Hoje,
vivemos numa era na qual nós somos avaliados pelo que temos e pelo que fazemos,
ou seja, vivemos submergidos numa mentalidade de desempenho, na qual o mais
importante são nossas conquistas e posses, de tal maneira que nos convertemos
em “fazeres humanos”, tendo nos afastado da essência do “ser humano”, que é
aceitar o semelhante pelo que ele é e estabelecer vínculos de afetividade,
inclusive de amizade, que validem nossa existência por médio da satisfação dos
sete desejos fundamentais de nosso coração: o desejo de ser escutado e
compreendido, afirmado, abençoado, estar seguro, ser tocado, escolhido e
aceitado.
O ser
humano foi criado por Deus de tal maneira que ele precisa afetivamente de seu
semelhante para se desenvolver por completo e, por certo, isto inclui ter
família e amigos; entretanto, a tragédia deste tempo é que não aceitamos as
pessoas por quem elas são. Nós somos tão impregnados desta mentalidade de
desempenho, marcada pela competição e pelo capitalismo, que não sabemos muitas
vezes, por exemplo, receber um presente de outra pessoa sem pensar que ela quer
algo em troca, que quer obter alguma vantagem. Ninguém pensa que damos um
presente porque queremos nos vincular com a outra pessoa em virtude de sua
personalidade, qualidades positivas, companhia, amor, carinho, segurança,
afirmação que ela expressa. Temos, por consequência, uma mentalidade marcada
pela desconfiança que nos afasta de conhecer e ser conhecido pela outra pessoa
em profundidade e, por isso, esta é uma ferida cultural global que temos que
destruir para ter saúde emocional.
No
entanto, a linguagem que traz saúde emocional é a linguagem da aceitação
incondicional, ou seja, aceitar as pessoas por quem são, independente de suas
conquistas, posses ou pelo que possam fazer em nosso favor. Esta, por exemplo,
era a linguagem de Jesus Cristo, que resumiu toda a verdadeira religião em dois
mandamentos positivos: “ama ao Senhor teu Deus com todo teu coração, com todo
teu ser e com toda tua mente” e “ama a teu próximo como a ti mesmo” (Mateus
22:37-39, Nova Versão Internacional).
Podemos não
concordar com tudo o que muitas pessoas fazem e pensam, mesmo nossos amigos,
familiares ou pessoas que nunca vimos, mas podemos aceitá-las pelo valor de serem
preciosas como “seres humanos”. Devemos semear amor porque certamente colheremos
amor e seremos transformados por ele nas relações interpessoais pela satisfação
dos sete desejos fundamentais de nosso coração. Esta é a mentalidade da graça,
uma aceitação incondicional de nossos semelhantes, um presente imerecido que se
concede, independente das condutas ou conquistas e que nos enche e nos valida
como seres humanos.
Se tentarmos
aceitar as pessoas segundo nossas expectativas e exigências pessoais e muitas
vezes irreais e abusivas, facilmente nos ressentiremos com elas e nutriremos
uma ira arraigada por nossos desejos insatisfeitos e isto consumirá nossa paz
interior. Devemos renunciar as expectativas desproporcionais em relação às
pessoas, os amigos e familiares, aceitá-los, entender sua história de vida,
tolerar suas deficiências, escutá-los de forma empática; devemos também
aprender a ser bons cuidadores de nós mesmos para satisfazer nossas
necessidades de forma sã, sem demandar de outras pessoas qualquer restituição
por nossos desejos e expectativas insatisfeitos e desenvolver e manter nossa
paz interior.
Em resumo,
a aceitação condicional traz ira e ressentimento frequente e a aceitação
incondicional traz a paz e saúde emocional duradouras; é nossa decisão viver o
inferno das expectativas insatisfeitas ou viver o céu de ser um bom cuidador de
si mesmo e entender o semelhante como ele é. Nós é que decidimos a maneira como
queremos estar vinculados ao outro, se pelo amor, pelo ódio, pela
indiferença... A decisão é sua.
Pablo
Luiz Rodrigues Ferreira
adaptação
de uma redação apresentada ao curso de espanhol – nível intermediário – 22 de
fevereiro de 2013
rugidodaverdade.blogspot.com