O povo de Israel passou mais de
quatrocentos anos na terra do Egito (Ex 12:40) e, por certo, vivendo no meio
daquele povo durante várias gerações, influenciado por uma cultura idólatra e
imoral, bem como pressionados pelo duro jugo da servidão, já não tinham mais
uma mentalidade de povo de Deus.
Agora, fora do Egito, o Senhor tinha a
tarefa longa de retirar o Egito do coração dos israelitas, construindo uma nova
mentalidade, marcada pela devoção exclusiva a Ele, santidade e os valores que a
caracterizam.
Além das leis que Deus concedeu ao seu povo
por intermédio de Moisés para lhes pautar a conduta, o Senhor estabeleceu
ordenanças para a construção do tabernáculo e dos objetos que o mesmo deveria
conter, bem como dos rituais que eles deveriam realizar; tudo isso como forma
de propiciar ao seu povo uma ampla renovação da mente, destruindo aquela
mentalidade mundana que tinham adquirido no Egito.
E da mesma forma que aconteceu com o povo
de Israel, Deus também quer tirar de nossa mente, nos dias de hoje, os padrões
das obras mortas que trazemos da nossa trajetória de escravidão do pecado.
Deus
sempre demonstrou amor e compaixão para com o povo que separou para si, o que,
sem dúvida, foi demonstrado na história do êxodo do Egito. Deus ouviu o clamor
de uma geração de hebreus que vivia no Egito sob o jugo de pesada servidão,
além da morte de seus filhos homens por decreto de Faraó. O Senhor, usando
Moisés, que foi levantado como libertador, mostrou o seu inimaginável poder,
tirando o povo das mãos de Faraó por meio de sinais, prodígios e maravilhas,
bem como os sustentou pela peregrinação no deserto de forma sobrenatural, provendo,
por exemplo, água da rocha, transformando águas amargas em doces, maná caindo
do céu, envio de codornizes para alimentá-los e, ainda, viram poderosas manifestações
da presença de Deus, tal como o monte Sinai fumegando e tremendo.
Toda essa manifestação de
sobrenatural de Deus, a qual nenhuma outra geração até hoje presenciou em igual
intensidade, não foi suficiente para tirar do coração deles a incredulidade. Manifestação
de sinais, prodígios e maravilhas não muda o coração de ninguém, mas,
infelizmente, muitas congregações religiosas reduzem o seu “evangelho” a um
discurso de “unção e poder de Deus”. A nossa permanência no Evangelho de Jesus
Cristo depende, sobretudo, da conversão do nosso coração, isto é, do
arrependimento do pecado e da iniquidade e da consequente renovação da mente
com a não conformidade dos padrões deste mundo para que possamos desfrutar de
um relacionamento íntimo e sincero com Deus, experimentando a vontade dEle, que
é boa, perfeita e agradável (Rm 12:2).
Se manifestações de sobrenatural de
Deus convertessem o coração de alguém, com certeza, a primeira geração de
hebreus que saiu do Egito teria sido a geração mais piedosa que esta Terra já
teve, contudo, não foi o que ocorreu.
O desenvolvimento da salvação é uma
questão de disposição mental e de vontade, que cabe a nós, com o auxílio do
Espírito Santo. Infelizmente, os israelitas da primeira geração do êxodo
decidiram permanecer na incredulidade, na desobediência e, até mesmo, chegar ao
ponto da rebelião, conforme se depreende da narrativa contida em Números 13 e
14.
O Senhor já tinha empenhado a sua
Palavra no sentido de que daria a eles a terra que tinha prometido a Abraão e,
quando a hora de conquistá-la chegou, Moisés enviou doze líderes para espiar a
terra, dez dos quais, após o retorno da missão, fizeram o povo esmorecer com
seu relato, tendo permanecido na incredulidade, mesmo depois de Calebe ter
tentado animar o povo a conquistar a terra:
27
Relataram a Moisés e disseram: Fomos à terra a que nos enviaste; e,
verdadeiramente, mana leite e mel; este é o fruto dela. 28 O povo, porém, que
habita nessa terra é poderoso, e as cidades, mui grandes e fortificadas; também
vimos ali os filhos de Anaque. 29 Os amalequitas habitam na terra do Neguebe;
os heteus, os jebuseus e os amorreus habitam na montanha; os cananeus habitam
ao pé do mar e pela ribeira do Jordão. 30 Então, Calebe fez calar o povo
perante Moisés e disse: Eia! Subamos e possuamos a terra, porque, certamente,
prevaleceremos contra ela. 31 Porém os homens que com ele tinham subido
disseram: Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do
que nós. 32 E, diante dos filhos de Israel, infamaram a terra que haviam
espiado, dizendo: A terra pelo meio da qual passamos a espiar é terra que
devora os seus moradores; e todo o povo que vimos nela são homens de grande
estatura. 33 Também vimos ali gigantes (os filhos de Anaque são descendentes de
gigantes), e éramos, aos nossos próprios olhos, como gafanhotos e assim também
o éramos aos seus olhos (Números 13 – ARA).
Os dez espias incrédulos infamaram a terra
que tinham ido inspecionar, isto é, apesar de ter constatado a fartura e
fertilidade da terra, exageraram os aspectos negativos de seu relato para fazer
deliberadamente com que o povo retrocedesse, o que chegou ao ponto de fazer com
que eles chorassem e gritassem em alta voz e murmurassem contra Moisés e Arão, tendo
praguejado contra Deus e decidido por conta própria levantar um líder sobre si
para voltar ao Egito, desconsiderando por completo a autoridade dos líderes que
o Senhor tinha estabelecido sobre eles, bem como as promessas de êxito na
conquista da terra (Nm 14:1-4).
O povo foi exortado, através de Josué e
Calebe, a mudar de postura, arrepender-se de sua rebeldia e confiar na Palavra
de Deus, mas eles endureceram o coração e decidiram apedrejá-los, pelo que a
ira do Senhor se acendeu e, após a intercessão de Moisés em favor deles,
decidiu não mais riscá-los do mapa, mas os castigou com a sentença de que não
entrariam na terra prometida e com a morte dos dez espias incrédulos por meio
de uma praga, a exceção de Josué e Calebe, que obedeceram e foram agraciados
por Deus (Nm 14:5-24).
O que tem nos impedido de conquistar
a nossa terra prometida, uma alma próspera, uma vida em abundância na presença
de Deus? Esta é uma pergunta que cada um de nós tem de responder diante do
Senhor e confessar humildemente a Ele para recebermos graça e misericórdia em
arrependimento. As Escrituras são bem claras em apontar os motivos pelos quais
os hebreus da primeira geração do Êxodo não herdaram a terra prometida:
1
Ora, irmãos, não quero que ignoreis que nossos pais estiveram todos sob a
nuvem, e todos passaram pelo mar, 2 tendo sido todos batizados, assim na nuvem
como no mar, com respeito a Moisés. 3 Todos eles comeram de um só manjar
espiritual 4 e beberam da mesma fonte espiritual; porque bebiam de uma pedra
espiritual que os seguia. E a pedra era Cristo. 5 Entretanto, Deus não se
agradou da maioria deles, razão por que ficaram prostrados no deserto. 6 Ora,
estas coisas se tornaram exemplos para nós, a fim de que não cobicemos as
coisas más, como eles cobiçaram. 7 Não vos façais, pois, idólatras,
como alguns deles; porquanto está escrito: O povo assentou-se para comer e
beber e levantou-se para divertir-se. 8 E não pratiquemos imoralidade,
como alguns deles o fizeram, e caíram, num só dia, vinte e três mil. 9 Não
ponhamos o Senhor à prova, como alguns deles já fizeram e pereceram pelas
mordeduras das serpentes. 10 Nem murmureis, como alguns deles murmuraram
e foram destruídos pelo exterminador. 11 Estas coisas lhes sobrevieram como
exemplos e foram escritas para advertência nossa, de nós outros sobre quem os
fins dos séculos têm chegado (I Coríntios 10 – ARA, grifos nossos).
12
Tende cuidado, irmãos, jamais aconteça haver em qualquer de vós perverso
coração de incredulidade que vos afaste do Deus vivo; 13 pelo contrário,
exortai-vos mutuamente cada dia, durante o tempo que se chama Hoje, a fim de
que nenhum de vós seja endurecido pelo engano do pecado. 14 Porque nos
temos tornado participantes de Cristo, se, de fato, guardarmos firme, até ao
fim, a confiança que, desde o princípio, tivemos. 15 Enquanto se diz: Hoje, se
ouvirdes a sua voz, não endureçais o vosso coração, como foi na
provocação. 16 Ora, quais os que, tendo ouvido, se rebelaram? Não foram,
de fato, todos os que saíram do Egito por intermédio de Moisés? 3:17 E contra
quem se indignou por quarenta anos? Não foi contra os que pecaram, cujos
cadáveres caíram no deserto? 18 E contra quem jurou que não entrariam no seu
descanso, senão contra os que foram desobedientes? 19 Vemos, pois, que
não puderam entrar por causa da incredulidade (Hebreus 3 – ARA, grifos
nossos).
Você, meu leitor, pode ver alguma
semelhança com coisas que têm bloqueado a sua vida espiritual?
Não há remédio para os rebeldes e soberbos,
mas, para os sinceros e humildes, que, apesar de tropeçar e cair várias vezes,
estão sempre se arrependendo, levantando e continuando a sua trajetória no amor
e no temor de Deus, a estes o Senhor concederá graça para se restaurarem das
mazelas do pecado e da iniquidade.
A
despeito de todos os pecados ressaltados nos textos transcritos acima, a Bíblia
é enfática em afirmar que eles não entraram no descanso do Senhor por causa da
incredulidade.
Uma forma, às vezes muito sutil, de
incredulidade são os argumentos do “não posso” e do “não consigo”, como os dez
espias incrédulos disseram ao povo no deserto: “Não poderemos subir contra aquele povo, porque é mais forte do que
nós” (Nm 13:31). Os argumentos do “não posso” e do “não consigo” são fortalezas
espirituais (ou fortalezas de mente) e necessitam ser derrubadas, uma vez que
depreciam a obra de Cristo na cruz e deixam a mente cativa na incredulidade e em
padrões de pensamento negativo que negam o poder e a glória de Deus.
Cuidado com os “não posso” e “não
consigo” que você tem pensado e dito e comece a falar a verdade consigo mesmo:
“Tudo posso naquele que me fortalece”
(Fp 4:13). Perceba o estrago que um “não posso” causou na vida dos israelitas e
que, de igual modo, pode arruinar a sua vida e impedi-lo de tomar posse das
realidades mais profundas na presença de Deus.
Onde você tem falado “não posso” e
“não consigo”?
Creia, porque Deus é poderoso e fiel
para cumprir aquilo que Ele prometeu e, se você crer, verá a glória de
Deus.
Outra questão que quero ressaltar,
com base nos textos acima citados, é o poder de sabotagem do comodismo e do
medo. Muitas vezes, ficamos enchendo o nosso coração com os “não posso” e “não
consigo” e nos autodepreciando, andando em círculos no deserto porque não
acreditamos no nosso próprio potencial de mudança e no poder transformador do
Espírito Santo e, por via de consequência, acabamos por não avançar na vida e
não conquistar o melhor que Deus tem para nós por causa do medo do fracasso e,
pior ainda, colocamos a culpa dos nossos fracassos e inadequações em outros e
até mesmo no Senhor, tornando os nossos relacionamentos instáveis e a nossa paz
de espírito insustentável e inviável.
Não espere uma libertação “mágica”
do medo. Só há uma maneira de vencer o medo e o comodismo dele decorrente,
enfrentando-o. Não imite a conduta dos israelitas; não aja como vítima dos maus
tratos de outros, tal como eles comportaram-se por causa da servidão que
sofreram no Egito. Mude sua antiga forma de pensar e assuma que você é o único
responsável por seus atos e sentimentos; que é você quem se permite deixar a
raiva o dominar, porque acredita na mentira de que sua tranquilidade depende da
conduta dos outros; a verdade é que nos condicionamos a agir da forma como
agimos.
Precisamos entender que a nossa
felicidade se origina de nosso relacionamento com Deus e na sua imutável
felicidade, pelo que devemos desenvolver a nossa felicidade pela fé em Jesus,
inclusive para superar a dor, tal como Paulo e Silas que estavam enclausurados
em uma prisão, mas estavam alegres e louvando ao Senhor, não atrelando a sua
felicidade às circunstancias que os cercavam (At 16). Felicidade é uma questão
de fé; a nossa felicidade ou infelicidade está em nossas mãos, é uma decisão
nossa. As pessoas podem até ter praticado algo reprovável diante da lei de Deus
contra nós, mas nós somos os únicos responsáveis pela forma como nos
condicionamos a absorver as coisas e a reagir diante do que fizeram conosco. Pense
com cuidado: a maioria das situações de nossa vida está sob nosso controle e
podemos mudá-las, bem como podemos suportar todas as consequências da decisão
de mudar.
A mudança é possível e a Bíblia está
repleta de exemplos de pessoas que acreditam no poder de Deus e venceram. A fé
nos coloca em contato com o poder de Deus; ou a exercitamos, ou andaremos em
círculos pelo deserto e, pior, ficaremos presos no comodismo de situações
difíceis e doloridas e correremos o risco de voltar para a habitualidade e
compulsividade das velhas práticas do pecado, do estilo de vida do Egito, como
uma forma de fuga da dor e do desconforto de ter de lidar com as dificuldades
da vida.
Não dê ouvidos àqueles que tentam lhe
desanimar; não acredite em relatos negativos e exagerados. “Não temais os que matam o corpo e não podem
matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno tanto a
alma como o corpo” (Mateus 10:28); foi isso o que a primeira geração de
hebreus saídos do Egito não observou em relação aos dez espias incrédulos e,
por isso, pereceram.
Você tem medo de perder e/ou ser
rejeitado pelos fracassos?
Então, observe atentamente o que
disse o apóstolo Paulo a respeito do que se pode considerar como perda e lucro:
Sim, deveras considero tudo como perda, por causa da sublimidade do conhecimento de Cristo Jesus, meu Senhor; por amor do qual perdi todas as coisas e as considero como refugo, para ganhar a Cristo (Filipenses 3:8 - ARA).
6
De fato, grande fonte de lucro é a piedade com o contentamento. 7 Porque nada
temos trazido para o mundo, nem coisa alguma podemos levar dele. 8 Tendo
sustento e com que nos vestir, estejamos contentes. 9 Ora, os que querem ficar
ricos caem em tentação, e cilada, e em muitas concupiscências insensatas e
perniciosas, as quais afogam os homens na ruína e perdição. 10 Porque o amor do
dinheiro é raiz de todos os males; e alguns, nessa cobiça, se desviaram da fé e
a si mesmos se atormentaram com muitas dores. 11 Tu, porém, ó homem de Deus,
foge destas coisas; antes, segue a justiça, a piedade, a fé, o amor, a
constância, a mansidão. 12 Combate o bom combate da fé. Toma posse da vida
eterna, para a qual também foste chamado e de que fizeste a boa confissão
perante muitas testemunhas (1 Timóteo 6 – ARA).
O apóstolo Paulo estava disposto a
arriscar tudo e ter como lucro a vida de piedade em Cristo; se não corrermos
riscos, não perdoaremos ninguém e não amaremos ninguém, não avançaremos e
ficaremos isolados pelo medo. Josué e Calebe correram todos os riscos, inclusive
o de perder a vida na batalha contra os inimigos, para conquistar a terra
prometida e venceram e foram galardoados pelo Senhor (cf. BACKUS, William;
CHAPIAN, Marie. Fale a Verdade Consigo
Mesmo. 2 ed. Venda Nova: Betânia, 2000, p. 134-162).
As perdas não são o fim do mundo, o
que não significa que sejam fáceis. A verdade é que, embora doloridas, são
apenas desagradáveis e difíceis, mas nunca insuperáveis. Nas mãos de Deus, as
perdas cumprem o propósito de ser uma porta de acesso para uma vida de valores
ainda mais elevados na presença do Senhor. Podemos perder tudo, mas não devemos
perder Deus. A decisão é nossa. Você também pode; acredite, confie em Deus e
viva uma vida abundante na presença do Senhor.
Excerto retirado do texto de minha autoria UM NOVO IMAGINÁRIO, UMA NOVA MENTALIDADE: REFLEXÕES SOBRE OS FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA RENOVAÇÃO DA MENTE, a ser postado futuramente no blog rugidodaverdade.blogspot.com
Pablo
Luiz Rodrigues Ferreira
pablolrferreira@hotmail.com
rugidodaverdade.blogspot.com
A paz do senhor, meu irmão!
ResponderExcluirQue maravilha de palavra escrita é essa. Deus abençoe a sua vida, que neste novo ano, o nosso Deus possa lhe conceder saúde, paz e alegria do Espirito Santo...Abraços!!!