A nossa
mente é moldada pelas experiências concretas que vivemos e os conceitos que
abrigamos nela são formados não só de ideias que podemos expressar em forma de
palavras, mas também de imagens que o nosso psicológico reproduz e a eles são
agregados determinados sentimentos, bons ou maus, dependendo da experiência que
tivemos, de modo que a nossa mente trabalha com “conceitos-sentimentos” ou “conceitos-imagens-sentimentos”,
os quais nós internalizamos em nossos corações, no nosso homem interior e
determinam os nossos padrões de comportamento (a esse respeito ver: SEAMANDS,
David. O Poder Curador da
Graça. 1 ed. 10ª impressão. São Paulo: Vida, 2006, p. 40).
A
definição acima ficará mais clara com um exemplo. Suponhamos que uma
determinada pessoa passou por um histórico de abuso emocional durante a
infância e adolescência oriundo de seu pai, o qual passou todo esse período,
dizendo que ela era burra, um acidente, que ela não iria ser ninguém na vida,
entre outras palavras depreciativas, aliada a distância emocional que esse pai
mantinha com falta de demonstração de afeto físico e palavras de carinho e
incentivo, sendo extremamente crítico e áspero em relação a ela, nunca estando
satisfeito com o seu desempenho. A pessoa que acabou por sofrer deste tipo de
histórico, provavelmente absorveu-o como uma “verdade” para a sua vida e estas
experiências concretas moldaram a sua personalidade de tal modo que ela desenvolveu
uma mentalidade negativa, com baixa autoestima, abrigando conceitos de
inferioridade e incapacidade em relação a si mesma e, assim pensando, terá uma
série de sentimentos negativos e destrutivos em seu coração, tais como mágoa,
ira, inveja, orgulho ferido, além de uma profunda tendência para o isolamento,
falta de sinceridade, falta de segurança, tristeza profunda, autocomiseração,
depressão, entre outros. Sua mente será como um “aparelho reprodutor de vídeos”
que mostra “replays” dos acontecimentos que deixaram sua alma enferma e
amargurada em seus sentimentos.
Tais “conceitos-imagens-sentimentos”,
isto é, a nossa memória adquirida, formam a base psicológica sob a qual
fundamentamos as nossas decisões e orientamos os nossos comportamentos. No
exemplo acima descrito, a pessoa que passou pela rejeição na forma de abuso verbal e
ausência de afetividade, tomada de conceitos e sentimentos negativos em sua
mente, reproduzirá padrões distorcidos e destrutivos de comportamento, tais
como uma mentalidade crítica e perfeccionista, exigindo demais das pessoas,
tendo uma expectativa muito alta em relação aos seus relacionamentos,
demandando que as pessoas com as quais convive atinjam as suas exigências
pessoais de felicidade, além da possibilidade de desenvolver relacionamentos
amorosos marcados pelo ciúme, possessividade e dependência emocional; a pessoa
também desenvolverá mecanismos
mentais de compensação da dor emocional sofrida na forma de fugas, escapismos,
fantasias, vícios, comportamentos compulsivos, tais como alcoolismo,
pornografia e vícios sexuais, drogas, trabalho em excesso, estudo em excesso,
ativismo extremo, enfim, uma busca desenfreada pelo prazer imediato como forma
de conviver e abafar a dor psíquica da rejeição (cf. THOMPSON, Bruce; THOMPSON,
Barbara. Paredes do meu
coração. Venda Nova: Betânia, 1994, p. 119-133).
Outro
exemplo que pode tornar claro o que aqui se expõe é o da pessoa criada sem limites pelos
pais. Uma pessoa assim tem dificuldades de ser ensinada e corrigida quando
está errada, tem dificuldades de receber “não” das pessoas, uma vez que ela não
teve a base necessária para tanto e tudo o que ela guarda no coração é uma
autoimagem que se desenvolveu sob a base de poder satisfazer todos os seus
impulsos e desejos de forma imediatista, tendo dificuldades de concretizar
valores como a perseverança e a paciência, notadamente quando uma tarefa ou
obra demandar metas e etapas de longo prazo, de modo que, se ela não consegue o
que quer de forma imediata, ela tem a tendência de ficar frustrada, irritada,
magoada e ansiosa facilmente, bem como seus relacionamentos dificilmente serão
saudáveis, tendo em vista que essa pessoa não aprendeu a capacidade de
renunciar e de ceder seus próprios interesses em prol de um bem maior, mas, ao
contrário, essas experiências que formataram essa mente sem limites só serviram
para fazer dela um indivíduo manipulador e controlador das pessoas e situações
para satisfazer seus próprios interesses egoístas.
Diante
dos exemplos dados acima, vemos que toda
a pessoa é fruto de um processo de construção, ou seja, tem uma trajetória
de vida; somos fruto da somatória de todos os pensamentos que recebemos como
“verdade” em nossos corações e que nos motivaram a tomar as atitudes diante da
vida, uma vez que os pensamentos e ações são regidos pela lei da semeadura;
assim, tudo aquilo que semeamos em matéria de pensamento, colheremos em forma
de emoções e comportamentos. A nossa mente precisa, portanto, de um amplo
trabalho de renovação, a fim de que nós possamos aprender a pensar, a agir e a
reagir de acordo com os padrões que Deus que estabeleceu, abandonando os velhos
ditames do pecado, conforme se depreende da leitura de Romanos 12:1-2:
Assim que, irmãos, rogo-vos pelas misericórdias de Deus, que
apresenteis vossos corpos em sacrifício vivo, santo, agradável a Deus, que é
vosso culto racional. Não vos conformeis a este século, mas transformai-vos por meio da renovação do vosso entendimento,
para que comproveis qual seja a boa vontade de Deus, agradável e perfeita
(versão Reina-Valera de 1960, traduzida livremente do espanhol).
Quando
a verdade não me liberta? A
Bíblia fala que o conhecimento da verdade nos liberta (Jo 8:32), contudo, o que
temos visto é uma multidão mundana sentada nos bancos das igrejas, pessoas
enfermas espiritual e emocionalmente. Por
que a proclamação da verdade não libertou as pessoas? Uma das causas é que o “evangelho” pregado nos dias de
hoje é extremamente superficial e
as pessoas acabam por viver em uma congregação religiosa sem ter profundidade
bíblica para orientar as suas vidas; não podemos nos enganar, o ensino da
palavra de forma adequada e consistente é de vital importância para que uma
igreja cresça de forma sadia, o que é negligenciado em muitas congregações em
prol de um “evangelho de números”; o resultado disso é o desenvolvimento de
igrejas inchadas de pessoas “doentes” e não convertidas, igrejas que acabam por
se transformar em um “drive through” espiritual, extremamente rotativo,
em que muitas pessoas entram e pegam um pacote de “lanche espiritual”, mas a
quantidade dos que saem também é de grande proporção.
Quando
a verdade não me liberta? Outra
resposta para esta questão é que o evangelho pregado e ensinado para as pessoas
não chega a tratar da raiz de seus problemas; acabamos andando em círculos no
deserto, quando nos preocupamos em tratar apenas dos sintomas que nos afligem,
sem, contudo, atacar a causa, a verdadeira raiz dos problemas. Os exemplos
dados acima são emblemáticos nesse sentido; uma pessoa com histórico de
rejeição, bem como a criada sem limites pelos pais, vem com uma série de
deformidades de caráter e a transformação dessas pessoas será quase nula se o
aconselhamento que ministrarmos somente se restringir às consequências visíveis
de sua trajetória de vida; é necessário confrontar as estruturas de orgulho da
pessoa que sustentam seus comportamentos desviados da verdade da Palavra de
Deus; é necessário analisar, entender e confrontar o histórico de vida do
aconselhado e o seu sistema individual de “conceitos-imagens-sentimentos”,
no qual a pessoa se fundamenta para se gerir como ser humano, a fim de entender
a forma como ela reage diante das circunstâncias e de identificar quais
mecanismos pecaminosos ela aprendeu a utilizar para enfrentar a realidade; é
preciso confrontar a raiz de sua amargura, de seus complexos de inferioridade,
da baixa autoestima, da depressão, do orgulho, do prazer desenfreado; é preciso
enfrentar as máscaras que a pessoa se utiliza para não enfrentar a dor da
realidade.
A verdade só liberta quando temos intimidade com ela, quando
ela chega aos quartos escuros de nossa personalidade, quando destrancamos a
“câmara dos horrores” através da confissão e exposição de nossa vida para
mostrarmos quem realmente somos de modo a sermos curados (Tg 5:16). Não se trata
de um câncer com uma aspirina; é necessário usarmos a verdade da Palavra como
um bisturi para extirparmos o tumor em sua totalidade e esse é um tratamento
que, ainda que invasivo e doloroso, mostra-se eficaz o suficiente para trazer
cura para pessoas que estão cansadas de viver da forma que vivem e que não
dispõem da ferramenta e metodologia certa para se tratar (cf. BACKUS, William;
CHAPIAN, Marie. Fale a Verdade
Consigo Mesmo. 2 ed. Venda Nova: Betânia, 2000, p. 202-212).
Caro leitor, você tem se deixado trabalhar pela verdade?
[excerto
retirado do texto de minha autoria: UM NOVO IMAGINÁRIO, UMA NOVA MENTALIDADE:
REFLEXÕES SOBRE OS FUNDAMENTOS BÍBLICOS DA RENOVAÇÃO DA MENTE, a ser postado
futuramente no blog rugidodaverdade.blogspot.com]
Pablo
Luiz Rodrigues Ferreira
rugidodaverdade.blogspot.com
pablolrferreira@hotmail.com