adversário homicida como este, renovar a
mente e lutar a batalha da fé, portanto, não é uma mera opção de nossa ou uma
sugestão que podemos seguir, mas uma absoluta necessidade, sob pena de, se
assim não procedermos, a derrota ser certa e a nossa ruína inevitável. Neste
sentido, trago à colação as palavras da irmã Basilea Schlink:
Tenho um
inimigo que está sempre nos meus calcanhares, pronto a atacar-me e vencer-me.
Ele quer ter-me como presa sua. Se o inimigo não está apenas me ameaçando mas
já começou a lutar, estarei em perdido, se não me armar e entrar no campo de
batalha. Daí que, enfrentar a batalha da fé ou deixar de fazê-lo, não é questão
deixada ao nosso capricho, e, sim, de absoluta necessidade. De outro modo,
estamos irremediavelmente perdidos. Não podemos adotar uma atitude passiva e
não fazer nada, a menos que, naturalmente, não nos incomodemos de ser presa do
inimigo (Nunca mais serás o mesmo. 4
ed. Venda Nova: Betânia, 1988, p. 12).
Dentro desta ordem de ideias, uma
parte fundamental do nosso processo de renovação da mente é identificar as mentiras, os falsos conceitos
que dizemos para nós mesmos em nosso diálogo íntimo, identificar, portanto,
as “fortalezas da mente”, renunciá-las
e substituí-las pelas verdades da Palavra de Deus, aplicando-as em nossas vidas
com novas atitudes baseadas nos conceitos verdadeiros, uma vez que “modifiquem-se os fatos em que o homem crê, e
assim serão modificados seus sentimentos e conduta” (cf. BACKUS, William;
CHAPIAN, Marie. Fale a Verdade Consigo
Mesmo. 2 ed. Venda Nova: Betânia, 2000, p. 28).
Por exemplo, uma pessoa que se
autodeprecia (complexo de inferioridade) tende a ter sentimentos de
incapacidade, desvalor em relação a si mesma, solidão, tristeza profunda, isolamento,
magoa-se com facilidade, interpreta as críticas como uma rejeição a si, etc.; tais
sentimentos negativos não serão curados a menos que a pessoa, além de restaurar
seus relacionamentos partidos com a liberação de perdão, disponha-se a
identificar os falsos conceitos que recebeu como “verdade” em seu coração e que
geram a autodepreciação, rejeitando-os e substituindo-os pela verdade da
Palavra de Deus com atitudes concretas, uma vez que somente quando aplicamos a
verdade em fé, em operação com o poder da experiência é que verdadeiramente
poderemos ser transformados pelo Espírito Santo.
Em 2 Coríntios 10:5, acima
transcrito, a versão Almeida Revista e Atualizada da Bíblia usa a expressão
“sofisma” como um tipo de fortaleza espiritual a ser destruída. O dicionário
Michaelis define sofisma nos seguintes termos: “(do grego sóphisma) 1 (da Lógica) Raciocínio capcioso, feito com
intenção de enganar. 2 Argumento ou raciocínio falso, com alguma aparência de
verdade. 3 (popular) Dolo, engano, logro”. É justamente com os sofismas que
o inimigo contamina a mente das pessoas, comunicando mentiras que tem o poder
de deixar a mente das pessoas presas, cativas aos padrões do pecado e da
iniquidade. Os sofismas são aquelas mentiras que recebemos como “verdade”,
aquelas mentiras forjadas com a intenção de enganar e só conseguem seu intento
porque tem a aparência de verdade; se os sofismas não tivessem a aparência de
verdade, não teriam o poder de enganar e uma mente atolada de sofismas se orientará
por eles, reproduzindo comportamentos e emoções desviadas da verdade, iníquas,
pecaminosas e doentes.
Um resultado do engano dos sofismas
é uma mente presa aos padrões da iniquidade, ao orgulho, à altivez, à justiça
própria, à falta de perdão e aos sentimentos negativos que retiram da alma a
alegria de viver. Aliás, a face macabra dos sofismas é o terrível ciclo vicioso
que causam: eles contaminam a mente com mentiras, causando comportamentos e
emoções deformadas, os quais produzem essa aparência de verdade; por exemplo,
uma pessoa que se sente rejeitada poderá pensar: “eu sou rejeitado, não valho
nada, não sirvo para nada”; uma pessoa viciada em drogas, álcool, sexo poderá
dizer para si mesma: “eu não posso, não consigo viver sem isso”; uma pessoa que
não tem uma boa autoestima e procura seu senso de valor em outra pessoa poderá
dizer: “eu não posso, não consigo viver sem fulano”, alimentando um ciclo de
dependência emocional e de falta de domínio próprio; uma pessoa que fracassou
várias vezes poderá dizer: “eu sou um fracasso, nada do que faço dá certo” e
viver atormentada pelo medo de fracassar e, frequentemente, não obterá êxito
nas coisas que fizer e terá medo de tentar coisas novas porque se sente incapaz
de concretizá-las; uma pessoa que foi traída em um relacionamento significativo
poderá nutrir em sua mente: “não posso, não consigo confiar em ninguém, todos
são iguais e igualmente me trairão e me usarão”, realimentando a amargura e a
incredulidade em relação aos relacionamentos, entre outros. O que se tem de
comum em relação aos falsos conceitos acima descritos? Eles mantêm a pessoa em cárcere emocional, travando a sua mente
e servindo de base para os seus relacionamentos, os quais com certeza não serão
saudáveis, não só em relação aos outros, como também em relação a si mesma. Não
é a toa que Os Guinness diz: “O estoque
do diabo no mercado é um mundo de meias verdades e meias mentiras onde a meia
mentira mascara-se como a completa verdade” (apud SEAMANDS, David A. Putting
away childish things. In: Healing your heart of painful emotions.
New York: Inspirational Press, 1993, p. 188).
Diante do
exposto, um dos passos fundamentais do nosso crescimento espiritual é
justamente derrubar estas mentiras, substituindo-as pelas verdades contidas na
Palavra de Deus a nosso respeito. Não poderemos construir algo novo em nossas
vidas com os velhos alicerces e as paredes feitas com os tijolos e o reboco do
inferno intactos e, se não os destruirmos, certamente eles nos destruirão ou,
então, manterão a nossa vida em um patamar muito aquém daquilo que Deus deseja
para nós, que é uma vida abundante.
Pablo Luiz Rodrigues Ferreira
rugidodaverdade.blogspot.com
Excerto
retirado do texto de minha autoria UM NOVO IMAGINÁRIO, UMA NOVA MENTALIDADE:
REFLEXÕES SOBRE OS FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA RENOVAÇÃO DA MENTE, a ser postado futuramente no blog
rugidodaverdade.blogspot.com
Nenhum comentário:
Postar um comentário