Este é um pequeno texto que surgiu na manhã
deste dia 23.11.2012 após uma reflexão e uma lembrança que passo a narrar ao
leitor.
Certo dia, ouvi uma amiga minha dizendo que
tinha ido até um ponto de travestis aqui de Belém para evangelizar e lá um
deles pediu para que ela mostrasse a passagem da Bíblia que dizia que eles eram
uma abominação diante de Deus. O texto que ele se referia é o seguinte:
Com
homem não te deitarás, como se fosse mulher; é abominação (Levítico 18:22).
Diante de tal reação, presumo que o “embaixador”
de Cristo que apresentou o “evangelho” para ele conhecia apenas a letra que
mata, mas não foi capaz de transmitir a essência de Jesus, que é cheio de graça
e de verdade e que busca e salva o perdido das prisões do pecado.
Infelizmente, esta postura apática e
preconceituosa, que, longe de estar alojada somente em indivíduos determinados,
mas compõe o próprio imaginário da “cristandade” de forma coletiva, denota que
pregamos a graça, entretanto, temo-la somente como pressuposto doutrinário
formal e abstrato; na prática, negamos a graça com nossas atitudes e rejeitamos
o que tememos e o que não compreendemos e nem temos vontade de compreender.
Erramos por não conhecer as Escrituras. Há
mais coisas que o Senhor Deus considera abominação:
16
Seis coisas o SENHOR aborrece, e a sétima a sua alma abomina: 17 olhos altivos,
língua mentirosa, mãos que derramam sangue inocente, 18 coração que trama
projetos iníquos, pés que se apressam a correr para o mal, 19 testemunha falsa
que profere mentiras e o que semeia contendas entre irmãos (Provérbios 6).
Acredito que, só pela postura orgulhosa, as
mentiras, a língua desenfreada e as contentas, a maioria de nós pode dizer que
é uma abominação diante de Deus e que literalmente está condenado ao fogo do
inferno.
2
Vi também a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de
Deus, ataviada como noiva adornada para o seu esposo. (...) 27 Nela, nunca
jamais penetrará coisa alguma contaminada, nem o que pratica abominação e
mentira, mas somente os inscritos no Livro da Vida do Cordeiro (Apocalipse 21).
E o que dizer da nossa justiça própria? Por
isso Jesus reprovava os fariseus:
14
Os fariseus, que eram avarentos, ouviam tudo isto e o ridiculizavam. 15 Mas
Jesus lhes disse: Vós sois os que vos justificais a vós mesmos diante dos
homens, mas Deus conhece o vosso coração; pois aquilo que é elevado entre
homens é abominação diante de Deus (Lucas 16).
E quem de nós não tem algo alojado no
coração que trata com tal importância que é comparável ao se prostrar diante de
um ídolo?
Mais do que nunca precisamos de uma reforma
protestante que traga a graça e a verdade para dentro de nós e nos faça admitir
a nossa hipocrisia, de modo que possamos nos arrepender e jogá-la fora.
“Hipócrita”, assim Jesus qualificava os
religiosos de seu tempo por sua falta de misericórdia, é uma palavra que vem do
grego hipokrités e era aplicada ao
ato de representar uma peça teatral usando máscaras.
Este é o primeiro passo da reforma e
avivamento pessoais: reconhecer que temos representado um papel de “santos” e
de que necessitamos expor as abominações e os preconceitos da nossa vida e
andar na luz, retirando as nossas máscaras.
Confessai,
pois, os vossos pecados uns aos outros e orai uns pelos outros, para serdes
curados. Muito pode, por sua eficácia, a súplica do justo (Tiago 5:16).
Temos que lembrar que o Evangelho é
fundamentado na graça de Deus mediante o sacrifício de Jesus. Deus abomina o
pecado, desaprovando, portanto, o comportamento, mas aceita o pecador mediante
o sacrifício de Jesus e pode transformá-lo de glória em glória.
Sabe gente, Deus, por exemplo, desaprova o divórcio,
mas quer tratar com graça aqueles que ficaram despedaçados pela ruptura do
vínculo matrimonial de forma a possibilitar a restauração das vidas. O mesmo se
aplica a uma série de condutas pecaminosas e históricos de vida, que não cito
para não cansar o leitor, o qual, muitas vezes, mal tem “tempo” para refletir
em algo que realmente o transforme.
Será que estamos preparados para receber
determinados “tipos” de pecadores na igreja?
A resposta vai depender de até que ponto
estamos dispostos a permitir que o Senhor trabalhe em nossas vidas, retirando as
máscaras da falsa piedade, do orgulho, da hipocrisia, da vida dupla, da falsa
modéstia, da justiça própria, da frieza ou da falta de perdão (cf. LOPES,
Hernandes Dias. Removendo máscaras. São
Paulo: Hagnos, 2004, p. 7).
Um irmão cai e logo apontamos o dedo. Mas é
de se perguntar: será que o irmão encontrou alguém na igreja disposto a ouvi-lo
e entendê-lo com graça e verdade? Será que nessas horas maquinamos o mal ou
cogitamos acerca de uma forma de ajudar o irmão caído a voltar para os braços
do Pai?
Nos dias de hoje, a coisa mais rara é
encontrar cristãos dispostos a se submeterem a um discipulado sério e
comprometido com o Senhor primeiramente, com a finalidade de crescer
espiritualmente e ajudar outros no processo.
Muitos querem continuar no lugar da dor,
porque se acomodaram na cadeira do trauma, da separação, da rejeição e da
vitimização do seu histórico de vida, tratando-se como coitadinho. Muitos saíram
das trevas, mas ainda não estão andando na luz; estão na sombra ou usando uma
máscara perfeccionista. Muitos querem fazer de suas obras o centro de sua
espiritualidade.
Estamos na era da conexão digital, mas, ao
mesmo tempo, desconectados do nosso irmão.
Somos cristãos “sem graça”.
Esta palavra é primeiramente para mim.
Tomara que ela sirva para você. Oro para que sejamos achados fiéis no Dia de
Cristo e que Ele nunca nos diga:
22
Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor! Porventura, não temos nós
profetizado em teu nome, e em teu nome não expelimos demônios, e em teu nome
não fizemos muitos milagres?
23
Então, lhes direi explicitamente: nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que
praticais a iniquidade (Mateus 7).
Que a graça de Deus nos salve de nós
mesmos.
Pablo Luiz R. Ferreira
rugidodaverdade.blogspot.com
pablolrferreira@hotmail.com