terça-feira, 28 de junho de 2011

PRECISAMOS MORRER SE QUEREMOS VIVER


Escrito por A. W. Tozer

"Deixa-me morrer - se não eu morro – deixa-me somente ver o Teu rosto". Essa foi a oração de Agostinho.
"Não escondas de mim o Teu rosto", clamou ele numa agonia de desejo. "Oh! que eu pudesse repousar em Ti. Oh! que entrasses em meu coração, e o inebriasses, para que eu esquecesse os meus males, e Te abraçasse, meu único bem."
Este anseio por morrer, afastar do caminho a nossa forma opaca de modo que não ocultasse o amorável rosto de Deus, é um anseio imediatamente compreendido pelo homem de coração faminto. Morrer para não morrer! Não há contradição aqui, pois diante de nós há duas espécies de morte, uma que deve ser procurada e outra que deve ser evitada a todo custo.
Para Agostinho, a visão de Deus desfrutada interiormente era a própria vida, e qualquer coisa menos que isso era morte.
Existir em eclipse total sob a sombra da natureza sem a Presença real era uma condição intolerável. O que quer que escondesse dele o rosto de Deus tinha que ser tirado fora do caminho, mesmo que fosse o seu amor próprio, o seu mais querido ego, os seus mais acariciados tesouros. Daí ele orava: "Deixa-me morrer".
A ousada oração do grande servo de Deus foi ouvida e, como se podia esperar, foi respondida com uma plenitude de generosidade característica de Deus. Ele morreu com a espécie de morte da qual Paulo testificou: "Estou crucificado com Cristo; logo, já não sou eu quem vive, mas Cristo vive em mim; e esse viver que, agora, tenho na carne, vivo pela fé no Filho de Deus, que me amou e a si mesmo se entregou por mim". Sua vida e seu ministério continuaram e sua presença está sempre aí, em seus livros, na igreja, na história; mas, por extraordinário que seja, ele é estranhamente transparente; mal se vê a sua personalidade, enquanto que a luz de Cristo brilha através dela com uma espécie de benéfico esplendor.
Sempre houve os que pensam que para afastar-se do caminho é necessário retirar-se da sociedade; assim, eles rejeitavam todas as relações humanas e iam para o deserto ou para as montanhas ou para a cela do eremita para jejuar, trabalhar e lutar para mortificar a sua carne. Conquanto seu motivo fosse bom, é impossível recomendar o seu método. Pois não é escriturístico crer que a natureza do velho Adão possa ser vencida dessa maneira. É absolutamente cruel morrer por meio de maltratos ao corpo ou deixando definhar os afetos. Só se morre através da cruz.
No coração de todo homem há uma cruz e um trono, e o homem está no trono, enquanto não se coloca na cruz permanecerá no trono. Essa é a essência do desafio do evangelho e o desprezo pelas coisas espirituais, revelado pela grande maioria dos homens, pode ser explicado pela falta de renúncia do próprio eu. Os homens desejam ser salvos naquele grande dia, mas não querem morrer para si mesmos e viver para Deus. Insistem em ficar no trono e negam a Cristo o direito de governá-los, preferindo viver os padrões mundanos do que os padrões evangélicos. O convite da cruz continua sendo endereçado a todos os homens que vivem uma vida infeliz por não gozarem do amoroso domínio de Cristo em suas vidas. Para aqueles que continuam sendo reis em seus pobres corações, o que lhes resta sempre será uma vida de sombras, tristezas sem consolação e esterilidade espiritual. O mais grave de tudo ocorrerá no dia do juízo quando teremos de fitar a face do Reto Juiz e responder sobre essa questão. Para os obstinados que resistirem aos apelos de Cristo, deixando de reconhecer o seu senhorio, restará apenas a condenação eterna.
Se não morrermos para nós mesmos, Cristo não será nosso Salvador e nessa condição perderemos os tesouros eternos que Ele tem preparado para aqueles que o amam. O nosso eu não crucificado nos privará das gloriosas consolações que a fé em Cristo dispensa aos contritos, da comunhão inestimável com os servos de Deus, da intimidade espiritual com o Criador, do louvor incontido diante das perfeições divinas e da visão correta da existência e da eternidade.

[P. S. do Pablo: Espero que tenham gostado deste texto e que vocês se sintam estimulados a conhecerem um pouco mais deste autor, que sem dúvida foi um dos maiores escritores cristãos existentes].
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segunda-feira, 27 de junho de 2011

A UNIDADE DO CORPO DE CRISTO: REFLEXÕES EM EFÉSIOS 4:1-16



         Nos dias atuais, percebe-se que a cada dia se cumpre o quadro apontado pelo apóstolo Paulo em 2 Timóteo 3: 1-5: uma humanidade repleta de maldade e egoísmo, sobrecarregada pelas consequências do pecado, andando sem referenciais de autoridade e paternidade, sem identidade, sem destino e, o pior de tudo, sem amor.
         Jesus assim declara em Mateus 24:12 a respeito dos últimos dias: “E, por se multiplicar a iniquidade, o amor se esfriará de quase todos”.
          Uma sociedade inimiga de Deus, que anda por seus próprios caminhos, carregando o peso dos seus enormes fardos e aumentando a faixa de seus “intocáveis” (ex: doentes, homossexuais, prostitutas, abusados, viciados, órfãos, mendigos, pobres, idosos, deficientes físicos e mentais, dentre muitos outros que tachamos como problemáticos ou repugnantes).
         No meio de tempos terríveis, a Igreja do Senhor mais do nunca é desafiada a resplandecer o caráter de Cristo a fim de resgatar os perdidos e tratar de suas feridas como Ele tratou: em amor.
         Para tanto, agir com unidade é fundamental, concentrando esforços e recursos para as boas obras, as quais Cristo nos predestinou desde antes da fundação do mundopara que as fizéssemos (Ef 2:10).
         Mas, o que se observa nos dias de hoje, é que nunca a igreja esteve tão desunida e despida do caráter de Cristo. Crentes que não amam, não perdoam, não têm identidade, não têm destino, não têm propósito, não são nada mais do que aquilo que ocupa um banco de templo, uma massa física inoperante para o reino de Deus, que não estão dispostas a pagar o preço para a reconciliação em todas as áreas de sua vida, resultando em uma série de pessoas que não experimentam uma vida avivada pelos frutos e dons do Espírito Santo.
         Não se pode ignorar a realidade dos dias de hoje: o inferno está unido como uma milícia, armada até os dentes para destruir a vida das pessoas, para arrasar as nossas famílias, para mutilar as nossas crianças, degradar os nossos jovens e adolescentes e construir uma geração de adultos inseguros, irresponsáveis e egoístas, sem conhecimento e experiência do verdadeiro amor, o amor do eterno Pai.
         Estamos ocupados muitas vezes em aprender a Palavra de Deus, de acordo com a nossa doutrina, guardamos para nós e muitas vezes desenvolvemos uma mentalidade ácida e crítica em relação às demais denominações.
         Esquecemos que o evangelho é vivido na simplicidade e em amor e para um resultado útil: uma fé operosa e transformadora da realidade emque vivemos, a fim de ganharmos os perdidos para Jesus e estabelecer o Reino de Deus, através de nosso testemunho pessoal.
Não lembramos da realidade de que nada vale mais do que o fato de que o amor e o perdão que podemos liberarpodem transformar a vida daqueles que estão ao nosso alcance. É algo que dinheiro nenhum pode pagar.
Temos levado chicotadas todos os dias não por causa do nosso testemunho em Cristo, mas pela falta de testemunho pessoal.
O texto que se toma por base para se expor sobre a unidade cristã é a Carta de Paulo aos Efésios, Capítulo 4, versículos 1 a 16.
A epístola aos Efésios foi escrita pelo apóstolo Paulo não para corrigir algum erro doutrinário específico, uma conduta moral reprovável ou combater alguma heresia, como se percebe, por exemplo, nas cartas aos Coríntios, mas visa, sobretudo, instruir os crentes nas verdades mais sublimes do Evangelho e levá-los a uma fé madura e operosa, dentro de uma formatação do caráter e das virtudes cristãs a fim de que os mesmos pudessem andar de modo digno com o chamado de Deus (v.1).
Discorrer sobre unidade é ao mesmo tempo fácil e difícil, porque tudo no evangelho é unidade: unidade na fé, no amor, no serviço, no destino, no caráter, nas virtudes; partilhamos unidade até nas provações e tentações a fim de que sejamos aperfeiçoados.
Apenas para situar o leitor, abordar-se-á a unidade sobre três ângulos: a unidade na identidade, no amor e no serviço.
Unidade na identidade
Este trecho da epístola nos representa como o Corpo de Cristo, mostrando que temos uma unidade orgânica, embora diversas sejam as funções dos membros. Temos o mesmo Senhor e a mesma fé nEle (v.5), o mesmo Espírito Santo nos guia e nos capacita e nos dá uma mesma esperança (v.4).
Todos um dia recebemos o mesmo chamado para fazer parte da família de Deus, tendo Ele como nosso Pai (v.6) e andar de modo digno do chamado que recebemos (v.1) e proclamar ao mundo sobre Ele e com quão grande amor Ele nos amou, entregando Jesus para morrer por nós quando ainda éramos pecadores e condenados ao inferno a fim de nos dar uma nova vida abundante e eterna, concedendo-nos a sua graça e misericórdia (v.7).
Essa é uma verdade tão poderosa que precisamos de uma busca intensa para que o Espírito Santo aplique-a em nossos corações a fim de que ela destrua as mentiras de Satanás contra nós, tendo em vista que a grande arma do inimigo tem sido abortar a nossa identidade e destino, fazendo-nos ter uma existência vazia, sem direção, cheia de dúvidas e inseguranças.
O adversário tem investido pesado em retirar de nós os vínculos de referência familiar, de paternidade, de amor, de acolhimento, já que todos esses referenciais nos conduzem ao amor de Deus.
A grande verdade é que somos preciosos para Deus e a nossa vida custou o sangue vertido de Cristo e a morte vergonhosa na cruz.
O plano de Deus é nos reconciliar com Ele para que possamos ser verdadeiramente livres e experimentar seu amor e uma vida de adoração e plenitude. Só assim seremos completos e cumpriremos o fim para o qual fomos criados.
Somos preciosos e pertencemos àquele que nos amou primeiro: Jesus. Não somos indesejados, um acidente, um incômodo. Não somos inadequados ou incapazes, mas Deus nos criou para expressar seu amor aos perdidose aumentar ainda mais a nossa família. Não somos inferiores, mas a coroa da criação. Somos feitos à imagem e semelhança de Deus e nEle encontramos nossa razão de ser.
Oro para que o Espírito Santo testemunhe isso de forma poderosa em sua vida, porque nada há para mim de mais precioso do que vê-lo andando com o Pai com o fardo leve, transformado, livre, amado e crescendo, sendo virtuoso e operoso para Jesus, sendo manso, paciente e humilde, dando suporte para que outros vivam a vida de Deus.
Confesse a Deus e aos homens o que tem te afastado do amor de Deus; exponha o tem te ferido, o que tem te deixado sem esperança, as áreas de sua vida que precisam do toque transformador do Espírito de Deus; exponha para que a luz afaste as trevas do segredo, onde o diabo tem amarrado a muitos, a fim de recebermos cura. Libere perdão e decida pelo amor. Resgate a sua identidade em Cristo, chegando a Ele em sinceridade. Deus te ama e vai te ajudar.
Por fim, o versículo 3 assim veicula: “procurando cuidadosamente manter a unidade do Espírito no vínculo da paz” (versão King James atualizada – KJA).
Goze de paz com o criador. Paz significa literalmente “ser um com alguém” (cf. CHAPMAN, Gary. As Cinco Linguagens do Amor de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2006, p. 196-197). É o desejo de Deus que sejamos um só com Ele, completos, a fim de que lancemos fora toda a ansiedade e medo, aconchegando-nos nEle. É uma relação que exige investimento e cultivo com em qualquer relacionamento que temos. Temos de cultivá-lo e colheremos os frutos do caráter de Cristo (Gálatas 5:22-23): “amor, alegria, paz, paciência, benignidade, bondade, fidelidade, mansidão e domínio próprio” (KJA).
Unidade no amor
Este é o caminho sobremodo excelente (1Co 12:31b e, em outras versões, 1 Co 13:1). É fruto do Espírito e o dom supremo.
De posse da identidade de Deus e, prosseguindo em cultivar seus atributos e virtudes, lancemo-nos em conhecê-lo cada vez mais, aprofundando-nos em seu amor.
Jesus resume toda a lei em amar a Deus de todo o coração e amar ao próximo como a si mesmo (Mt 22:34-40), proclamando-o como o maior mandamento.
Não nos enganemos, o amor é prioridade no reino dos céus. O amor a Deus e ao próximo.
Mais uma vez insisto: não nos enganemos uma vez que a revelação bíblica é tão intensa que chega ao ponto de afirmar que tudo aquilo que nos impede ter comunhão com os homens, também nos impede de ter comunhão com Deus, por menor que seja. Afinal, de uma mesma fonte não pode jorrar águas amargas e doces (Tg3:11).
A epístola de Tiago assim diz: “Caros irmãos, como crentes em nosso Senhor Jesus Cristo, não façais acepção de pessoas, tratando-as com preconceito ou parcialidade” (Tg 2:1 - KJA).
Quem não ama o próximo permanece em trevas já que o amor está na luz que Deus emana (cf. 1 Jo 2:9).
Roy Hession, comentando as passagens de 1Jo 2:9, 3:14-15, 4:20, assim nos subsidia:
Tudo que é obstáculo entre mim e outra pessoa, por menor que seja, é obstáculo entre mim e Deus. Temos verificado que, onde essas barreiras não são derrubadas, imediatamente, elas se tornam cada vez maiores, até o ponto de nos separar de Deus e do nosso irmão, por aquilo que parece ser uma verdadeira muralha. Evidentemente, se permitimos entre nós a nova vida, ela terá de se manifestar por uma união íntima com Deus e nosso irmão, sem qualquer barreira entre nós e eles (A Senda do Calvário. Venda Nova: Betânia, s/d, p.23).
Temos que pagar o preço da sinceridade para que tenhamos comunhão entre nós e Deus. Isso é andar na luz (1Jo 1:7). Andar em trevas significa esconder o que somos. O pecado nos leva a nos escondermos, tal como Adão e Eva. Andemos na luz, sejamos sinceros e aceitemos a confrontação. Rompamos as barreiras com a verdade, com a confissão dos pecados, com o perdão, com a convivência em amor, humildade e mansidão, dando suporte para que todos possam crescer e frutificar juntos (Ef 4:2).
É aqui que voltamos ao texto de Efésios 4, principalmente nos versículos 2, 15 e 16. O amor está ligado, quando se trata de comunhão, em: dar suporte para que nosso irmão cresça na fé (v.2), seguir a verdade, a fim de que cresçamos nos atributos e virtudes de Cristo (v.15), sendo verdadeiras “juntas”, articuladores do Reino de Deus para que estejamos sempre unidos e possibilitando que o outro realize a sua função e ministério (v.16).
É na prática do amor e da comunhão que nossa mente mesquinha e má é transformada pelo Espírito Santo e frutificamos.
Temos de nos apegar a esta verdade do amor já que a obra de Satanás é semear a discórdia, as contendas, as divisões, infundir um espírito de competição no meio do povo de Deus.
Unidade no serviço
Unidos na identidade em Cristo e no amor, somos mais fortes e podemos conquistar mais vitórias para o Reino de Deus. É aí que entra em cena a unidade no serviço. Assim diz o livro do profeta Daniel: “(...) mas o povo que conhece ao seu Deus se tornará forte e ativo” (Dn11:32b – versão Almeida Revista e Atualizada - ARA).
Sem identidade e amor a Deus, não há um verdadeiro serviço para o Senhor Jesus. A verdade de quem somos em Deus, enraizada em nosso ser, que produz o amor e a sede de ser como Ele é nos impulsiona a servir de todo o coração.
Este é serviço que Deus deseja, o que é feito com amor, como ato de adoração; só assim poderemos ganhar os perdidos para Jesus; não adianta as muitas palavras e pregações sobre o Deus de amor, mas as pessoas precisam ver em nós o amor de Deus e o seu caráter a fim de que sejam impactadas com o nosso testemunho e digam: “Eu quero esse Jesus que você vive!”.
Resplandecer como a luz é o nosso destino, guiar outros para a luz, a nossa missão. Esta é uma vereda muito antiga que Deus estabeleceu, tal como nos diz o profeta Daniel: “Os que forem sábios, pois, resplandecerão como o fulgor do firmamento; e os que a muitos conduzirem à justiça, como as estrelas, sempre e eternamente” (Dn 12:3-ARA).
Conduzir outros para a justiça e o amor de Cristo é a nossa missão e é por isso que diversos são os dons e serviços, porém somos unidos no serviço já que temos o mesmo propósito.
O texto de Efésios nos acrescenta que o Senhor Jesus designou uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, “com o propósito de aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, para que o Corpo de Cristo seja edificado, até que todos alcancemos a unidade da fé e do conhecimento do filho de Deus, e cheguemos à maturidade, atingindo a medida da estatura da plenitude de Cristo” (Ef 4: 11-12 - KJA).
Somos santos em aperfeiçoamento e o propósito de Deus é que, na diversidade de dons espirituais e ofícios desempenhados, todos sejam edificados e fortalecidos na fé, frutificando no caráter cristão, tendo uma relação pessoal e íntima com o nosso Salvador e nos lançando para evangelizar.
Por fim, Ef4:14 nos traz outro benefício da unidade, qual seja o de que, com a edificação do Corpo de Cristo, poderemos desfazer as mentiras de Satanás, quando este tenta destruir a Igreja com os erros e heresias dos falsos profetas, a fim de que a Verdade sempre prevaleça.
Uma advertência final
Após colher todas essas grandes verdades entregues pelo Apóstolo Paulo para a Igreja de Éfeso, não esqueçamos o que anos depois Jesus disse a respeito da mesma em Apocalipse 2:1-7.
A igreja se aperfeiçoou, perseverou na doutrina, nas boas obras, não tolerou os falsos profetas e as imoralidades, trabalhou árduo e suportou toda a sorte de sofrimento em nome de Cristo.
Porém o Senhor da Igreja disse que tinha contra eles o fato de que tinham abandonado o primeiro amor (v.4) e pede que se arrependam para que o seu candelabro não seja removido (v.5).
Amor é luz e sem ele não podemos fazer nada para Jesus. Que não percamos o ardor do primeiro amor por Jesus. Ele gosta desse amor e se deleita em nós quando o temos. É esse amor que nos traz a “árvore da vida” para uma linda e eterna comunhão com o Pai celeste.
Quem tem ouvidos, compreenda o que o Espírito declara às igrejas: ‘Ao vencedor darei o direito de comer da árvore da vida, que está no paraíso de Deus’” (Ap 2:7 – KJA).
Amém.



Pablo Luiz R. Ferreira
rugidodaverdade.blogspot.com


segunda-feira, 20 de junho de 2011

DEUS E O SANGUE NO VELHO TESTAMENTO: REFLEXÕES




 
Em Gênesis 9:3-4, Deus faz aliança com Noé, assim dizendo: “Tudo o que se move e vive ser-vos-á para alimento; como vos dei a erva verde, tudo vos dou agora. Carne, porém, com a sua vida, isto é, com seu sangue, não comereis” (grifo nosso).
Deus proibiu Noé de comer o sangue dos animais em virtude de este simbolizar a vida. A lei de Moisés também traz o mesmo mandamento em relação ao povo de Israel (Deuteronômio 12:16).
Nosso Deus é um Deus de pactos, de aliança e tem sido assim durante toda a história humana.
Quando o homem pecou no Jardim do Éden, toda a raça humana ficou condenada a morte física e espiritual e o relacionamento com Deus foi rompido. O homem passou a ser morto espiritualmente e dominado pelas paixões da carne, passando a ser inimigo de Deus e condenado ao inferno e a morte eterna.
Contudo, apesar da queda do homem, Deus, segundo a sua soberana vontade e para cumprir o seu eterno propósito, resolveu fazer uma aliança com o homem, a fim de lhe propiciar a salvação eterna na pessoa do nosso Senhor Jesus Cristo, o qual, pela sua morte de cruz e derramamento de sangue, livrou-nos do poder do pecado e da morte, garantindo-nos o livre acesso a Deus.
No Velho Testamento, encontramos o sacrifício de animais como símbolo do sacrifício de Jesus. Deus instituiu o sistema de sacrifícios de animais apontando para o sacrifício de Cristo, que, de uma vez por todas, pagou a dívida do nosso pecado e nos concedeu a vida eterna (Hebreus 7:20-28; 8:1-13; 9:11-28).
O sangue simboliza a vida e o pecado trouxe a morte e uma dívida contra a raça humana, a qual se não fosse paga, trar-nos-ia a punição eterna. A única forma de pagar a dívida pelo pecado é o derramamento de sangue, conforme se lê em Hebreus 9:22: “Com efeito, quase todas as coisas, segundo a lei, se purificam com sangue; e, sem derramamento de sangue, não há remissão” (= perdão).
Deus é justo e a sua justiça faz parte do seu caráter, o qual não muda, não podendo Ele negar-se a si mesmo. A dívida do pecado precisava ser paga. O pecado não poderia ser simplesmente esquecido. Era necessário o derramamento do sangue, não o sacrifício de qualquer vida e o derramamento de qualquer sangue, mas de um sacrifício puro, aceitável e perfeito para que a dívida pudesse ser paga satisfatoriamente, o que só foi cumprido plenamente em Jesus Cristo, mostrando que, em que pese haver um decreto de condenação e de dívida e de Deus não poder negar a sua própria justiça, o Senhor mesmo pagou a nossa dívida, concedendo-nos a vida eterna. Isso é o mais belo no caráter do Senhor: ver que o amor, a misericórdia e a graça pesaram mais na balança da justiça de Deus.
Analisando a Lei de Moisés, no livro do Levítico (Lv), encontram-se cinco tipos de sacrifícios e ofertas: 1- o holocausto (Lv 1 e 6:8-18); 2- a oferta de manjares (Lv 2); 3- a oferta pacífica (Lv 3 e 7:11-21); 4- o sacrifício pelo pecado (Lv 4); 5- a oferta pela culpa (Lv 7:1-10).
A essência dos sacrifícios de animais com derramamento de sangue está em Levítico 1:3-5:

Se a sua oferta for holocausto de gado, trará macho sem defeito; à porta da tenda da congregação o trará, para que o homem seja aceito pelo Senhor. E porá a mão sobre a cabeça do holocausto, para que seja aceito a favor dele, para a sua expiação. Depois imolará o novilho perante o Senhor; e os filhos de Arão, os sacerdotes, apresentarão o sangue e aspergirão ao redor sobre o altar que está diante da porta da tenda da congregação.

O holocausto também poderia ser de carneiros ou cabritos (Lv 1:10) ou mesmo de aves (Lv 1:14).
Conforme já se mencionou acima, todos esses sacrifícios e ofertas apontam para o sacrifício de Cristo. Deus usa realidades físicas para mostrar princípios e realidades espirituais. Isto porque o sangue de animais nunca teve o poder de garantir de forma eficaz o pagamento da dívida do pecado (Hebreus 10:1 e 4), mas somente o sangue de Cristo derramado na cruz (Hb 9:14).
Dos sacrifícios, inclusive o de Cristo, podem ser extraídos os seguintes princípios:
1- Restauram a comunhão entre Deus e o homem (Lv 1:3: “para que o homem seja aceito perante o Senhor”). Com o sacrifício de Cristo, somos reconciliados com Deus e nos tornamos seus filhos. Ao invés de inimigos de Deus, ao recebermos Jesus como nosso salvador, nós passamos a ser templos do Espírito Santo, adotados pelo Senhor como filhos e recebendo dEle uma herança eterna (cf. Romanos 5:9-10 e 8:12-17). Isso mostra a necessidade de buscarmos e recebermos uma nova identidade em Cristo: tomar posse da nossa condição de filho de Deus e sermos completamente guiados pelo seu Espírito Santo para fazermos a obra do Senhor, ganhando vidas. Não somos inadequados, sem valor, sem destino, mas somos preciosos para Deus e amados por Ele e destinados ao Céu e para fazermos grandes obras para Jesus. Podemos ter intimidade com o nosso querido Criador e Pai.
2- Apontam para a necessidade de que o ser a ser oferecido como sacrifício seja perfeito. Em Lv 1:3, vemos que o animal a ser sacrificado será “macho sem defeito”, o que aponta para Jesus que era perfeito e sem pecado, “santo, inculpável, sem mácula, separado dos pecadores e feito mais alto do que os céus” (Hebreus 7:26). Isso aponta para a necessidade de santidade em nossas vidas. Ser santo não significa que não pecaremos mais, entretanto, mostra que, apesar de pecadores, somos aceitos por Deus e cumprimos os seus mandamentos porque o amamos, sendo separados do pecado e do mundo. Deus diz: “vós sereis santos, porque eu sou santo” (Lv 11: 45). A santidade faz parte da nossa nova identidade em Cristo. Faz parte de sermos semelhantes a Cristo.
3- Satisfazem a necessidade da justiça de Deus, se realizados de acordo com os mandamentos que o próprio Senhor estabeleceu, pagando a dívida do pecado (Lv 1:4: “expiação” = libertar da culpa cumprindo a pena; purificar-se de crimes ou pecados).
Com o sacrifício de Jesus, o nosso pecado foi pago e coberto pelo seu sangue, temos a garantia da vida eterna e, se o recebemos como salvador, não temos porque carregar o peso da condenação. Não temos mais porque andarmos sob o peso do medo, da vergonha, da rejeição, da inferioridade, da timidez, da tristeza e da depressão: tudo isto faz parte da identidade que o diabo quer plantar em nossos corações para que não tenhamos vida em Deus. A verdade de Deus é que, pelo sangue de Jesus, somos purificados de toda a injustiça do pecado. Jesus pagou o preço da nossa liberdade.
Isto também mostra o fato de que não podemos ter um relacionamento com Deus de qualquer jeito; temos que andar de acordo com os mandamentos que Deus nos deu. Temos de andar em obediência a Deus em tudo e honrarmos ao Senhor.  
4- São feitos em lugar do pecador, substituindo-o (Lv 1:4: “E porá a mão sobre a cabeça do holocausto, para que seja aceito a favor dele”). O animal e o Cordeiro de Deus recebem o castigo que, em verdade, o pecador deveria sofrer. Nós é que deveríamos sofrer a morte e a punição eterna pela desobediência a Deus. A aceitação pelo Senhor do sacrifício de Jesus em nosso lugar mostra a misericórdia e a graça de Deus. Em Isaías 53:4-6, vemos que Jesus levou sobre si o castigo que estava destinado a nós; Jesus levou sobre si na cruz o nosso pecado, as nossas dores e doenças, o que nos indica que Deus nos restaura das nossas dores e doenças físicas, psicológicas e espirituais, libertando-nos das nossas prisões da carne, das emoções e até de demônios que estejam atuando em nossas vidas. Em Jesus, podemos ser sarados de tudo que nos castiga e nos faz sofrer, desde que tomemos posse pela fé do sacrifício de Cristo.
5- Indicam a necessidade de tomarmos parte no sacrifício, fazendo o que nos cabe. Em Lv 1:2, vemos que o homem toma parte no sacrifício, assumindo a responsabilidade de trazer o animal para o sacrifício em favor dele.
Com essa atitude o pecador publicamente assumia que estava trazendo um animal para o sacrifício em favor de pecados que ele tinha cometido; assumia que ele era pecador e que precisava ser limpo e perdoado; todos podiam ver que ele trazia o animal.
Isso indica a necessidade de assumirmos que somos pecadores diante de Deus, que precisamos de restauração, de arrependimento, de perdão, de cura. Temos de assumir a nossa responsabilidade pelos nossos pecados e não jogar a culpa em outras pessoas.
Temos que confessar os nossos pecados uns aos outros e orar uns pelos outros para que possamos receber cura nas áreas de nossa vida que precisam de restauração, conforme podemos ver em Tiago 5:16. Temos de viver de forma transparente, porque o pecado escondido, não confessado e não abandonado nos traz morte, mas a confissão dos pecados nos traz vida e cura e a nossa consciência é liberta do peso da vergonha e da culpa (Salmo 32:1-6). Temos que ser transparentes com os nossos líderes, confessando nossos pecados a eles a fim de sermos curados e viver na liberdade que Cristo quer que vivamos.  
6- Mostram que o pecado nos custa o preço da vida. Em Lv 1:5, vemos que o novilho era imolado. Imolar significa matar em sacrifício. O pecado custa muito caro. Custou a preciosa vida de Jesus e custa a nossa vida e nos traz a morte e punição eterna caso não nos arrependamos e não nos apropriemos do sangue de Cristo em arrependimento e fé. O pecado nos tira a liberdade e a chance de vivermos uma vida feliz e vitoriosa em Cristo, cheia de paz e de esperança. O pecado rouba a nossa identidade em Cristo. Temos que, de fato, romper com tudo o que nos faz pecar: temos de nos afastar de relacionamentos, coisas, prazeres, sentimentos e vícios que nos afastam de Deus e buscar arrependimento e mudar de vida (ex: sexo impuro, amizades que nos fazem pecar, drogas, ódio, rancor, ressentimento, etc.).
7- Apontam que a culpa e a condenação são retirados de nós com o derramamento de sangue do sacrifício, justificando-nos diante de Deus e purificando-nos de toda a injustiça. Conforme já exposto, o sacrifício de Cristo livrou-nos da morte eterna, não havendo mais qualquer acusação ou condenação contra nós; pelo sangue de Cristo, somos declarados justos. O sacrifício de Cristo apaga todo o peso do passado. Não importa o que fizemos ou o que fomos no passado, o sangue de Jesus nos lava e não temos mais qualquer dívida em relação a isto quando entregamos a nossa vida a Deus (ver Rm 8:1-11); não recebemos espírito de escravidão em relação ao nosso passado, mas a liberdade no Senhor.
Lamentavelmente, muitos de nós estamos presos às prisões do passado, sofrendo o peso da culpa, da vergonha, do medo, da rejeição, da depressão, os complexos de inferioridade, da acusação do diabo. Temos por causa disso uma personalidade deformada, dominada por egoísmo, espírito de competição, necessidade extrema de se auto-afirmar, ira com facilidade e falta de amor e sem misericórdia. São feridas na alma que causam uma mente e uma personalidade doente, frutos do pecado; feridas que precisam ser espremidas e curadas com óleo (ver Isaías 1:1-9).
Para que as feridas da alma sejam espremidas e curadas, é necessário arrependimento e confissão dos nossos pecados para Deus e uns aos outros e receber oração em nosso favor através de súplicas e intercessão (Tg 5:16).
Também temos que aceitar a confrontação dos irmãos maduros na fé. Nossos líderes vão dizer muitas coisas que vão nos deixar contra a parede, coisas difíceis de ouvir a respeito de nós e de como nos comportamos, mas temos de aceitar o confronto e mudar de vida, buscando mais a Deus. Só assim poderemos receber a renovação da nossa mente por meio do Espírito Santo, que opera uma mudança sobrenatural em nós (ver Rm 12:2), ou seja, a mudança da forma como pensamos e avaliamos as coisas e as pessoas para ter a mente de Cristo e abandonar uma mentalidade má e corrupta.
Quando suportamos a confrontação, abandonando as nossas próprias razões e tomando as atitudes certas e mudando de vida, somos transformados a semelhança de Cristo e alcançamos a misericórdia de Deus (ver Salmo 141:5) e temos a nossa consciência livre e lavada da culpa do pecado e das obras mortas e seremos verdadeiramente livres para cumprir plano do Senhor em nossas vidas, para glorificá-lo e amá-lo de todo o nosso coração (Hebreus 9:11-14).
Textos mais importantes no velho testamento:
Gn 4:10
Gn 9:4
Gn 9:6
Gn 22
Ex 24:1-11
Ex 29:10
Lv 1-9
Dt 12:16
     
Amado leitor, desejo que essas verdades lhe ajudem a viver uma vida feliz, livre e abundante em Deus. Que a graça e a misericórdia de Jesus sejam derramadas sobre a sua vida, trazendo cura e libertação nas áreas que você precisa avançar, uma nova esperança de uma vida restaurada e da verdade de que somos preciosos, aceitos e amados por Deus.
Que Deus o abençoe.


Pablo Luiz Rodrigues Ferreira
Elaborado de 31.08.2009 a 02.09.2009